A morte do menino de apenas um ano e sete meses por maus-tratos, no último domingo, é apenas um pequeno reflexo de uma dura realidade. Somente o Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba, onde a criança foi atendida, registrou o atendimento de 374 crianças e adolescentes vítimas de violência e maus-tratos no ano passado. Em 2012, até 4 de março, foram 51 casos de suspeitas de maus-tratos atendidos no hospital.
“Quando a criança chega ao hospital, existe uma investigação médica sobre o que aconteceu com ela. Os profissionais fazem questionamentos para a criança e o adulto que está acompanhando. Até para verificar se há contradição. Tem casos de histórias mal contadas, que não batem com o que a parte clínica está indicando”, explica o psicólogo Bruno Jardini Mader, do setor de psicologia do Hospital Pequeno Príncipe.
Também são observados os tipos de lesão. Por exemplo: uma criança quebrar um braço pode até ser considerado normal, pois anda de bicicleta, brinca, se pendura em árvore. Mas uma fratura de fêmur, por exemplo, pode causar estranheza na equipe médica. O mesmo acontece quando a criança tem várias lesões pelo corpo. Os profissionais também observam o comportamento da criança e do adulto, além da relação entre os dois.
Em caso de suspeita de maus-tratos, o hospital notifica a rede municipal de proteção, que envolve uma série de órgãos para proteger as vítimas. Foi o que aconteceu no caso da criança que morreu no último domingo. A mãe adotiva dela, de 27 anos, foi presa diante das constatação de lesões e do discurso sobre os motivos dos machucados, que mudava a toda hora.
A vítima de maus-tratos passa por acompanhamento psicológico ainda no período de internação. De acordo com Bruno Mader, depois da alta no hospital, a equipe do setor de psicologia continua em contato com a criança. “Ela que tem esta marca não precisa perder o resto da vida”, considera o psicólogo.