A Comissão Pastoral da Terra (CPT) vai iniciar uma campanha internacional para acabar com as milícias no campo no Paraná. A intenção da comissão é fazer com que o Estado sinta-se sensibilizado pela comunidade para combater as organizações que causam mortes de trabalhadores sem-terra. Inicialmente, a campanha deve atingir dez entidades internacionais de direitos humanos em sessenta países.

O secretário executivo da CPT no Paraná, Jelson Oliveira, explicou que a comissão está mandando correspondências para as entidades, para que elas peçam a seus filiados que enviem e-mails e cartas ao Estado do Paraná pedindo o combate às milícias. Oliveira disse que os conflitos de hoje no Paraná são herança do governo Lerner. “É o pêndulo da violência. Anteriormente os sem-terra sofriam violência da própria polícia, que protegia o latifúndio. Hoje o governo do Estado trata a questão do campo como um problema social e não policial. Os latifundiários acabam se sentindo na necessidade de criar milícias para defender o que é indefensável, os latifúndios improdutivos”, afirmou Oliveira.

Segundo a CPT, durante os oito anos do governo Lerner, dezesseis trabalhadores foram assassinados, aconteceram 31 tentativas de assassinato, 502 prisões, sete pessoas torturadas, 324 lesões corporais, 47 ameaças de morte e um seqüestro, em 134 ações de despejo. A CPT reclama também do Poder Judiciário. Conforme a comissão, 1.282 trabalhadores foram assassinados no Brasil desde 1985. Desses, 121 casos foram levados a julgamento, sendo que 14 mandantes foram julgados e sete condenados.

Incêndio

A coordenação do Movimento dos Trabalhadores Rurais SemTerra (MST) informou que na noite de quarta aconteceu um incêndio suspeito no canavial da Fazenda Nossa Senhora das Graças, em Miraselva. O fogo teria destruído três barracos dos sem-terra que estavam acampados na estrada próxima à fazenda. A Polícia Militar da cidade informou que o fogo é praxe na colheita da cana e que não foi comunicada sobre fogo nos barracos.

Morte

Foi confirmada ontem, às 16h, no Hospital São Vicente, em Guarapuava, a morte de Anaro Lino Vial, de 50 anos, baleado durante o confronto com seguranças da Fazenda Coqueiro, em Foz do Jordão, esta semana. Vial já estava com morte cerebral desde quarta-feira.

Oito seguranças foram indiciados por duplo homicídio, pois Paulo Sérgio Brasil, 36, morreu no dia do conflito. Hélio Feitosa Lima, Elton Feitosa de Lima, Antônio Carlos Trevisan, Jilson Antônio Bielak, Nivaeltes Sebastião Silva Ferraz, Sérgio Lopes Vieira e Isaías de Paula Cordeiro estão presos em Guarapuava. Já Nelson Cristiano Gonçalves Corrêa está na delegacia de Pato Branco.

O sem-terra Antônio Carlos Moreira Moreno também está preso em Guarapuava, acusado de tentativa de homicídio.

Governo do PR investiga suposto golpe

O secretário do Trabalho, Emprego e Promoção Social e presidente da Comissão de Mediação de Questões da Terra, padre Roque Zimmermann, solicitou ontem ao secretário de Estado da Segurança Pública, Luiz Fernando Delazari, que inicie investigação visando esclarecer e prender duas pessoas que, supostamente integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais SemTerra (MST), estariam pedindo dinheiro a fazendeiros da região de Ponta Grossa para evitar que o movimento invadisse suas terras.

Padre Roque conversou também com o coordenador estadual do MST, Roberto Baggio, que negou veementemente que essas duas pessoas pertençam ao movimento. De qualquer forma, os dois secretários esperam que a polícia consiga prender ambos em breve. “Isso é crime e será combatido pela Secretaria de Segurança Pública e pela Comissão de Mediação, não importa a que grupo essas pessoas estejam ligados, se é que estão”, declarou o secretário.

Para facilitar as investigações, padre Roque está pedindo aos proprietários de terra que tenham sido vítimas do referido golpe que entrem em contato com a Polícia Civil e formalizem a denúncia. “Esse tipo de acontecimento aumenta a tensão no campo e prejudica nosso trabalho de mediação de conflitos”, concluiu.

Assentamentos provisórios

O secretário anunciou o início da instalação do primeiro assentamento-escola do Paraná, que funciona na fazenda da Embrapa, em Ponta Grossa. 150 famílias estão sendo instaladas no local para participar de uma experiência inédita no país. “Assentar sim, mas qualificar primeiro para ter êxito depois”, essa é a filosofia proposta pelo padre Roque, no mês passado, ao ministro extraordinário da Reforma Agrária, Miguel Rosseto, ao sugerir a criação de espaços de capacitação das famílias que querem terra para plantar no Paraná.

A proposta do assentamento-escola é simples. Numa espécie de agrovila as famílias viverão próximas umas das outras, tornando mais barata a infra-estrutura como água, luz e saneamento básico. Essas famílias terão escola, posto de saúde e salão multiuso para reuniões, cursos e cultos; cultivarão um hectare de terra em regime particular e o restante será para lavoura coletiva, orientada por técnicos agrícolas.

Durante dois anos, os agricultores receberão assessoria técnica e apoio do governo para cultivar a terra e aprender a gerenciar a produção. No fim do prazo, as famílias serão encaminhadas para um assentamento definitivo, que está sendo providenciado em parceria entre o governo estadual e o federal. “Isso prevenirá aqueles casos em que o agricultor recebe a terra mas acaba não conseguindo extrair dela o seu sustento”, explica padre Roque.

A instalação do primeiro assentamento-escola em Ponta Grossa foi antecipada devido a uma situação de emergência. As 150 famílias estavam acampadas na beira da estrada aguardando a liberação da fazenda da Embrapa para o projeto. Um incêndio, no entanto, destruiu os barracos e matou animais dos agricultores. O governo então, por solicitação de padre Roque, decidiu autorizar o retorno das famílias para a fazenda da Embrapa. “Fazia muito mais sentido do que ajudá-los a reconstruir seus barracos em um local provisório”, explica.

A próxima etapa da instalação do assentamento-escola será a construção de casas para os agricultores e de demais itens de infra-estrutura básica. A instalação do assentamento deve também contribuir com a diminuição da tensão no campo. “Essa é nossa principal meta hoje: evitar que ocorram mais mortes no campo, além de criar alternativas para evitar os confrontos entre sem- terra e fazendeiros”, disse padre Roque.

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