O corpo da fundadora e coordenadora internacional da Pastoral da Criança, Zilda Arns Neumann, deve chegar ainda hoje ao Brasil. Ela morreu no terremoto que abalou o Haiti na última terça-feira.
A médica pediatra e sanitarista estava no país da América Central para participar de uma conferência religiosa e receber um prêmio, concedido pela Universidade de Notre Dame, dos Estados Unidos. Zilda Arns tinha 75 anos. Deixou cinco filhos e dez netos.
Zilda estava fazendo um discurso em uma igreja quando a estrutura do local veio abaixo, matando-a na hora. Quem encontrou o corpo foi a embaixatriz do Brasil em Porto Príncipe (capital do Haiti), Roseana Teresa Aben-Athar Kipman.
O senador Flávio Arns (PSDB/PR), sobrinho de Zilda, recebeu ontem a notícia da morte pelo chefe de Gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho, por volta das 10h. Logo em seguida ele embarcou em um avião da Força Aérea Brasileira que levou autoridades para o Haiti.
Um dos filhos de Zilda, coordenador nacional adjunto da Pastoral, Nelson Arns Neumann, informou que o velório será realizado na sede da Pastoral da Criança, em Curitiba (no bairro Mercês), e o enterro no Cemitério do Água Verde, onde também estão enterrados o marido de Zilda (falecido em 1978), o primeiro filho do casal (morto ainda pequeno) e a filha mais nova, Sílvia, morta em um acidente de trânsito com 30 anos. Sereno, Nelson estava ciente de que a mãe cumpriu com a sua missão caridosa.
“Ela era muito persistente. Acho que se ela soubesse que iria morrer no Haiti, iria do mesmo jeito. Agora sabemos que ela está com Deus”, disse o filho. Persistência que ficou também na memória de sua secretária direta na Pastoral, Lucimara Trinkel. “Ela tinha um vigor impressionante”, disse.
Para Nelson, uma das maiores homenagens a se fazer para sua mãe é dar continuidade aos trabalhos da Pastoral, que atende hoje quase dois milhões de crianças e gestantes pobres, em quatro mil municípios brasileiros. A Pastoral do Idoso, por sua vez, atende 170 mil idosos.
“O mais interessante é que a doutora Zilda propiciava que cada líder voluntário contribuísse na sua comunidade sem prejudicar a sua família, os seus afazeres. Ela também sempre buscava apoio científico de universidades para fazer tudo muito bem feito. Ela dava o devido valor a cada ser humano que atendia”, disse Nelson.
Uma das coordenadoras da Pastoral em Curitiba, Amélia Allessi, parecia não acreditar na morte de Zilda. Para ela, que esteve com a médica pela última vez no dia 17 de dezembro, a humildade da sanitarista é o que vai ficar na sua memória.
“Ela entendia, e me fez entender também, que fazer caridade é se doar, e não só dar dinheiro. Ela sabia falar com as pessoas na linguagem delas”, declarou. Zilda viajou para ao Haiti acompanhada da irmã Rosângela Altoé, que passa bem. Zilda Arns voltaria ao Brasil amanhã.