Dia das Mães

Conta-se que mãe só existe uma. Não é verdade!

Conta-se que mãe só existe uma. Não é verdade! Existem vários modos de filiação e famílias dos mais diferentes tipos. Assim, quando eu escrever “mãe”, na maioria das vezes, leia “o cuidador principal”. Dizem que “ser mãe é padecer no paraíso”. Também é bobagem. Mãe não apenas padece (sim, há muitas coisas boas!), mas quando padece (sim, muitas vezes!) nem sempre está no paraíso.

Por vezes a mãe sente-se em um campo de batalha e muito longe do éden. Ouve-se que todas as mulheres deveriam ser mães senão não conhecerão o verdadeiro amor incondicional. Tolice. Muitas mulheres dão à luz uma criança e não são mães no exato teor da palavra. Por outro lado, numerosas mulheres nunca pariram e mostram um cuidado maternal e amor incondicional pelos sobrinhos, amigos, pelos próprios pais já idosos, conjugando muito bem o verbo amar.

Diz-se que as mães são “naturalmente” doutoras em desenvolvimento. Não são. A não ser que tenham um título de fato. Socializar uma criança é uma tarefa complicada, ainda mais nos dias atuais e nem sempre a mãe sabe como agir. Muitas vezes somos “como os nossos pais” e mães que não tomam consciência da real complexidade da sua tarefa acabam repetindo erros e besteiras alinhavados por gerações anteriores, o que se chama “transmissão intergeracional”.

Sua mãe disse para você que “dinheiro não dá em árvore” e você já repetiu para o seu filho quantas vezes? Pois é. Assim, é preciso aprender mais com a ciência, uma vez que ela auxilia a deixar de lado mitos e tabus antigos e ineficazes.

Lembram que antigamente largavam-se os bebês recém-nascidos enrolados e sozinhos em um quarto escuro por muitos dias? Ou deixava-se o bebê chorando até adormecer? E os tapas e as palmadas, então? Nada disso é viável na contemporaneidade e pesquisas mundiais relatam diversos danos relacionados com tais “estratégias educativas”.

Sim, o mundo muda e, por isso, escolas para gestantes, adotantes e pais multiplicam-se mundo afora. Às vezes um tutorial bem feito pode ajudar enormemente e evita tantos ensaios e erros, não é mesmo? No entanto, as mães sempre vão acordar no meio da noite para ver se o bebê está respirando e sempre vão falar para o filho levar um casaco porque “depois vai esfriar”. Não tem jeito. Chamar os filhos de “princesa” e “príncipe” também faz parte do currículo obrigatório…

Fala-se que a mãe sente culpa por tudo e, muitas vezes, educa seus filhos com ameaças e culpa. Isso é verdade. Muitas tentam educar com culpa porque aprendem assim por muitos séculos. E sentem culpa porque todo o peso ainda recai sobre a mãe que deve saber tudo, amar incondicionalmente, nunca errar para não traumatizar seu filho e estampar sempre um sorriso de quem está no tal paraíso.

Dessa forma, a mulher foi condicionada a pensar que deve ser perfeita o tempo todo e o olhar dos outros recai de maneira dramática sobre seus ombros. Haja estresse! Antigamente mãe era uma mulher de poucos papéis e atualmente mãe é sempre multitarefa nas mais diferentes áreas.

Hoje em dia ela precisa ter conhecimento, além daquelas tarefas básicas, de design para ajudar nos trabalhos dos filhos solicitados pela escola e ciência da computação para impedir que seu filho adolescente descubra como entrar na deep web (se você nunca ouvir falar disso, é melhor informar-se…). E somos muito cobradas para desenvolver esse lado multifacetado e… sentimos culpa quando não conseguimos.

Diz-se que “mãe é tudo igual e só muda de endereço”. Não é verdade, Porém, mães de verdade, aquelas que abraçam, com todas as suas forças, o encantamento de amar um ser até o infinito, são muito poderosas. Ela tem o poder de proporcionar for&cc,edil;a e prazer de amar a vida e os outros, poderio referendado e reverenciado tanto pela ciência quanto pela sabedoria popular.

"Por vezes a mãe sente-se em um campo de batalha e muito longe do éden." Foto: birkfoto/SXC
Foto: vancity197/SXC

Existe uma acentuada tendência no ser humano para formar laços afetivos fortes e quanto mais somos amados no início das nossas vidas, mais nos tornaremos capazes de amar. E quanto mais nos sentimos amados na infância, mais seguros e confiantes nos tornaremos para enfrentar a vida. Isso não é pouca coisa. Em verdade, é a raiz da existência. É uma proteção para sempre. Mães merecem homenagem mesmo.

Lidia Weber / Foto: Arquivo pessoal

Lidia Dobrianskyj Weber é Psicóloga, doutora em Psicologia pela USP com pós-doutorado em Desenvolvimento Familiar pela UnB, professora da UFPR, autora de 13 livros, entre eles “Eduque com Carinho” (Ed. Juruá, 16a. tiragem)

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