O programa Consultório na Rua, da Secretaria Municipal da Saúde, realizou perto de 1.500 atendimentos nos dois primeiros meses de atividade. Com o objetivo de levar saúde para os moradores em situação de rua, quatro equipes do consultório – formadas por médico, auxiliar de enfermagem, enfermeiros, psicólogo, assistente social, dentista e auxiliar de saúde bucal – percorrem regiões da cidade oferecendo atendimento.
De acordo com Adriane Wollmann, coordenadora do programa, o principal objetivo é estabelecer vinculo com os pacientes. “Dificilmente no primeiro contato eles aceitam a nossa ajuda. Mas insistimos. Algumas vezes passamos muito tempo conversando com o morador de rua até que ele comece a expor o seu problema e aceite o nosso auxílio. Nosso objetivo é sensibilizá-los para importância do cuidado com a saúde e promover o acesso aos equipamentos de saúde”, explica.
Ajuda
C.L. vive há 11 anos na rua e prefere não se identificar para não expor seu filho e neta. Já sofreu com o vício das drogas e conta que foi internado três vezes, com a ajuda da Fundação de Ação Social (FAS). “Hoje aprendi a lidar com o meu problema, a reduzir os danos da droga e lutar contra as recaídas, mas sempre que precisei do apoio da FAS eles me ajudaram, com internamento, comida e tudo mais. Agora tem o pessoal da saúde que vem aqui, me dá remédio quando eu preciso. Na sexta-feira tenho consulta marcada com o dentista na unidade de saúde para cuidar de uma obturação. Faz tempo que não recebia esses cuidados”, conta.
Antonio de Souza procurou a Unidade Especializada para Jovens e Adultos em Situação de Rua, Centro Pop, mantido pela FAS no Portão, que tem parceria com o Consultório na Rua. Andarilho,ele veio há pouco tempo de Santa Catarina e está com os pés bem machucados. “Preciso melhorar de saúde para procurar um bico, voltar a trabalhar. Neste estado nem consigo ficar em pé”, contou. Ele foi examinado pelas enfermeiras e pelo médico e convidado a ir, diariamente, na unidade de saúde para fazer os curativos necessários para o tratamento. “É comum os andarilhos sofrerem com a descamação dos pés. Eles andam muito, às vezes atravessam estados e ficam muito tempo com o sapato úmido”, explica o médico que o atendeu.
Exemplo
L. C. Monteiro, de 48 anos, já fez três consultas na unidade de saúde. A equipe do Consultório na Rua que atende o distrito Portão encontrou Monteiro no Centro Pop (Unidade Especializada para Jovens e Adultos em Situação de Rua) que pertence à FAS e oferece acolhimento a essa população durante o dia. Vivendo nas ruas desde 1997, Monteiro conta que bebia três garrafas de pinga por dia. “Era do Nordeste e vim parar aqui, mas não tenho do que reclamar. Decidi parar de beber e ter a minha vida de volta e estão me ajudando muito aqui na unidade de saúde”, contou o ex-andarilho, que está sendo atendido na Unidade de Saúde Vila Guaíra pelo médico do programa.
“É a terceira consulta dele aqui e pelos exames vejo que está com a saúde perfeita. Não bebe há três meses e está dormindo no abrigo da FAS. A boa notícia de hoje é que ele vai começar a trabalhar como auxiliar de pedreiro. Ele é um exemplo”, ressalta o médico Marcus Borges.