Pouca gente sabe, mas um paranaense, nascido em Rio Branco do Sul, ganhou o Prêmio Nobel da Paz. Percival Furquim Vaz foi o primeiro brasileiro a receber a condecoração dada a todos aqueles que integraram as tropas de paz das Nações Unidas (ONU), até 1988. Desde que ficou sabendo da concessão do prêmio, Vaz começou a briga para que os boinas azuis brasileiros – como são chamados os soldados que integram as forças da ONU – recebessem um diploma e medalhas oficializando a premiação.
Foram 15 anos de batalha e Vaz recorreu ao governo brasileiro, a embaixadas e à imprensa estrangeira em busca da oficialização do prêmio, dado em 1988. Os certificados só chegaram em 2002. Agora, Vaz acaba de editar Primeiro Nobel da Paz brasileiro, um pequeno livro contando sua história de vida e suas percepções sobre problemas que atingem a sociedade. Traduzido para o inglês, o livro foi enviado para os governos de mais de 40 países, com autorização para ser reproduzido e usado em escolas.
"O mundo só fica sabendo de coisas ruins que acontecem no Brasil. Está na hora de mostrar também que aqui existem exemplos positivos", afirma Vaz.
Ex-cabo do Exército, Vaz integrou o Batalhão do Suez, uma força de paz da ONU que atuou entre 1956 e 1967 na Faixa de Gaza, para tentar minimizar os efeitos do conflito entre árabes e judeus. Vaz foi mandado para o Oriente em 1961 e ficou lá até 1963. Ao todo, cerca de nove mil brasileiros serviram no Suez nos 20 contingentes que foram mandados para a região. Todos têm direito ao Prêmio Nobel da Paz.
Depois de voltar ao Brasil, em 1963, Vaz foi desligado do Exército sem grandes explicações. Ele servia no 3.º pelotão do 2.º Regimento de Infantaria na Vila Militar do Rio de Janeiro e acabou vindo para Curitiba, trabalhar num banco. Era época da ditadura militar e Vaz sofreu na pele a opressão do sistema. Por quase um ano, ele foi torturado seguidas vezes porque acreditava-se que ele pudesse ter alguma ligação com o então segundo-tenente Carlos Lamarca, que foi seu comandante no Rio de Janeiro e no Oriente Médio e que desertou o Exército brasileiro, ingressando no movimento de luta armada contra a ditadura no Brasil.
Em 1968, cansado de sofrer com as torturas e com medo de morrer, Vaz fugiu de Curitiba. "Entrei para a clandestinidade. Fui vagando de cidade em cidade até saber que minha contribuição com o País e com a paz no mundo tinha sido reconhecida", conta. O ex-cabo trava ainda um outra briga na Justiça, para ser indenizado pelas perseguições sofridas durante a ditadura.