Comunidade de São Mateus ainda vive na era do rádio

A população do município de São Mateus do Sul, a cerca de 120 km de Curitiba, já está acostumada a ligar o rádio e, diariamente, escutar recados de parentes, parabenizações a aniversariantes, conferir ofertas de emprego e anúncios de compra e venda de produtos variados, como fogão, geladeira, animais, carro e bicicleta. Desde que entrou no ar, há 20 anos, a Rádio Difusora do Xisto, que opera na freqüência de 1030 kHz, ondas médias, amplitude modulada, promove o contato entre os habitantes do município e comunidades mais afastadas, que não dispõem de telefone.

Segundo a secretária e recepcionista da emissora, Solange Franco, existem cerca de quinze comunidades ao redor de São Mateus cujos habitantes não têm telefone em casa. “Em cada comunidade, geralmente existe apenas um telefone público, utilizado por todos”, afirma. “Como estas comunidades ficam afastadas, a rádio realiza um serviço social e promove a interação entre todos.”

De segunda-feira à sábado, das 10h45 às 12h, as pessoas, por telefone ou pessoalmente nos estúdios, podem entrar no ar para dar seus recados. Nos outros horários, os locutores é que lêem as mensagens, enviadas por carta, transmitidas pessoalmente ou ditadas pelo telefone. “É um trabalho muito prazeroso, pois ajudamos as pessoas e acabamos fazendo muitos amigos”, diz Solange. “Diariamente, recebemos em média cinqüenta ligações.” Ela conta que trabalha na rádio há sete anos e nunca tirou férias. “Me divirto e aprendo muito com o que faço”, garante.

Casos

O locutor Lucas Silveira começou sua carreira junto com a rádio. Ele já presenciou diversas situações engraçadas, comoventes e também bastante tristes. “Uma vez, dois políticos locais utilizaram o serviço oferecido pela rádio para se ofenderem”, lembra. “Um entrou no ar e mandou um recado para o outro, que imediatamente ligou para a rádio e também entrou no ar para dar a resposta.”

Um caso que marcou bastante a vida de Lucas e de toda a equipe da rádio aconteceu no início da semana passada. Uma senhora, moradora do município de Romaria (MG), ligou para a rádio para mandar um recado para a filha que não via há trinta anos. “A mulher sabia que a moça morava por aqui, mas não sabia como encontrá-la. Então, ligou para a rádio e transmitiu seu recado”, explica. A filha ouviu a mensagem, entrou em contato com a rádio e voltou a se comunicar com a mãe. “Ficamos todos muito comovidos e felizes com o poder de comunicação do veículo”, diz o locutor.

Documentos e cães

As mensagens mais comuns, que quase todos os dias são transmitidas, são de compra e venda de produtos, de pessoas em viajem a outras cidades que querem comunicar seus parentes que estão bem, de documentos perdidos e roubo de carros. “Há pouco tempo, uma mulher, vinda de outra cidade, perdeu sua carteira cheia de dinheiro e sem qualquer documento que a identificasse em São Mateus”, lembra Lucas. “Ela veio até a rádio, deu seu recado e, horas depois a carteira, com todo o dinheiro dentro, foi entregue.” Outra coisa muito comum, segundo o locutor, são pessoas que procuram a rádio para comunicar o desaparecimento de animais de estimação e a tristeza de suas crianças com a situação. “Semanalmente, colocamos no ar entre quatro e cinco recado de cães desaparecidos”, revela.

Ouvinte e anunciante

Todo o serviço prestado pela rádio é gratuito, isto é, as pessoas não têm nenhum custo para mandar seus recados. Muitos se beneficiam bastante com a prestação de serviços. É o caso do articulador de desenvolvimento rural da Emater, Orival Stolf, que quase toda semana envia seus recados.

“Utilizo o serviço prestado pela rádio desde que ela entrou no ar. Os locutores já viraram grandes parceiros da Emater”, declara. Orival geralmente avisa agricultores sobre reuniões, propostas de trabalho, financiamentos, planos de governo, entre outras coisa. “Sempre obtenho retorno, pois cerca de 67% da população de São Mateus do Sul e de comunidades mais afastadas está diariamente ligada na rádio”, atesta.

Na última semana, Orival precisou convocar 36 representantes de grupos de agricultores para uma reunião. Procurou a rádio e, com um único aviso, conseguiu que 34 comparecessem ao evento. “A eficiência do serviço é muito grande”, ressalta. Para a Emater, transmitir seus avisos pela rádio gera economia de combustível, tempo e telefone. “Assim, conseguimos atingir mais pessoas do que se nos deslocássemos até cada comunidade distante e pessoalmente déssemos os recados”, explica Orival.

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