Protesto

Comunidade da Vila Torres reclama de discriminação

Todo dia, pelo menos 6,9 mil carros passam por hora em horário de pico pela Avenida Comendador Franco (Avenida das Torres), no cruzamento com a Rua Francisco Heráclito dos Santos, em Curitiba. Outros 2,9 mil automóveis cruzam, por hora, as Ruas Guabirotuba e Imaculada Conceição.

Apesar do intenso movimento na região, a atenção da maioria dos motoristas dificilmente se volta para a comunidade ao lado, da Vila das Torres. Foi o que aconteceu nos protestos realizados por uma parcela dos moradores da vila nas últimas semanas.

Mais que parar o tráfego da região no fim de tarde, os protestos demonstram a explosão das demandas sociais locais. E é exatamente dessa falta de visibilidade e da discriminação que reclama quem mora na vila. “Quem mora aqui não é bandido” foi a frase mais ouvida pela reportagem de O Estado dentro da vila.

Reclamação feita inclusive durante o grupo de trabalho do Observatório da Habitação, criado há um ano e coordenado pela Promotoria de Proteção ao Meio Ambiente do Ministério Público do Paraná (MP-PR).

“Eles se sentem discriminados pela própria população, quando chamamos a vila de favela, por exemplo. Causa constrangimento quando vai se preencher um currículo para pedir emprego e a citação de endereço na vila pode servir para dizer que aquela pessoa não é qualificada. O afastamento é a pior saída”, avalia o procurador de justiça Saint-Clair Honorato Santos, que está a frente do observatório.

A iniciativa do observatório procura fazer a interligação dos projetos que lá existem, aproximando as instituições públicas e privadas no desenvolvimento da vila.

Quem nasceu e morou a vida toda na vila também reivindica mudança na visão do poder público sobre a região, como Marcos Eriberto dos Santos, há 37 anos na vila.

“Nossa comunidade parece estar parada no tempo. Vi bairros nascerem depois e se desenvolverem mais rápido. Nós aqui também pagamos IPTU e somos tratados de maneira diferente. Não há justificativa para essa morosidade”, reclama o morador.

Projetos

No entanto, mudança visível com o passar dos anos está na proliferação de iniciativas e projetos sociais que lá coexistem, seja movidos pela comunidade, por entidades religiosas, instituições instaladas no entorno da vila ou pelo município.

Focado no desenvolvimento da criança está a Agenda 21 Vila das Torres, que pretende fazer de cada uma delas um agente multiplicador com consciência ecológica. Também para as crianças, o Projeto Esperança é voltado para atendimento no contraturno escolar.

Além das atividades oferecidas, o projeto procura desenvolver valores nos pequenos de cinco a dez anos, considerado fundamental em áreas que convivem com a violência.

Entre as outras iniciativas está a capacitação para fabricação de aquecedores solares feitos com caixas de leite e garrafas pet, que podem proporcionar economia na conta de luz.

Além da separação de material reciclado, que é a atividade predominante entre os moradores da vila, geração de trabalho e renda para as mulheres também acontece por meio da fabricação de sacolas ecológicas para instituições e eventos, feitas sob encomenda para as costureiras autônomas cadastradas.

Maior parte é regularizada

A Vila das Torres se estende por parte de três bairros da cidade: Prado Velho, Jardim Botânico e Rebouças. Embora tenha começado como área de ocupação irregular, na década de 1970, a regularização fundiária começou a ser feita nos anos 1980s e hoje uma pequena parte, no trecho chamado de Vila Prado, ainda está em processo de regularização, cujo projeto de reurbanização e realocação de algumas famílias já foi encaminhado à Companhia de Habitaç&at,ilde;o Popular de Curitiba (Cohab).

Como os limites da vila não são bem definidos, existem controvérsias sobre o número total de habitantes na região. Estimativas variam de 5,5 mil a 8 mil pessoas. A variação também é provocada pela grande quantidade de depósitos para os catadores de papel, que também acabam servindo como alojamento aos carrinheiros.

Violência causada pelo tráfico é o principal problema enfrentado

Poder público, organizações não-governamentais e moradores concordam que hoje o principal problema enfrentado pela Vila das Torres é a violência e a convivência com o tráfico de drogas. Essa briga atrapalha inclusive os serviços da administração pública que são feitos na região.

Pelo menos 15 roçadeiras já foram roubadas no último ano e incontáveis lâmpadas tiveram que ser trocadas, principalmente nas esquinas, onde são constantemente queimadas ou estouradas. No posto de saúde local, é comum entrarem pessoas armadas. Esses são apenas três exemplos de como o tráfico atrapalha melhorias na Vila.

Omar Sabbag, administrador da Regional Matriz, que atende a Vila das Torres, admite que a Prefeitura tem dificuldade inclusive em mandar pessoas para trabalhar no local.

“Os funcionários enfrentam a mesma insegurança do cidadão comum. A Prefeitura poderia estar fazendo mais, mas tem dificuldades, como as pessoas de um lado da vila que não vão até o posto de saúde porque precisam atravessar terreno hostil”, afirmou.

De acordo com Sabbag, da região atendida pela Matriz, a Vila das Torres é a área que mais recebe infra-estrutura e serviços municipais, como opção de reinserção no mercado de trabalho e unidade para geração de renda (outros serviços podem ser conferidos na tabela ao lado).

Ato

Nesta semana começa a articulação do MP-PR e de diversas organizações sociais para a promoção de um novo evento “Pela Paz”, na Vila das Torres, que deve ser realizado durante o dia 30 de novembro. Será a quarta edição do evento, que já foi realizado nos últimos três anos.

Culto ecumênico, grafite, hip-hop e atividades para as crianças são algumas das idéias inicialmente pensadas para o dia. Quem quiser contribuir com refrigerantes, brinquedos ou alimentação para a festa da paz, que vai ser feita na rua, pode entrar em contato pelos telefones (41) 3019-9609 e (41) 8426-9609.

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