Comprovado: Scénic não é indicado para a polícia

A Polícia Militar do Paraná manifestou na semana passada a insatisfação com os veículos modelo Renault Scénic utilizados como viaturas. Uma avaliação realizada recentemente pelo Centro de Suprimento e Material Bélico da PM indicou que o Scénic é frágil para o trabalho desenvolvido pela polícia e tem um custo de manutenção bastante alto, gerando prejuízos ao Estado. Nas próximas semanas, o governo do Estado deve estudar a viabilidade econômica da continuidade da utilização do Scénic.

De acordo com a PM, os discos de freios traseiros de um Scénic custam R$ 809. Um kit de embreagem não sai por menos de R$ 1.010,00. A reportagem de O Estado realizou uma pesquisa nas concessionárias em Curitiba, comparando esses preços com os carros Zafira (GM) e Xsara Picasso (Citroën), modelos do mesmo segmento do automóvel da Renault. Os discos de freios traseiros do Zafira custam R$ 740 (diferença de 9% em relação ao Scénic); o kit de embreagem, R$ 564 (diferença de 79%). Quanto ao Picasso, os preços são R$ 191,80 (321%) e R$ 549,10 (83%), respectivamente.

Se comparado com carros mais baratos de outra faixa, os quais a polícia também utiliza, a variação é ainda maior. Os discos de freios traseiros da Parati 2.0, também utilizada pela polícia, têm o valor de R$ 256,66 (215%). Já o kit de embreagem custa R$ 328,98 (207%). Para o Gol 1.6, o sistema de freios traseiros (não possui discos) sai por R$ 307,92 (162%); o kit de embreagem, R$ 182,30 (454%).

Mecânico

O mecânico José Pedro Tadeu Ribeiro, de Curitiba, que trabalha com veículos Renault, concorda que o Scénic não é um veículo próprio para ser utilizado como carro de polícia. “Em minha opinião, o Scénic é mais para uso familiar. É um carro de passeio e não para ser usado como viatura, que precisa constantemente andar em altas velocidades e por qualquer tipo de estrada”, comenta.

Segundo José Pedro, o veículo tem um bom motor e boa mecânica, mas a estrutura é frágil. “A suspensão do Scénic é o que geralmente mais rapidamente se desgasta. E numa viatura ter uma boa suspensão é essencial. Todas as peças do Scénic só podem ser encontradas em concessionárias e por isso costumam ser bem mais caras. Nem ferramentas a gente acha com facilidade para trocar as peças do carro”, explica.

Caso o veículo seja mesmo considerado inadequado, há a possibilidade de se fazer alienação e substituição. O veículo é utilizado pela corporação desde 1991. No total, foram adquiridos pelo antigo governo 469 Scénics. Atualmente 45 estão sendo utilizados pelo Batalhão de Polícia Rodoviária Estadual e 88 estão desativados por motivos diversos, entre eles consertos necessários devido ao desgaste de peças. “Constatamos uma contra-indicação técnica na utilização do Scénic como viatura de polícia”, afirma o chefe do Centro de Manutenção de Viaturas da PM, departamento responsável pelo gerenciamento da frota da corporação, tenente-coronel João Antônio Pazinatto.

Em 2003, a manutenção de cada Scénic custou cerca de R$ 1.750,00. O valor é alto se comparado ao custo de manutenção de outros veículos utilizados como viatura, como o Gol e Parati, pertencentes à linha Volkswagen, que é utilizada pela PM do Paraná desde o início da década de setenta. “Os equipamentos de manutenção básica do Scénic são muito mais caros”, diz Pazinatto.

Concessionária Renault

O representante de vendas da Autovesa, concessionária de Curitiba ligada à Renault, Silvio Paim Hoffmann, não concorda com a comparação feita entre os veículos Gol e Parati, da Volkswagen, e Scénic, da Renault. De acordo com ele, o Scénic é um veículo que está há menos tempo no mercado e totalmente diferente do Gol e da Parati.

“Não se pode comparar o Gol e a Parati, que são mais populares e estão há mais tempo no mercado, com o Scénic, que é um modelo novo e muito melhor equipado”, declara. “Se compararmos o Scénic com outro de mesmo nível, como o Zafira, da GM, o Picasso, da Citroën, ou mesmo a Parati 2.0, da própria Volkswagen, veremos que não há nada de absurdo no valor das peças de manutenção.”

Quanto ao fato de o Scénic ter sido considerado frágil para o tipo de veículo utilizado pela PM, Silvio diz que o carro foi feito para o mercado e não projetado especialmente para a polícia, mas que isso não o impede de ser utilizado como viatura. “Nenhum carro é projetado especialmente para servir de viatura. O Scénic, assim como o Gol, a Parati e qualquer outro carro, tem suas limitações, mas isso não quer dizer que ele é impróprio ao uso da polícia.” O veículo também é usado como viatura no Distrito Federal, em Santa Catarina e na Bahia.

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