O último adeus a Zilda Arns aconteceu no decorrer da tarde de ontem. Às 14h, uma missa rezada pelo presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Geraldo Lyrio, e pelo arcebispo metropolitano de Curitiba, dom Moacyr José Vitti, com a participação de diversas autoridades, pôs fim ao velório da médica sanitarista, que acontecia desde o final da manhã de sexta-feira, no Palácio das Araucárias, no Centro Cívico de Curitiba. Cerca de 7,5 mil pessoas se despediram de Zilda Arns.

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“Estamos celebrando a vida e a obra de Zilda. Em muitos países, a Pastoral da Criança fez a diferença mobilizando pessoas comuns em prol do combate à mortalidade infantil. Tivemos uma imensa perda, mas desejamos que a Pastoral tenha vida longa, em continuidade ao trabalho que Zilda realizou”, disse a representante da Unicef no Brasil, Marie-Pierre Poirier.

A governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius, também foi prestar suas últimas homenagens à médica, assim como a ministra interina da saúde, Márcia Bassit.

“O Ministério (da Saúde) mantém parceria com a Pastoral da Criança há vários anos. A Pastoral foi precursora no trabalho da saúde da família e Zilda, embora dócil e fácil de lidar, tinha uma capacidade de liderança muito grande”, declarou Márcia.

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A missa foi assistida por centenas de pessoas através de um telão instalado na Praça Nossa Senhora da Salete. A voluntária da Pastoral da Criança em Paranaguá, Beatriz Natel, saiu do litoral às 8h de ontem especialmente para assistir à celebração.

“Só vi a doutora Zilda pela TV e nos jornais, mas ela vai deixar saudade. Perdemos uma mãe, mas nos consolamos em saber que ela se foi sem sofrimento e fazendo o que gostava”, afirmou.

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Enterro

Após a missa, o corpo de Zilda Arns foi levado, em cortejo e sobre um carro do Corpo de Bombeiros, até o Cemitério Municipal do Água Verde. Na entrada do local, o caixão com o corpo da médica foi recebido com uma salva de tiros e muitos aplausos.

O enterro foi restrito à família e amigos próximos, mas do lado de fora do cemitério muitas pessoas se concentravam nos portões na tentativa de enxergar alguma coisa. Em frente ao túmulo, foram feitas orações e prestadas homenagens.

Apenas duas coroas de flores foram colocadas. Após a confirmação da morte, os familiares de Zilda pediram que quem quisessem homenagear a médica, ao invés de comprar coroas, fizesse doações à Pastoral da Criança.

Zilda Arns deixa um imenso legado

Ciciro Back
Para o ex-governador Jaime Lerner, Zilda Arns é o melhor exemplo de pessoa solidária.

A manhã de ontem foi marcada pela admiração e sentimento de saudade das milhares de pessoas que continuaram a homenagear a médica sanitarista Zilda Arns, que morreu na última terça-feira vítima de um terremoto no Haiti.

Apenas na sexta-feira, cerca de cinco mil pessoas passaram no Palácio das Araucárias, onde aconteceu o velório, para prestar as últimas homenagens à médica fundadora da Pastoral da Criança.

Familiares e amigos próximos da família Arns aproveitaram a ocasião para relembrar toda a trajetória seguida pela sanitarista até a criação da pastoral. “Antes mesmo de criar a pastoral, Zilda sempre trabalhou em prol da melhoria das condições daqueles mais necessitados. Sempre esteve presente nas áreas menos favorecidas. Ela trabalhou na implantação de postos de saúde, campanhas de amamentação e até mesmo na implanta&cced,il;ão de poços de água. Já na Pastoral, através de ações simples e eficazes, ajudou a salvar muitas vidas em todo o Brasil”, disse o sobrinho de Zilda, senador Flávio Arns (PSDB).

Durante seu trabalho na Pastoral, Zilda fez grandes amizades, dentre elas com Waldemar Caldin, membro do conselho diretor da Pastoral da Pessoa Idosa. “Tudo começou em 1983, mas antes mesmo Zilda já ajudava muita gente. Exemplo disso foi sua atuação em Florestópolis, onde começou a aplicar ações simples no combate à desidratação e desnutrição com soro caseiro, higiene e sua mistura nutritiva”, relembrou. “Ela tinha uma linguagem simples, nada técnica como se fosse um morador da comunidade dando dicas para outro”, ressaltou.

Ciciro Back
Marina Silva: “Temos um sentimento de perda, mas a semente plantada por Zilda irá gerar novas ações”.

Ainda na manhã de ontem, a ex-ministra do Meio Ambiente e pré-candidata à Presidência da República, Marina Silva (PV), prestou condolências à família de Zilda.

“Temos um sentimento de perda, mas a semente plantada por Zilda irá brotar e gerar novas ações. Perdemos uma grande líder, a exemplo de Chico Mendes, no Acre. Devemos começar a fazer o que ela fazia. Zilda é uma lição de alguém capaz de viver o Evangelho. Ela foi ao Haiti fazer o que acreditava, onde acabou perdendo a vida”, disse.

Para o ex-governador do Paraná, Jaime Lerner, Zilda é o maior exemplo de solidariedade que alguém pode dar. “Ela criou uma rede que salvou milhares de crianças, que agora deverá continuar com ainda mais força”, afirmou.

Segundo Eunice Vicente Cardoso, que trabalhou durante 26 anos com Zilda na Pastoral de Florestópolis, a médica deixa um grande carisma espiritual. “Zilda faz parte da história. Só uma pessoa como ela poderia atender tanta gente e ao mesmo tempo ser atenciosa com todos. Antes mesmo de criar a pastoral, Zilda já tinha esse espírito de salvar vidas e estar junto com os mais carentes”, relembrou.

Emoção

Ainda no final da manhã de ontem, quatro filhos de Zilda, juntamente com os dez netos da sanitarista, relembraram com a imprensa os momentos marcantes de Zilda e sua família.

“Ela esteve sempre presente nos eventos de família. Sempre agradando a todos e recebendo muito bem as pessoas. Infelizmente uma tragédia a tirou de nós, mas temos certeza de que Deus estará sempre conosco e que ela está no céu olhando por todos nós”, disse Nelson Arns, um dos filhos da médica.