A data é para as crianças, mas quem já está fazendo a festa é o comércio com as vendas relacionadas ao dia 12 de outubro. Pela pesquisa da Associação Comercial do Paraná (ACP) em parceria com o Instituto Datacenso, os lojistas projetam um crescimento de 5% a 30% nas vendas, e o consumidor curitibano planeja gastar, em média, R$ 246 por presente, incremento de 132% na comparação com 2009.
Para o coordenador executivo do Datacenso e coordenador da pesquisa, Claudio Shimoyama, os dados levantados junto aos pais das classes A, B, C e D são uma clara demonstração do bem-estar econômico que tomou conta do Brasil.
“Com a economia forte, os pais estão dispostos ao consumo, tanto que presentes mais caros, normalmente dados no Natal, estão sendo comprados agora”, explica Shimoyama, ressaltando que, quando se observam apenas as classes C e D, o valor dos presentes continua alto, na média, fica em R$ 130.
“O aumento no crédito tem dado suporte a esses patamares de consumo, já que uma parte dos compradores só leva em conta o valor da parcela”. Pelo estudo, 54% dos pais pretendem pagar à vista, contra 21% no cartão de crédito.
Entre os tipos de presentes, 52,5% darão brinquedos, 22% roupas, 8,9% calçados, 4,7% videogames e 2,1% celulares. A dona de casa Léa Leme Castilho procura aliar lembrancinhas com surpresas para os filhos Prisciane, de 14 anos e Wesley, de 11 anos.
“Estamos sempre negociando e, em datas como o Dia das Crianças, busco maneiras de surpreendê-los para que tenham boa recordações”, revela. “Estipulei que gastarei na soma entre os dois de R$ 150 a R$ 200”, afirma Léa, comentando que além de limitar a despesa, ela incentiva os filhos a priorizarem artigos como livros e jogos educativos. “Eles já tomaram gosto”, atesta.
Para a auxiliar de enfermagem Joelma Cristina Torres, mãe de Lucas, de 12 anos, a celebração é um meio de fazer do presente algo positivo para a formação do filho. “Para o Dia das Crianças estamos negociando uma Ferrari, que custa R$ 79, mas para ele ganhar o videogame no Natal, terá que passar de ano”.
Especialistas alertam sobre consumo
O gasto com presentes é posto em xeque por educadores não só pelo montante estimado, mas pelos desdobramentos na formação dos pequenos. “É um número do próprio setor que possui interesse em promover o consumo, entretanto, pela minha experiência como professor, os pais detêm nessas datas um grande momento para educar os filhos e consolidar valores”, orienta o psicopedagogo e professor dos cursos na área de Educação da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) Jair Passos.
“Não é o mercado que vai ditar o quanto se deve pagar por um presente para demonstrar amor aos filhos, cabe aos pais direcionarem isso e, na medida do possível, segurar os gastos. É cada vez mais comum encontrar crianças em todas as classes sociais com armários abarrotados de brinquedos recebidos tanto em datas comemorativas, quanto em dias normais, isso é uma clara demonstração da banalização do consumo”.
Passos conta que há uma série de estudos na área de educação comprovando reflexos positivos na formação das pessoas que, desde a infância, não tiveram seus desejos prontamente atendidos.
“É lógico que não há nada de errado na celebração da data ou em se presentear os filhos, mas é preciso cautela, principalmente, quando se utiliza isso para compensar eventuais ausências”.
Sala de aula
A professora da rede municipal de ensino de Curitiba, Caroline de Andrade, testemunha em sala de aula as consequencias do exagero de presentes sobre o comportamento dos estudantes.
“Quanto mais prêmios fora de hora se dá, mais eles acreditam, erroneamente, que tudo na vida se consegue sem grandes esforços”. A educadora reconhece que a jornada intensa de trabalho dos pais faz com q,ue eles busquem mecanismos de recompensa. Contudo, ela propõe uma alternativa.
“Na escola, na época do Dia das Crianças, já promovemos atividades para as crianças. Acredito que os pais também podem aplicar a ideia e fazer dia para as crianças. Algo diferente e que pode se tornar muito melhor que um simples presente”.
Na prática, isso significa apostar na melhora da convivência entre pais e filhos, criando uma programação fora da rotina. “O ideal é que façamos, ao menos uma vez por semana, uma atividade diferente com os filhos, como um piquenique no parque”, exemplifica.