Comendador no reduto do fandango paranaense

Com 23 mil habitantes e colada à parte histórica de Paranaguá, a Ilha de Valadares é o reduto do fandango – músicas e dança típicas do litoral paranaense. Desde pequenas, as crianças já aprendem a sapatear de tamancos de madeira, tocar pandeiro, viola e rabeca. As letras falam de mar e de amor. A cantoria folclórica passa de pai para filho, de tio para sobrinho e envolve cultura e paixão.

Incrustrada na ilha, em meio a mata nativa, está a Casa do Fandango. Uma modesta construção, levantada pelos próprios fandangueiros, sob a batuta de Mestre Eugênio. Aos 80 anos – 60 deles morando em Valadares – Eugênio dos Santos, nascido em Guaraqueçaba, agora é mais do que um mestre. Ele é comendador! Em novembro passado, recebeu do presidente da república, Luiz Inácio Lula da Silva, e do ministro da Cultura Gilberto Gil o diploma por sua admissão na Ordem do Mérito Cultural, na classe de comendador, através do decreto de 26 de outubro de 2006, por suas relevantes contribuições à cultura brasileira.

Com problemas de saúde, há sete meses em uma cadeira de rodas, Mestre Eugênio não esconde sua satisfação com a homenagem. Exibe orgulhoso o diploma e a comenda, recebidos em Brasília (DF) pela neta, Ana Rúbia, que inclusive posou para fotos ao lado do presidente e do ministro. Ele sempre lutou muito para preservar a cultura do litoral. Há 3 anos, quando ainda tinha muita disposição, fez uma turnê pelo Brasil com seu grupo de fandango, a convite do Sesc. Foi o maior sucesso e, daí, veio o reconhecimento federal pelo seu trabalho.

Crianças e adultos aprendem a cultura da ilha.

Impossibilitado de andar e de tocar seus instrumentos, o comendador passa horas na varanda, observando o movimento e se sente feliz em poder conversar com os visitantes. A casa em que mora com a mulher é muito modesta.

O maior luxo fica por conta de um aparelho de som antigo, em que ele faz questão de tocar um CD gravado há alguns anos, durante apresentação no Teatro Paiol, em Curitiba. Ele ?curte? as letras e exibe um sorriso luminoso quando apresenta seus dois fiéis companheiros de jornada, o sobrinho Miguel Martins, 63, que toca viola, e o pandeirista Aramis Alves, 53. São eles que passam boa parte do tempo fazendo companhia a Mestre Eugênio e torcem para que o comendador recupere-se logo para voltar a tocar e cantar com o grupo.

Luta pra manter tradição

Tamancos do fandango.

A Casa do Fandango, construída no terreno do Mestre Eugênio e mantida por ele, reúne crianças e interessados em aprender a cultura da ilha. Para suprir as despesas básicas, como água e luz, vez por outra o local é alugado para a realização de alguma festa, por módicos R$ 20,00 ou R$ 30,00.

Isso porque, apesar da importância do lugar, nenhuma autoridade municipal ou estadual interessou-se em prestar alguma ajuda. Nem mesmo um bom tratamento de saúde foi conseguido para Mestre Eugênio, que tem a esperança de que algum médico descubra sua doença e lhe dê um remédio que o faça sarar. Afinal ele ainda quer poder voltar a sapatear com os tamancos de madeira e fazer a alegria de quem estiver disposto a ouvi-lo.

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