Pessoas que precisam circular de ônibus entre Araucária e Curitiba todos os dias continuarão sem ter uma opção a mais de transporte coletivo, por tempo indeterminado. Isto porque a nova linha, que havia começado a operar ontem, saindo da Câmara de Vereadores do município metropolitano até o terminal CIC, na capital, foi suspensa já nas primeiras horas de circulação.
Um desentendimento entre a Urbs e a Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (Comec), que gerencia o sistema de ônibus metropolitano, causou a suspensão. Até o fim da tarde de ontem, nenhum dos dois órgãos públicos tinha chegado a um consenso. A única informação confirmada era a de que, diante de tanta confusão, um dos diretores da Comec, Omar Akel, colocou o seu cargo à disposição. Mas o governador Beto Richa não teria aceito o pedido, momentaneamente.
A linha Araucária-CIC saiu normalmente do destino, em Araucária. Mas ao chegar no terminal CIC, foi impedida pelos fiscais da Urbs de entrar no terminal, para que os usuários pudessem desembarcar e fazer a integração com outras linhas. Os usuários tiveram que descer na rua e pagar novamente a passagem de R$ 3,30 na entrada do terminal.
Por esta confusão, Urbs e Comec trocaram farpas ontem pela manhã. Enquanto a Urbs dizia que não permitiu a entrada do ônibus porque não havia espaço para o embarque e desembarque da nova linha, a Comec dizia não entender a “falta de espaço”, já que o novo ônibus poderia parar onde já parava antigamente a extinta linha Angélica-CIC, que fazia a ligação do terminal Angélica, em Araucária, até o terminal CIC.
Reprovada
Em nota de esclarecimento, a Urbs disse que a linha criada pela Comec não passou por análise técnica. Segundo o órgão, o terminal CIC é pequeno e a parada de mais uma linha criaria riscos de acidentes e dificuldades de operação. Além disto, a maioria dos ônibus que param na CIC são alimentadores locais. A única opção de uma viagem mais longa é o ligeirinho Cabral-CIC.
Diante disto, a Urbs sugeriu à Comec que a nova linha suspensa pare no terminal Pinheirinho, onde há mais opções de integração com o resto da cidade, incluindo três ligeirinhos e três biarticulados (o ligeirão é uma delas).
“A Urbs lembra ainda que no terminal CIC existem duas estações tubo, mantidas pela Urbs à disposição da Comec. São as estações onde antes paravam os ônibus do ligeirinho Araucária/Curitiba e que agora não passam mais por ali, por decisão da Comec”, alfinetou a Urbs, que ainda sugeriu que a Comec estenda o ligeirinho Araucária-Capão Raso até o terminal da CIC, já que os tubos ainda estão disponíveis.
Quem paga é o povão
Desde que ocorreu a desintegração financeira da rede metropolitana de ônibus, quem precisa ir ou vir entre Curitiba e Araucária passou a desembolsar quase o dobro do que pagava antes pelo transporte coletivo. Antes, o usuário pagava somente R$ 3,30 e poderia desembarcar e reembarcar em qualquer terminal de Araucária ou Curitiba. Agora, precisam pagar um valor para andar nos ônibus municipais (R$ 2,50 no cartão CMTC e R$ 3,30 em dinheiro) e outros R$ 3,30 para pegar o ônibus metropolitano entre Curitiba e Araucária, porém com direito a integração em toda a rede de ônibus da capital.
Desta forma, o sistema de ônibus de Araucária passou a funcionar igual ao que já funciona há muitos anos em Campo Largo e São José dos Pinhais. Em Campo Largo, o passageiro paga R$ 2,25 no cartão Cidadão ou R$ 2,50 em dinheiro, para andar nos ônibus municipais, e R$ 3,30 para usar as linhas entre o município e a capital, que dão direito à integração.
Em São José ,dos Pinhais, a conta é bem mais salgada. A tarifa dos ônibus municipais é de R$ 2,95 no Cartão Vem e R$ 3,50 em dinheiro, valor que foi aumentado no mês passado, logo após o aniversário da cidade. Além disto, apenas o terminal Afonso Pena possui linhas que se integram a outros ônibus que circulam na capital.
O terminal central da cidade só deve ter essa integração, segundo a Comec, quando ocorrer a conclusão das obras do corredor Marechal. A obra, que está revitalizando a Avenida das Américas, é a continuação, em São José dos Pinhais, da Avenida Marechal Floriano Peixoto. Faz parte do PAC da Mobilidade e já tinha sido iniciada antes da Copa do Mundo, mas ficou 70% pronta e paralisou. Foi retomada no mês passado e a previsão é de que esteja concluída até o fim do ano.
Município quer integração própria
Após as tentativas frustradas da Comec de resolver os problemas causados em Araucária com a desintegração do transporte coletivo, as prefeituras de Araucária e Curitiba começaram uma ontem negociação para tentar fazer uma integração própria. Com iniciativa da cidade metropolitana, o diálogo entre a capital e o município vizinho pretende chegar a soluções para o problema que os usuários do transporte coletivo enfrentam como o pagamento de duas passagens por quem se desloca de Araucária para Curitiba.
O acordo também visa uma possível volta de linhas que deixaram de circular recentemente. Nesta semana, esses problemas, somados ao fato de o cartão da Urbs ter deixado de ser aceito nos terminais da RMC, causou a revolta dos passageiros Na segunda, houve protestos e depredação de ônibus em Araucária.
O prefeito de Araucária, Olizandro José Ferreira (PMDB), relatou que determinou à Companhia Municipal de Transporte Coletivo Araucária (CTMC) que seja feita rapidamente uma proposta para reintegrar o sistema de transporte entre as duas cidades. Ele diz que ainda é cedo para dizer qual será o modelo, mas, para ele, a alternativa sai até o fim da semana. “O povo não tem e não deve mesmo ter mais paciência. Enquanto a Urbs e a Comec mantiverem o distanciamento, quem vai pagar são os municípios metropolitanos. Agora sou eu, mas daqui a pouco vai ser Campo Largo, Fazenda Rio Grande… Precisamos de uma proposta verdadeira de integração metropolitana”, reclama.
Olizandro explica que a proposta a ser construída entre CTMC e Urbs pode não ser nos moldes do que era antes, mas garante que se chegará a um ponto comum. “Posso fazer um acordo, chegar lá e dizer: ‘eu, prefeito de araucária, com a aprovação dos vereadores da cidade, vou bancar a reintegração em linhas especiais’. Posso fazer isso e estou estudando essa possibilidade. Agora, é duro saber que tem que bancar o subsídio para manter a integração”.
Segundo o prefeito, o papel de gerenciar linhas metropolitanas é da Comec, tanto que no caso de costurar um acordo com a prefeitura de Curitiba, será necessário ter autorização do órgão estadual.
O secretário de assuntos metropolitanos de Curitiba, Valfrido Eduardo Prado, confirmou que a prefeitura de Araucária procurou a prefeitura de Curitiba. “Eles pretendem, nos próximos dias, chegar a uma solução de integração entre os dois municípios. Nos colocamos à disposição para o diálogo e tudo o que puder ser feito nesse sentido”, disse. Por Antonio Senkovski