Sabe qual é a receita para conquistar uma mulher? Basta dizer ela o quanto ela é importante na sua vida. A dica é de Mariângela Salomão, psicóloga e sexóloga, que a partir desta semana vai escrever duas colunas semanais no Paraná Online. Autora de um livro de grande sucesso – “Sexo da Gente”, lançado em 2007 -, que aborda a sexualidade de maneira simples e direta, e do alto da experiência de anos a fio clinicando em Curitiba, Mariângela costuma detonar mitos com um frase: “uma boa vida sexual não depende de conta bancária”.
Nesta conversa, o leitor pode ter um aperitivo do perfil de suas futuras colaborações. Escolada em mídia – ela já comandou um programa de TV e colaborou com jornais e revistas -, e fala sem papas na língua de cirurgia íntima, fantasias sexuais, a arte da sedução e acima de tudo deixa claro que a sexualidade é aspecto natural do ser humano e como tal deve ser encarada.
Muitos problemas afetam a vida sexual de um casal, desde o estresse da vida moderna, até o desinteresse pelo parceiro por causa da rotina. Em todos estes anos clinicando, quais são as principais causas que inibem o sexo de acordo com a ordem de importância?
Pode-se dizer que a principal causa do desinteresse sexual ainda é a diferença do estímulo. Homens amam com o olhar e as mulheres com o ouvido. Isso quer dizer que para as mulheres a importância da palavra é fundamental, e em contrapartida os homens são de um modo geral de poucas palavras. O bom sexo para a mulher começa com o Bom dia e poucos homens sabem disso. A mulher precisa se sentir valorizada pela palavra, diferentemente do homem, que é pelas atitudes.
Outro fator é o estresse feminino da vida moderna. Muitas mulheres tem o desejo da troca sexual, mas não tem a condição física, porque ainda é delas a maior atribuição familiar. Para os homens ainda a vida é mais fácil: ao chegar em casa, encontram praticamente tudo pronto e podem tranquilamente deitar no sofá e ficar na companhia do controle remoto até que a casa se aquiete. E para ela se aquietar a responsabilidade é da mulher, além da jornada tripla requisitada: no lar, no trabalho e na cama…..
Vivemos numa cultura onde a mulher ainda tem que ser a “rainha do lar” e para a “rainha” é difícil ter a vida sexual ativa, pois ela serve o povo e se cansa muito!!!
O que fazer quando o que afeta é algo inesperado, como a perda de um filho no parto ou um filho com deficiência. A relação de um modo geral é afetada sobremaneira. Toda a vez que o casal partir para o ato terá esta lembrança imediata, não é?
Cabe às mulheres especialmente, trabalharem a culpa inconsciente que elas carregam ao gerar um filho que não esteja dentro do padrão considerado perfeito. Toda mulher se sente 100% responsável pela construção de um filho, desde uma pequena miopia até maiores complicações. As mães sempre sentem que falharam. Ou a mãe trabalha essa questão num processo psicoterápico ou a tendência será boicotar toda e qualquer forma de prazer, inclusive o sexual. Já os homens têm uma outra dinâmica para lidar com essa questão, não comprometendo necessariamente a troca sexual.
Falta de dinheiro também é um inibidor sexual difícil de transpor ou é só um mito? A gente costuma ver muitas famílias humildes carregadas de filhos. Depende de classe social?
Realmente é um mito. Uma boa vida sexual não depende da conta bancária. Obviamente quando uma família está passando por um momento de dificuldade financeira pode haver um estremecimento, principalmente com os homens, que são considerados os chefes da casa. Mas podemos afirmar que sexo e dinheiro não batem de frente. Caso contrário somente os abastados financeiramente teriam boa vida sexual. Mas também podemos afirmar que quanto menos intelectualiza,da a pessoa, mais disponibilidade sexual terá.
Hoje está muito na moda para mulheres a cirurgia íntima. Quer dizer, o que antes ficava oculto e só era mostrado para o parceiro, hoje está, digamos, um pouco mais público. Modelagem dos seios, cirurgia íntima, depilação artística, peircing em partes íntimas… As mulheres de hoje, ao invés de se resguardar, querem se exibir para homens e mulheres?
Acredito que atualmente a mulher pode se ver mais, se tocar sem culpas e constata muitas vezes sua insatisfação com suas partes íntimas e conquistou o direito de reparar ou enfeitar o que lhe interessa buscando uma auto estima sexual mais fortalecida. Não acredito que seja uma exibição, mas sim um olhar para si mesma. Ou melhor dizendo, uma ampliação do olhar. Antes as mulheres até separavam as roupas de seu companheiro para vestir em contrapartida, hoje existe o modismo das depilações que saem das revistas pornográficas e chegam até as donas de casa. Mas realmente acredito que é um resultado do movimento feminino.
É possível se realizar sexualmente no casamento? Há quem diga que não, já que é a modalidade de relacionamento em que menos se faz sexo, de acordo com as estatísticas…
Acredito plenamente que sim. Até porque o sexo, a troca sexual, como qualquer outra atividade, quanto mais companheirismo, intimidade e treino fica bem melhor. Nada se compara aos anos de convivência para uma realização sexual. Podemos comparar a uma viagem: quando alguém vai à um lugar novo, tem que descobrir sua beleza e quando se viaja para o lugar já conhecido, já se sabe o conforto, a fonte de prazer e até a beleza ali existente. O caminho é mais curto, menos estressante e com maior garantia de um bom resultado.
Fantasias sexuais são responsáveis por manter vivo o desejo. Homens fantasiam com tudo, já mulheres, principalmente aquelas que tiveram uma educação rígida, não se permitem voar no pensamento. Estes casos têm jeito?
É mais razoável dizer que fantasias são para ficar na fantasia muitas vezes. Mas nada impede que uma fantasia saudável possa ser realizada. E o que é uma fantasia saudável? Aquela que indiscutivelmente é boa para os dois. Normalmente os homens têm mais fantasias, especialmente pela sua estruturação interna e pelo grande marketing direcionado à eles em todos os meios de comunicação: mulheres seminuas, frutas e bumbuns reinam nos meios televisivos especialmente, fazendo um apelo subliminar ao universo masculino e gerando um estímulo visual permanente. Mas de qualquer forma, pode-se afirmar que a fantasia só é válida quando é boa para ambos.
Diariamente vemos no noticiário casos escabrosos, que revelam maníacos sexuais atacando principalmente crianças. Isso é fruto de desequilíbrio de caráter, mas tem tudo a ver com educação sexual. Como formar um adulto sexualmente bem educado e esclarecido, seja de que gênero for?
Para a área da saúde esses casos são considerados uma anomalia, uma disfunção sexual. Para uma boa educação sexual é necessário a disponibilidade para o educar, o equilíbrio, serenidade, paciência e disposição. Assim como qualquer pai ou mãe ou substitutos devem primeiro buscar o seu equilíbrio dentro da sexualidade para transmitir aos filhos a noção de que a sexualidade é um aspecto normal do ser humano e principalmente natural.
A arte da sedução: aulas de strip tease, pole dance, dança do ventre… Vale tudo para agradar o parceiro? E quem é tímido como faz?
O que vale para agradar o parceiro é saber exatamente o que ele gosta. Não existem manuais prontos ou cartilhas dizendo o que é bom ou não. Esses elementos fazem parte de um mecanismo machista que persistem em deixar a mulher como objeto, mas existem coisas básicas que sempre dão certo: conversa, interesse, parceria, admiração e boa companhia.
Se grande parte das mulheres tem dificuldade para atingir o orgasmo, um contingente considerável de homens sofre com ejaculação precoce e problemas de ereção, que têm causas físicas e psicológicas. Estes são os maiore,s vilões dos amantes?
Indiscutivelmente sim. Tanto mulheres anorgásmicas quanto homens com ejaculação precoce devem tratar sua ansiedade em relação ao ato sexual. Duas coisas que não casam nunca: tensão e troca sexual. Portanto uma vez descartada a causa física, deve-se tratar o emocional dessas pessoas.
Você é autora de um livro de grande sucesso (Sexo da Gente), cuja principal receita é abordar a sexualidade de maneira simples. Se fosse para se dedicar a um projeto novo, paralelo às colunas para a Tribuna e Paraná Online, qual seria o foco de um eventual novo trabalho. Que tipo de orientação está faltando para que as pessoas sejam mais felizes na cama, na sua opinião?
Com muita satisfação abraçaria esse novo projeto levando o máximo de informação aos leitores de forma simplista como deve ser encarada a vida sexual. A grande orientação que está faltando na minha opinião é levar a mensagem para as mulheres não se renderem à mídia de um modo geral, que insiste em passar rótulos para todas as mulheres, no sentido de que elas tem que ter seios siliconados, bumbuns levantados, pernas e braços sarados, enfim, um corpo perfeito e uma carinha feliz de novela das 8 para ser uma boa amante. As mulheres têm que entender que bons relacionamentos, uma boa vida sexual não depende de um corpo perfeito. E os homens precisam perceber que as mulheres ainda são vítimas de um sistema machista e que elas precisam sim, ouvir deles a importância que tem em suas vidas. Eis aí o grande afrodisíaco!