No cruzamento da Rua Fagundes Varela
com a BR-116 seria construído
um viaduto em função do metrô.

A desistência da implantação do metrô em Curitiba trouxe uma nova proposta para atender a demanda de passageiros em Curitiba. Uma das possibilidades deverá ser a introdução de uma linha de expressos articulados ou biarticulados, fazendo a ligação entre a capital e outros municípios da Região Metropolitana, passando pela BR-116. A proposta já vem sendo defendida por alguns especialistas em trânsito. A mudança, porém, deverá ser muito mais ampla que a simples introdução de mais veículos.

O consultor de trânsito Ulisses Iarochinski entende que precisa haver um planejamento maior, para não privilegiar somente uma categoria. Ele defende que em Curitiba existe o que chama de “império dos ônibus”. Ou seja, os veículos de passageiros têm a preferência nas vias da cidade. “Quando um ônibus precisa cruzar uma via, por exemplo, ele corta a frente de outros veículos. Isso gera um conflito entre motoristas, que pode refletir em um acidente de trânsito alguns metros à frente pelo estresse gerado”, explica. Ele argumenta ainda que os motoristas de ônibus não recebem treinamento suficiente, como de direção defensiva, o que resulta em muitos problemas no trânsito.

Outro ponto destacado pelo consultor é que Curitiba não cumpre determinações estabelecidas pela Organização das Nações Unidas (ONU), que estabeleceu na Convenção de Viena, na década de 70, regras sobre o trânsito, aceitas inclusive pelo Brasil. Uma delas diz respeito ao estacionamento dos veículos. “Curitiba é a única cidade do mundo onde os veículos estacionam do lado esquerdo da via. Isso foi implantado para favorecer os ligeirinhos”, aponta Iarochinski.

Outro problema, que também desrespeita a convenção, é a falta de guias nas ruas para a parada dos ônibus. “Os veículos de transporte coletivo precisam parar na rua e os passageiros descem nas calçadas. É só aqui que isso acontece”, comentou.

Segundo Iarochinski, antes de qualquer medida por parte da Prefeitura, é necessário desenvolver uma engenharia de tráfego, que passe pela orientação de motoristas e pedestres. “Não é só colocar canaletas na BR-116 e esquecer que todo o resto está um caos, com trânsito lento, veículos gastando mais combustíveis e gerando mais poluição ao planeta”, pondera.

Exemplo

O sistema de transporte de Curitiba foi apresentado, junto com Bogotá, como proposta compatível a ser implantada em Lima, no Peru. A informação é do diretor da empresa Transcraft – que trabalha com projetos de transporte -, Alan Cannell. Para ele, a BR-116 é, sem dúvida, o principal corredor de ligação da Região Metropolitana. Iarochinski entende que a operação com ônibus expressos nesse trecho, além de ser mais flexível à demanda, tem um custo muito menor que o metrô. “É uma tecnologia já conhecida e com custo baixo”, afirma. Mas para isso, defende, precisam ser estabelecidas diretrizes, com a criação de pistas marginais e acessos mínimos para retorno e semáforos – grandes geradores de acidentes – e mais transposições de nível Para Cannell, não existem desvantagens nessa idéia, “pois é uma tecnologia já conhecida e que funciona bem na cidade.”

São Paulo adota mesmo modelo

A cidade de São Paulo vai implantar a integração e a tarifa única no sistema de transporte coletivo municipal. O modelo proposto pela Prefeitura paulistana é muito parecido com o iniciado em Curitiba há três décadas. A licitação para a formatação do sistema foi aberta na semana passada pela prefeita Marta Suplicy. A intenção de levar para São Paulo o que deu certo em Curitiba já havia sido anunciada, em abril, pela assessora técnica da Secretaria Municipal de Transportes de São Paulo, Ana Odila Paiva Souza, durante o Fórum de Desenvolvimento Urbano Sustentável, que aconteceu no Parque Barigüi.

“O sistema integrado de Curitiba serve de modelo para todas as cidades brasileiras”, afirmou Odila. “Isso aconteceu porque em Curitiba houve uma continuidade nos últimos trinta anos, que nós, em São Paulo, não conseguimos manter”, completou. Odila é coordenadora do Projeto de Requalificação do Transporte Coletivo de São Paulo, programa municipal que vai dividir a cidade em oito lotes para o gerenciamento do sistema. Os lotes serão concedidos diretamente pela Prefeitura para empresas privadas.

Atualmente todas as 1,2 mil linhas de ônibus da cidade são administradas por uma empresa pública que terceiriza o serviço. “Não temos um verdadeiro sistema de transporte. Não existe um serviço público eficiente sendo prestado. Queremos desenvolver um sistema bem-estruturado”, disse ela. O novo mapa do transporte público, dividido em oito lotes, prevê a extinção de 46% das atuais 1.576 linhas de ônibus e lotações da capital paulista. A idéia é acabar com os trajetos longos, que atravessam diversos bairros em direção ao centro expandido, racionalizando os custos do transporte. “Hoje existem dezenas de linhas que partem de pontos diferentes da cidade mas que passam pelos mesmos trajetos, especialmente o centro. Queremos organizar e acabar com essa sobreposição desnecessária para atender melhor as regiões que hoje estão defasadas”, explicou a assessora técnica.

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