Hoje é a festa dos 50 anos do Colégio Estadual Alcindo Fanaya, em Curitiba, especializado no atendimento de alunos surdos, e não faltam motivos para comemorar. Há 5 anos, apenas três crianças cursavam a quarta série e não havia alunos estudando em séries posteriores. Hoje são 35 na quarta série, noventa estudando de quinta a oitava série e tem até uma turma iniciando o ensino médio. A realidade mudou depois que o colégio deixou de dar enfoque à reabilitação dos alunos e passou a centrar as atividades no desenvolvimento acadêmico.
As mudanças começaram em 1997 quando o colégio passou a se integrar com a Secretaria Estadual de Educação. A diretora, Nerci Maria Maggioni Martins, explica que até esse período as atividades eram direcionadas quase que exclusivamente para o desenvolvimento da fala. Resultado: “Eles não desenvolviam a parte acadêmica e quase sempre não aprendiam a falar de um modo que os outros entendessem”, diz.
Agora os alunos seguem o currículo de uma escola normal. Os professores têm formação na área que atuam, em Educação Especial e ainda de Libras (Linguagem Brasileira de Sinais). A diretora explica que os conteúdos são transmitidos com auxílio da língua de sinais. Mas não é só isso, os docentes elaboram atividades em que eles possam vivenciar o que estão aprendendo. “Quando o trabalho é sobre meio ambiente, por exemplo, o professor os leva para a horta”, explica.
Aqueles que chegam à escola e não sabem Libras aprendem no dia a dia com os colegas e docentes. A matéria em que eles têm mais dificuldade é a língua portuguesa. “Para os surdos ela é considerada uma segunda língua”, diz Nerci. Ela explica que o que dificulta é o fato de a língua de sinais ter uma estrutura diferente da língua portuguesa, sendo mais parecida com o Inglês.
Mas os alunos aos poucos conseguem superar os obstáculos. Nerci diz que muitos estão querendo até partir para o ensino superior. Realidade que antes parecia distante, já que eles desistiam nas séries iniciais. Mesmo com o novo currículo, os alunos continuam tendo apoio psicológico, fonoaudiológico, de otorrino e assistente social. Eles estudam de manhã e à tarde fazem as outras atividades. O almoço é garantido por empresas que fazem doações. Esperamos que agora com o novo governo tenhamos mais apoio”, diz.
A escola é a única de Curitiba que atende exclusivamente a alunos surdos. São 212, de Curitiba e Região Metropolitana com idade entre 2 a 27 anos. Os demais alunos da rede estadual estão incluídos em escolas regulares. Ela não é contra o processo de inclusão, mas diz que muitos professores não estão capacitados para esse tipo de público. Mas reforça que os alunos que têm apoio conseguem ir bem em uma escola convencional. “O ideal seria os pais poderem optar pela inclusão ou por uma escola só para surdos”, diz.