típico do verão

Coco verde não deu certo no Paraná

Praticamente todo o coco consumido no Paraná vem de fora do estado. Foto: Felipe Rosa.
Praticamente todo o coco consumido no Paraná vem de fora do estado. Foto: Felipe Rosa.

Foi um sonho sonhado pela Emater e por produtores de regiões mais quentes do Paraná, como o Litoral e o Noroeste do estado. Se em vez de importar coco verde do Espírito Santo e da Bahia, numa viagem de mais de 1500 km, por que não plantar aqui mesmo a fruta que produz a bebida natural mais associada à praia e ao verão?

Não dá para dizer que não se tentou. Há cerca de 15 anos, a Emater começou a acompanhar de perto dois cultivos experimentais de coco verde, no Litoral paranaense e na região de Paranavaí, analisando 19 variedades. À época, os próprios agricultores, em busca de diversificação das atividades, vinham trazendo mudas do Nordeste para experimentar.

Próximo da costa paranaense, a ideia naufragou rapidamente. “É temeroso o plantio comercial de coco verde no litoral. O vento sul e as temperaturas baixas causam um abortamento generalizado. O coco não fecunda, não ocorre a polinização cruzada”, resume Cirino Correia Júnior, coordenador de projetos de plantas potenciais, medicinais e aromáticas da Emater.

No Noroeste, havia esperança de que as coisas andassem melhor. Dezenas de produtores separaram um punhado de hectares para cultivar o coco verde anão, pensando numa segunda ou terceira opção de renda na propriedade. O fato é que várias dessas palmeiras, hoje, servem apenas para embelezar a paisagem e produzir esporadicamente algum coco verde, para matar a sede dos proprietários e vizinhos.

“Lá no Noroeste do Paraná também tem vento frio, tem inverno. Dos cinco cachos que uma palmeira deveria dar, só uns três acabam produzindo”, revela Cirino Júnior. Outro problema é a disponibilidade de água, que costuma ser abundante próximo às praias, por causa da baixa profundidade do lençol freático, mas é muito irregular no interior do Estado. Os poucos produtores que insistem com o coco verde estão recorrendo à irrigação.

Doenças fúngicas

O engenheiro florestal Erni Linberger, que também participou do projeto experimental da Emater, lembra que os fungos podem ser implacáveis com as palmeiras no interior do estado. O calor e a umidade mostraram-se propícios para a instalação da antracnose e da fusariose, doenças que provocam necrose, manchas e apodrecimento da planta, comprometendo a produção.

E tem ainda a abelhinha sem ferrão conhecida como arapuá. Quando chega a florada, os enxames atacam e acabam derrubando os futuros coquinhos. “Como algumas palmeiras são muito altas, fica difícil fazer a pulverização. E daí acabam não produzindo mesmo”, conta o técnico.

A incerteza sobre os resultados joga contra a cultura. “Tem anos que, devido às condições ideais, o coco verde é altamente viável. Em compensação, no ano seguinte é frustrante. Economicamente, fica inviável por que você não tem certeza da probabilidade de ter sucesso. E se perder uma safra, não é algo que se recupere em poucos dias. Só no outro ano. Mas, como o pessoal plantou os cocos, eles vão deixando lá”, avalia Linberger.

O extensionista, no entanto, acredita que ainda não é o caso de jogar a toalha: “O pessoal pegou e plantou mudas que os vendedores trouxeram do Nordeste. Teríamos de encontrar um clone resistente às condições locais. Quem sabe de alguma região com condições semelhantes de longitude, latitude e clima do Sul do Brasil”.

O produtor Pedro Seixas, do município de Alto Paraná, foi daqueles que comprou mudas há 15 anos, sem atentar para a variedade. Das 350 palmeiras de coco gigante, já cortou metade. “São de porte muito alto, chegam a uns 10 metros. Estão tomadas pelo ácaro e não tem como pulverizar inseticida. Faz dois anos que não colho nada”, conta.

O que deu para salvar foram os 70 pés de coco anão, de onde seu Pedro tira cerca de 100 cocos por ano, por palmeira. Ele revende os cocos por R$ 1,40 cada. “Com a variedade certa e fazendo os tratos culturais, eu acho que é viável. O problema é que não é a atividade principal, daí a gente acaba não fazendo os tratos necessários, por que deixa para quando sobrar tempo”, conclui.

Mais tempo

No campus da Universidade Estadual de Maringá, o professor Denis Bife toca há dois anos e meio um experimento com o coco verde anão. “O problema até aqui tem sido a abelha arapuá. E há o risco das geadas ocasionais, a cada três anos, que não prejudicam o fruto em si, mas estragam a casca, e o consumidor não gosta”, avalia. O professor de fruticultura entende que é preciso mais tempo para um veredito sobre a viabilidade do coco na região. E lembra que há um grande produtor no município de Colorado, que continua investindo no negócio.

Na ponta do consumo, o verão mais ameno deste ano não tem ajudado o comércio. Lourisnei Batista, dono de uma quitanda de coco verde no bairro Cristo Rei, em Curitiba, calcula que as vendas estão 20% mais fracas. Com demanda menor, é possível levar para casa de 4 a 5 cocos, conforme o tamanho, por R$ 10. O coco vem de Mucuri e São Mateus, no Espírito Santo, numa viagem de cerca de 1500 km. “Neste ano não tivemos estouro de preço nem no Natal, nem no Ano Novo e, pelo jeito, nem no Carnaval. Tá sobrando coco no Nordeste”, diz Lourisnei, que vende em média quatro mil cocos por semana em Curitiba.

E o coco verde do Paraná? “Não conheço, nunca comprei”, diz o comerciante.

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