Rotina de desgaste

Cobradores criticam condições precárias nas estações-tubo

Mesmo em greve, os cobradores tiveram que permanecer nas empresas, assinar o ponto e cumprir o horário de trabalho, sob o risco de terem o dia de trabalho descontado. Especialmente nas linhas que operam na região metropolitana, muitos funcionários trabalharam normalmente durante a primeira viagem e chegaram a cobrar a passagem dos usuários. Quando chegaram nos terminais, especialmente no Guadalupe, foram informados por integrantes do Sindicato dos Motoristas e Cobradores de ânibus de Curitiba e Região Metropolitana (Sindimoc) sobre a paralisação.

“Cheguei às 8h e até 9h30 trabalhei normal. Não me avisaram nada, só quando cheguei no terminal. Mas estou cumprindo horário e só vou ficar passeando”, disse o cobrador Rodrigo Rodrigues, que permaneceu em seu assento de trabalho, mesmo sem receber dos passageiros. A auxiliar de enfermagem Dalva Machado de Almeida, 31, acompanhada da mãe e do filho, chegou a pagar a passagem quando embarcou no terminal central de São José dos Pinhais em direção ao Centro de Curitiba. “Só fiquei sabendo depois”, relatou ela, que no retorno embarcou pela porta de saída dos passageiros. “É estranho”, comentou.

Outro cobrador, que preferiu não se identificar, ficou na estação-tubo na Praça do Expedicionário onde trabalha. “Liguei na empresa e me mandaram ficar aqui, mas não sei se a cobradora do próximo turno vai vir”, contou ele, que validou sua presença e ficou observando os passageiros entrarem sem pagar.

Ele ainda comentou sobre sua rotina em 13 anos trabalhando em estações-tubo. “Já fui assaltado nove vezes, mas o pior problema é o clima e ir ao banheiro”, apontou. Mesmo com a possibilidade de um profissional que permanece no ponto durante 10 minutos para que os cobradores possam ir ao banheiro, os chamados peniquinhos, ele precisa se revezar com outro colega nos momentos de aperto. “Além disso, no calor é calor demais e no frio é frio demais”, observou.

Em frente às empresas, o movimento de trabalhadores era grande e muitos também reclamaram das condições de trabalho, principalmente nas estações-tubo. “Pra gente, que é mulher, é muito constrangedor. A gente sofre mais no período de menstruação, quando precisa ir mais ao banheiro”, lamenta uma cobradora de 35 anos, há quatro na profissão. “Já passei por muita humilhação e também não fizeram nada”, criticou.

Seu colega que está há 12 anos na função diz ainda que é comum atestados médicos não serem aceitos. “Se nos dispensam por quatro dias, por exemplo, o médico da empresa passa por cima e só dá um dia. O resto, descontam”, afirma o homem de 51 anos.