A não aprovação da clonagem terapêutica pelo Congresso Nacional não preocupa o médico geneticista e membro do projeto Genoma Humano, Salmo Raskin. Para ele, a liberação deve acontecer mais à frente, quando as pesquisas sobre as células-tronco estiverem mais avançadas não só no Brasil como no mundo.

Na última quarta-feira, a parte do projeto sobre Biossegurança que tratava da regulamentação da clonagem terapêutica, que seria votada no Senado, foi excluída, principalmente devido à pressão da bancada católica. O restante do projeto, que seria votado ontem, também não foi.

Segundo Raskin, as pesquisas com células-tronco deverão ser liberadas. Elas são encontradas em embriões com até seis dias de vida, e são as responsáveis pela formação de todos os tipos de tecido que formam o corpo humano. “Hoje existem 20 mil embriões congelados em clínicas de reprodução assistida no Brasil. Com as células-tronco desses embriões é possível pesquisar e descobrir como formar vários tipos de tecido”, afirmou.

Conforme o geneticista, a clonagem terapêutica é a técnica pela qual embriões são criados a partir de célula da própria pessoa doente. Com esses embriões é desenvolvido o tecido a ser aplicado nela. “Mesmo com toda a técnica para transformar células-tronco em tecidos, no momento de substituir esse tecido o organismo humano iria rejeitar, já que ele foi produzido a partir de outro indivíduo”, explicou. “A clonagem terapêutica usaria o núcleo de uma célula qualquer da pessoa doente. Ela seria transferida para um óvulo e geraria um embrião. A partir desse embrião, seriam retiradas células-tronco que produziriam tecidos que não seriam rejeitados.”

O geneticista destacou que Estados Unidos e Alemanha, por exemplo, ainda não liberaram a clonagem terapêutica. “Mas daqui a algum tempo todos os países vão liberar, quando a técnica para transformar a célula-tronco em tecido estiver completamente dominada”, acredita. Na teoria, será possível produzir células do pâncreas e colocar no órgão de um diabético, que passaria a produzir insulina, por exemplo. Neurônios para substituir aqueles de pessoas com paralisia cerebral é outro dos inúmeros exemplos teóricos que podem ser dados a partir do domínio dessa técnica.

Mercado

“Com certeza, até por uma questão de mercado, os países que hoje não liberam vão liberar. A Inglaterra já permite. Os Estados Unidos, por exemplo, não vão querer ficar para trás. Quanto um diabético não pagaria para ter seu problema resolvido?”, questionou, deixando claro que se as pesquisas chegarem ao resultado adequado nada irá impedir o sucesso da clonagem terapêutica. “É importante destacar que não se pode criar um expectativa exagerada. Provavelmente quem vai se beneficiar será próxima geração, apesar de eu achar que o desenvolvimento dos tecidos já deve ter sua técnica dominada em dez anos”, concluiu.

Entidade apóia a nova técnica

Para a assistente social da Associação Paranaense de Reabilitação (APR), Rosana Clabond Almeida, a clonagem terapêutica tem que ser aprovada o mais rápido possível: “Vejo muitos casos que poderiam ser resolvidos”. Ela lembra que a APR trabalha com a recuperação de 200 crianças, a maioria com paralisia cerebral, além da parte de fisioterapia de adultos, principalmente com órgãos amputados.

Joelma Aparecida Pereira, 29 anos, teve paralisia infantil aos dois anos de idade e hoje tem grande dificuldade de locomoção, o que a obriga a usar uma prótese na perna esquerda. Ela já trabalhou como secretária, mas hoje nem procura mais emprego: “Não me aceitam por causa de meu problema. Além disso, com a dificuldade de locomoção é muito complicado pegar ônibus e ir até o local do trabalho. Acabo ficando presa em casa”, contou. Joelma é favorável à clonagem terapêutica e a vê como uma esperança. “Eu me ofereceria a participar de uma pesquisa. Não só estaria tentando resolver o meu como o problema de várias outras pessoas.” (LM)

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