Dois jovens naturais de Serra Leoa, na África, foram encontrados ontem pela Polícia Federal (PF), viajando de maneira clandestina num navio de bandeira britânica ancorado no Porto de Paranaguá. Kennedy Adams, 20 anos, e Charley Joseph, 22, que embarcaram no dia 30 de junho no navio Green Winter, estão sob regime de liberdade vigiada, devendo ser repatriados em no máximo 40 dias.
Somente no período de janeiro a julho, quinze clandestinos já foram interceptados pela PF em Paranaguá. Todos eles vieram de países do continente africano. Esse número é recorde, já que, até então, o número máximo de clandestinos em Paranaguá foi registrado durante todo o ano de 2001, quando 14 pessoas entraram ilegalmente no Brasil por navio.
O agente da Polícia Federal responsável pelo setor marítimo, Valdomiro Nenevê, tomou o depoimento dos dois rapazes. Eles contaram que resolveram se arriscar a sair pelo mundo para fugir da guerra civil que seu país atravessa. A dupla embarcou no navio no Porto de Lagos, capital da Nigéria. Seguiram sem ser identificados por cerca de dez dias, quando a água e os alimentos que haviam levado se esgotaram e eles se entregaram à tripulação do navio, que veio ao Brasil buscar frango congelado. “O capitão os alojou e deu todo o tratamento humanitário”, revelou o agente.
Segundo Nenevê, a Lei 6.815/80 – que trata da repatriação – diz que toda a responsabilidade pelos gastos com alimentação e moradia dos clandestinos, assim como a locomoção deles e dos policiais que os acompanharão a seu país de origem, são do transportador, ou seja, do responsável pelo navio. “São cerca de US$ 20 mil por clandestino”, contou. Além disso, a empresa transportadora teve que pagar uma multa de R$827,75 por cada um. Charley e Kennedy permanecem num hotel de Paranaguá, sendo sempre acompanhados por policiais federais. “É liberdade vigiada, já que eles não cometeram nenhum crime para serem presos. Mas caso façam qualquer coisa errada, podem ser presos aqui no Brasil”, explicou.
No processo de repatriação, a superintendência da PF contata as embaixadas ou consulados dos países envolvidos para conseguir os documentos necessários. No caso de Serra Leoa, que não tem representação diplomática no Brasil, a PF expede aos clandestinos o passaporte amarelo, específico para estrangeiros.