Morda-se de ciúme quem nunca se sentiu incomodado com o sucesso profissional de um colega de trabalho, da olhadinha discreta que o namorado ou namorada deu para outra mulher ou homem, do carro novo de alguém ou da popularidade de uma determinada pessoa dentro de um grupo de amigos. O ciúme é um sentimento universal, e que pode ser encarado por algumas pessoas como algo normal ou mesmo como uma forma diferenciada de amor. Porém, quando é exagerado, pode resultar em muitas angústias e prejuízos tanto para quem o sente quanto para quem é alvo do sentimento.
Segundo a psicóloga Alessandra Fendrich, o ciúme atinge as pessoas independente de idade, sexo e classe social. Dessa forma, todos estão sujeitos a conviver com o sentimento em alguma fase da vida, seja em maior ou menor intensidade. ?A diferença é que geralmente as crianças pequenas não identificam o sentimento e as mulheres costumam tê-lo com maior freqüência por serem mais emotivas e agirem menos com a razão do que os homens?, afirma.
De acordo com o psicoterapeuta e professor Eduardo Ferreira Santos, que é autor do livro Ciúme – O Medo da Perda, existem três tipos ou níveis de ciúme: o enciumado, o ciumento e o ciúme patológico. ?O enciumado se sente ameaçado de maneira ponderada, em condições razoavelmente normais. O ciumento tem o ciúme dentro dele em decorrência de algum distúrbio interno desconhecido. Já o ciúme patológico é considerado doentio e influi consideravelmente na qualidade de vida da pessoa?, explica.
Ciúme doentio
?O ciúme, quando se transforma em algo doentio, faz com que a pessoa fique totalmente transtornada. Geralmente, ele se inicia como um ciúme normal, conforme a personalidade e a história de vida da pessoa. Porém, vai se transformando em algo grande e que gera muito sofrimento?, diz Alessandra.
Na maioria das vezes, o ciúme doentio costuma ser bastante perceptível na relação entre casais. Geralmente, as mulheres têm medo de que seus parceiros se apaixonem por outra e eles, por sua vez, temem que elas mantenham relações sexuais com outro. Quando isso acontece de forma exagerada, o relacionamento acaba sendo altamente prejudicado e o autor do ciúme acaba transformando a vida do companheiro em um verdadeiro inferno. ?Quando alguém sente muito ciúme do companheiro ou companheira, acaba imaginando coisas pouco lógicas. Em uma situação em que o parceiro atrasa para um compromisso, por exemplo, a pessoa com ciúme doentio pode começar a imaginar que o atraso está relacionado a traição?, afirma a psicóloga.
Nessas situações, geralmente a pessoa que é alvo do ciúme acaba se esgotando e chegando a um ponto em que não suporta mais manter o relacionamento, vindo a rompê-lo.
Casos
A estudante Elaine Oyamada acredita que o sentimento pode apimentar o namoro. ?Acho que um pouco de ciúme é saudável. Sinto um pouco pelo meu namorado e sei que ele também sente por mim?, conta.
O também estudante Alexandre Caetano garante que resolve tudo com uma conversa. ?Às vezes eu saio com amigas e minha namorada fica enciumada. Porém, tudo se resolve com conversa. Acho que em qualquer relacionamento deve haver confiança mútua?, ressalta.
Tratamento
Felizmente, o ciúme doentio tem cura. Alessandra explica que o primeiro passo para a cura acontece quando a pessoa reconhece que tem o problema, passa a aceitá-lo e procura ajuda profissional.
Preocupação com atitude das crianças
Inspiração constante de músicos e poetas, o ciúme pode ser ainda mais preocupante quando atinge crianças. Entre elas, o sentimento costuma se manifestar principalmente em relação aos pais, geralmente diante da chegada de um novo irmãozinho e do medo de perdê-los. ?Os sentimentos de rejeição e ciúmes de uma nova criança são normais. Muitas vezes, o filho mais velho pode acreditar que a chegada de um irmão mais novo pode representar a perda do afeto dos pais. Ele deixará de ser único, perdendo a atenção exclusiva e tendo que dividir espaço?, declara a doutora em psicologia Lidia Weber.
A situação se torna ainda mais grave quando a criança mais velha começa a apresentar quadros de regressão. Isto acontece quando ela volta a fazer coisas que já não fazia mais, como xixi na cama, chupar o dedo ou chorar à noite. ?Inconscientemente, a criança volta a fazer essas coisas com o objetivo de atrair para si a atenção dos pais.?
Embora um pouco de ciúme seja considerado inevitável, Lidia acredita que o problema pode ser minimizado se o filho mais velho for preparado para a chegada do irmãozinho. Desta forma, é indicado fazer com que ele entenda que vai ter um companheiro para brincar e se envolva com os preparativos da chegada do bebê, como compra de roupinhas e arrumação de quarto. ?Quando o bebê nasce, é difícil os pais tratarem os dois filhos da mesma forma. Porém, o nível de atenção dada a ambos deve ser o mesmo. Outra coisa importante é tratar todos com justiça e valorizar o fato de o mais velho ser o mais velho?, afirma.
Exemplo
O fato de ter formação em psicologia não evitou que Lidia deixasse de enfrentar o problema com seus próprios filhos, que atualmente estão com 14 e 11 anos de idade. Ela recorda que, quando eles eram pequenos, houve uma situação bastante típica de ciúme. ?Lembro de meu filho ainda bebê sentado em uma cadeirinha balançando as pernas e de minha filha mais velha sentada ao lado com cara de emburrada. Em um dado momento, ela me chamou e disse que o bebê a tinha chutado, numa clara tentativa de chamar a atenção para si.?