O Centro de Atendimento Integral ao Fissurado Lábio-Palatal (Caif), da Secretaria de Estado de Saúde (Sesa), começou neste mês o atendimento dos pacientes com crânio-sistose, um dos mais graves diagnósticos de má formação da face. O problema, que atinge o crânio e parte do rosto, necessita de cirurgia de alta complexidade, que dura em média 6 horas. Participam do processo um neuro-cirurgião e um cirurgião plástico para corrigir desvios estéticos. Este ano foram realizadas duas cirurgias e os dois pacientes passam bem. Para o início de 2004 já estão programadas mais oito operações.
Estima-se que, a cada 3 mil crianças nascidas, uma tenha crânio-sistose. ?É importante que o problema seja tratado logo após o nascimento do bebê. Essa enfermidade não deixa o cérebro crescer de maneira adequada, podendo ocasionar lesões?, diz o médico Renato de Freitas, responsável no Caif pelos procedimentos.
Ele explica que não há causa específica para a aparição do problema, porém alguns casos são genéticos. A realização das cirurgias só está sendo possível em função do alto preparo técnico da equipe do Caif e do novo equipamento adquirido pela Sesa e especial para esse tipo de intervenção. Todo o procedimento cirúrgico é feito no Hospital do Trabalhador (HT) e o paciente tem acompanhamento permanente da equipe do Caif até a completa recuperação.
A realização das cirurgias de crânio-sistose é mais um passo na história do Caif, que foi fundado durante o primeiro governo de Roberto Requião e hoje é referência nacional no tratamento de pacientes com fissura lábio-palatal e deficiência auditiva. Mensalmente são realizadas cerca de cem cirurgias e distribuídos 240 aparelhos auditivos.
A fissura lábio-palatal, conhecida popularmente como ?goela de lobo?, resulta de má formação dos lábios e do céu da boca, antes mesmo da criança nascer. Os fissurados são divididos em quatro grupos. O primeiro é estética da face, considerado o mais agressivo. Caso não seja resolvido rapidamente pode comprometer a vida social da criança e da sua família. O segundo é de fala. O paciente pode apresentar dificuldades de alimentação, além de alterações na fala e voz hipernasal. O terceiro afeta a audição. Neste caso, existe a possibilidade de perda auditiva se o tratamento não for realizado a tempo. No quarto grupo, está o problema de articulação dentária. Aqui a falta do osso no maxilar resulta em uma irregularidade na posição dos dentes. ?Desde que o Caif foi fundado, já realizamos mais de 12 mil cirurgias, melhorando consideravelmente a vida dessa pessoas?, comenta o diretor Lauro Consentino Filho.
O Caif fica em um prédio ao lado do HT, onde são realizados todos os procedimentos cirúrgicos. O centro, desde a sua fundação, em 1992, é pioneiro no sul do país na reabilitação integral de crianças portadoras de más formações congênitas da face. Em todo o Brasil são apenas dois centros nestes moldes, com atendimento integral pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Além do Caif existe um em Bauru, no interior do São Paulo.
O serviço oferecido pelos profissionais do centro viraram também referência internacional. O médico Vinicius de Freitas já viajou para vários países realizando operações voluntárias. ?A última viagem foi para o Quênia. Operamos quinhentas crianças em 5 dias, uma verdadeira maratona?, lembrou ele. O convite foi feito pela instituição norte-americana Operation Smile. Para 2004 a expectativa do diretor do Caif é a ampliação da área construída, para aumentar o atendimento.
