A saga por uma vacina contra o vírus da Covid-19 agora tem esforços também aqui no Paraná. Cientistas da Universidade Federal do Paraná (UFPR) foram selecionados por um projeto de financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) e agora dão início a um projeto com prazo de dois anos.
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Os pesquisadores vão receber nesse período R$ 320 mil para custos com materiais e bolsas. A estrutura do laboratório para o projeto já existe, o do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular, que inclusive “reduziu” o pedido no edital por um valor maior, que poderia inclusive inviabilizar o financiamento.
Como o projeto foi viabilizado agora e deve durar pelo menos dois anos, a possível futura vacina não compete em celeridade com outras em estágios mais avançados, como a da universidade britânica de Oxford, que fará testes em massa no Brasil ainda neste mês, ou a do laboratório chinês Sinovac, que fechou parceria com o Instituto Butantan e deve fazer testes na população em julho.
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“A gente perdeu essa (primeira) onda, já existem grandes empresas farmacêuticas da China, Alemanha e universidades como Oxford que começaram antes, já têm o know how (conhecimento) com tudo engatilhado e dispararam rapidamente para entrar na fase clínica, mas podemos contribuir muito para estarmos preparados para uma próxima pandemia, uma segunda onda [de Covid-19] ou um novo vírus”, diz um dos pesquisadores, o professor do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular da UFPR, Marcelo Müller dos Santos.
Na avaliação do professor, a atual pandemia mostrou a falta de preparo do país em diversos aspectos, como o de insumos biológicos, que poderiam ter, por exemplo, facilitado mais rapidamente um maior número de testes e conferido um gerenciamento mais eficaz da doença.
No momento o projeto está na fase pré-clínica. “Esperamos ter o primeiro lote de partículas para inocular e iniciar testes em camundongos entre um e dois meses”, diz o professor. Caso os testes sejam positivos e produzam anticorpos sem riscos nos animais, a vacina segue para a fase clínica, em humanos, o que aconteceria possivelmente apenas em 2021.
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Esta fase tem três etapas, sendo a primeira com algumas dezenas de voluntários. Na sequência o número de testes sobe para a casa das centenas de voluntários com foco na segurança da vacina (efeitos colaterais) e, por fim, a última é na casa dos milhares de testes com foco na eficácia (o volume de anticorpos). “Possivelmente vamos tentar alguma parceria com algum órgão ou instituto do estado com experiência em estudos clínicos”, adianta o professor.
Quais as vantagens da vacina da UFPR?
O projeto de vacina da UFPR consiste em produzir proteínas com fragmentos imitadores do vírus capazes de serem transportadas em nanopartículas biocompatíveis e biodegradáveis do polímero bacteriano polihidroxibutirato (PHB), já testados com sucesso na imunização de camundongos contra tuberculose e hepatite C. Ao cumprir o papel de ativar o sistema imune, as nanopartículas serão degradadas pelo organismo.
“A primeira vantagem é o baixo custo para produção comparando as vacinas que levam o vírus atenuado ou vetor viral (como as das vacinas de Oxford e Sinovac), que tem alto custo de produção em larga escala. O segundo é que a chance de uma infecção secundária é mínima”, explica Santos. Com o uso de partículas imitadores, o risco de outras infecções é praticamente extinto, diferente de quando o vírus está inativado, mas que pode ter um lote ou outro mal atenuado, por exemplo.
O professor também explica que a técnica usada pelos estrangeiros não é comum no mercado comercial. “Pelo que pesquisamos, apesar de bons resultados experimentais, a técnica (que utiliza adenovírus como vetor para expressar proteínas) é utilizada apenas em uma vacina comercial conhecida, uma antirrábica veterinária”, diz. Além disso, a eficácia pode ser comprometida em indivíduos que já tenham tido contato como o adenovírus.
“A busca pela vacina é o ‘Santo Graal’ da ciência no momento. Nós vamos ter em breve a resposta sobre esse entrave do custo dessas vacinas, o esforço de governos, da indústria. É claro que vai existir o investimento para amenizar o impacto na saúde e na economia, agora se nesse ínterim surgir algo semelhante que custe metade do preço com certeza vão migrar”, avalia Santos.
O professor da UFPR ainda destaca que as nanopartículas que imitam os antígenos do vírus – ativando o sistema imune – podem ser replicadas em vacinas para outras doenças, sejam oriundas de vírus, bactérias ou fungos.
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