A auxiliar administrativa Cláudia Regina Colpi acorda todos os dias cinco horas da manhã. Ela mora em Bocaiúva do Sul e trabalha no centro de Curitiba. Para chegar no serviço, pega três ônibus e depois de 2h45 de viagem ela chega ao trabalho. Para voltar para casa, no fim do dia, é a mesma coisa: sai às 18h e chega em casa perto das 21h.
Assim como Cláudia, que optou por morar na Região Metropolitana de Curitiba (RMC) depois de ter casado por causa do custo de vida mais baixo, milhares de pessoas usam as cidades dos arredores de Curitiba apenas como dormitório.
Não existe uma fórmula padrão para classificar os municípios como sendo ou não cidades-dormitório. De acordo com o secretário de Estado Especial para Assuntos da Região Metropolitana, Edson Luiz Strapasson, é uma junção de diversos fatores que acaba levando a essa conclusão. São levados em conta o número de empregos formais, a população da cidade, índice de utilização do sistema de transporte intermunicipal entre outros para conseguir medir o nível de dependência econômica das cidades da RMC com Curitiba.
Quando se avalia a questão de empregos formais por exemplo, Agudos do Sul apresenta a situação mais crítica. A relação de empregos formais com a população é de apenas 1,94%. Quando se fala no inchaço populacional, Fazenda Rio Grande se destaca. O município cresceu 10,76% de 1991 a 2000, quando a média de crescimento populacional no Estado foi de 0,69% no mesmo período. São 4.255 empregos formais para uma população de 62.877 habitantes.
Analisando o uso diário do sistema de transporte para se deslocar até Curitiba, Pinhais fica em primeiro lugar, com 28,93% da população se deslocando diariamente para a capital. Mas Strapasson explica que esse índice alto não coloca Pinhais como uma cidade-dormitório. O município tem uma das maiores taxas de empregos formais em relação à população (18,66%) e o alto índice da locomoção a Curitiba se dá pela proximidade das duas cidades.
Já quando se avalia a situação de Almirante Tamandaré, a demanda pelo transporte a Curitiba explica bem o nível de dependência da cidade. 27,51% da população se dirigem diariamente para a capital. A cidade conta com uma taxa de empregos formais de 6,41% e, na última década, cresceu 5,49%.
Plano
Por terem absorvido uma grande carga social em função do crescimento de Curitiba, Strapasson afirma que é preciso contribuir para que os municípios da RMC sejam sustentáveis. ?É preciso que cada cidade tenha produção econômica para que a população local consuma ali, trabalhe na cidade e, desta forma, contribuam com o município?, explica. Para o secretário, esse será um dos grandes desafios do Plano de Desenvolvimento Interligado da RMC (PDI) que está traçando diagnósticos dos municípios da RMC que servirão de diretrizes para o planejamento integrado.
Strapasson afirma que as coisas só vão se resolver se for criada uma câmara de compensação metropolitana no qual os municípios mais desenvolvidos contribuiriam com um fundo que financiaria ações de desenvolvimento e geração de emprego nos municípios mais necessitados. ?Ou se cria uma câmara como essa para corrigir as desigualdades regionais ou não será possível contornar este problema?, afirma Strapasson.
Ligação não é exclusividade da capital
Mas essa interdependência dos municípios da Região Metropolitana não é exclusiva com a capital. Um bom exemplo é Itaperuçu. A cidade tem 22 mil habitantes e 922 empregos formais, de acordo com dados do Censo 2000. Já Rio Branco do Sul, cidade vizinha, tem a mesma população e 2.912 empregos formais. ?Fica evidente que Itaperuçu funciona como dormitório de Rio Branco, e isso se repete por toda a Região Metropolitana?, avalia o secretário, Edson Luiz Strapasson.
O secretário explica que essa dependência com a capital é muito negativa e só traz prejuízos. ?A população vem atraída para trabalhar em Curitiba, mas acaba se instalando nos arredores, porque é mais barato. Mas não gastam o salário na cidade onde vivem. Vêm consumir em Curitiba?, afirma.
Strapasson afirma ainda que as cidades se desenvolvem baseadas em peculiaridades. Topografia desfavorável, acesso viário precário e restrições ambientais dificultaram a chegada do ?progresso?, principalmente às cidades do Norte do Estado. ?É errado dizer que houve menos empenho dos prefeitos dessas cidades para atrair indústrias e gerar emprego. Diversas restrições tornaram certas cidades menos atraentes aos investidores. E, além disso, elas sofrem pela proximidade com Curitiba. Muitas são vistas como bairros da capital?, explica.
Qualidade de vida
O industriário Antônio Cezar Rinaldin mora em Campo Largo há 26 anos e todos os dias enfrenta 40 minutos de viagem para trabalhar em Araucária. ?Mudei para cá quando casei, em busca de uma qualidade de vida melhor?, conta Rinaldin que antes morava em Curitiba.
Mesmo tendo que recorrer à capital para fazer compras e outros bens de consumo, ele afirma que nem cogita a hipótese de morar mais perto do trabalho. ?É mais fácil mudar de emprego?, brinca.
Rinaldin justifica a preferência pela qualidade de vida que tem. Ele explica que jamais poderia ter uma casa grande com jardim em Curitiba, por causa do alto custo de vida na capital. (SR)
