Cidades do sul do Paraná podem ter visto chuva de meteoritos

Após um estrondo, União da Vitória, cidade na divisa entre o Paraná e Santa Catarina, tremeu. Porém, a procedência do fato ainda não foi confirmada. O Corpo de Bombeiros afirma que houve estrondo e tremor, mas nenhuma ocorrência foi atendida. A pedido dos bombeiros, o Clube de Aviação local sobrevoou a área, mas nada encontrou que justificasse o fenômeno. A Prefeitura também não tem explicação. Até agora, o que se tem são depoimentos da população, que parece assustada. Muitos ouviram, outros sentiram o abalo e alguns até viram algo, mas sem identificar.

Logo na entrada do município, no bairro Bom Jesus, Eduardo Gléden, de 62 anos, conta o que viu, por volta das 10h30 da última terça-feira. ?Eu estava arrumando uma cerca quando veio um tipo avião a jato, uma coisa estranha com uma roda de fogo. Aí estourou lá embaixo. O barulho parecia de canhão. Não sei como surgiu aquilo e o que pode ser. Era uma tocha de fogo que veio do céu. Eu estou com medo. Não era avião, não. Foi coisa feia?, conta o senhor. No centro da cidade, o ocorrido era comentário geral. Novas versões aparecem, desta vez de quem só sentiu o tremor. ?Eu estava lá no trabalho. Tremeu bastante?, comenta Osíris Moraes, de 36 anos, funcionário de um colégio. A Prefeitura também fica no centro, mas segundo a assessoria de imprensa, no prédio nada foi sentido.

No município vizinho de Paula Freitas, Roselaine Dalpra, de 22 anos, estava com a máquina e a centrífuga ligadas e, mesmo assim, escutou o estrondo, que diz ter sido forte. ?Durou mais ou menos um minuto o barulho. Achei que podia ter sido uma caldeira que explodiu?, diz ela.

O piloto Edson Ceasar, do Clube de Aviação, conta que sobrevoou a região atrás de vestígios. ?Fiz um vôo a pedido do Corpo de Bombeiros, mas até então eu não sabia do que se tratava. Pensei que pudesse ser um avião que tivesse caído, pois aqui é rota. No entanto, não era. A única coisa que vi de diferente foram vários pontos de queimadas. Um desses pontos pode ser o de uma queda?, afirma Edson.

Sem mistérios

O professor de astronomia Raulino Bortolini, um dos fundadores do Clube de Astronomia da cidade, acalma os moradores e diz que não tem mistério algum. ?98% de chance que foi um meteoro. Muitos desses corpos celestes são atraídos pela Terra e um a cada mil chega até o chão. Pode ter sido esse o caso. O barulho acontece pelo atrito do corpo com a atmosfera e, pelo barulho que fez, deve ter sido algo grande. Mas é um fenômeno natural, nada de outro mundo?, garante ele.

O professor aproveitou para contar a curiosidade de que naquela região há um fenômeno geomagnético bastante interessante. ?A ionosfera (terceira camada atmosférica, de baixo para cima) normalmente está entre 30 e 80 quilômetros da Terra. Aqui ela está muito baixa, a apenas no máximo 18 quilômetros. Não se sabe por que nem as conseqüências, mas talvez isso tenha interferido neste fenômeno atual?, comenta.

No final da tarde, ontem, as buscas, no céu e no chão, continuavam atrás de explicações.

Fenômeno pode realmente ter acontecido

Roger Pereira

Segundo Paulo Roberto Martini, do Centro Técnico Aeroespacial, nada de anormal foi registrado pelos radares da instituição, em São José dos Campos, em São Paulo, mas ele salientou que, por ser um evento local, a ocorrência de meteoritos pode não ser registrada por esses aparelhos.

"Não temos condições de registrar a queda, o que fazemos é analisar os resquícios e associar a fenômenos astronômicos que estejam ocorrendo no momento", explicou Paulo, lembrando que a Terra passa atualmente por um período chamado "Eta Aquaridius", em que pode ocorrer chuva de meteoros pelo fato de o planeta estar atravessando a órbita do Cometa Halley, podendo cruzar com partículas que se desprenderam do cometa.

Apesar de não ter informações mais precisas sobre a ocorrência, o astrônomo José Manoel Luís da Silva, diretor do Planetário do Colégio Estadual do Paraná, destacou que todos os relatos dados pelas pessoas que disseram ter visto o objeto estão de acordo com o que ocorre na queda de um meteorito.

"Pelo que eu li e ouvi das pessoas, pode sim ser um meteorito", destacou.

O astrônomo explicou que, mesmo que tenha se desintegrado por completo na atmosfera, seria possível ouvir os estrondos e sentir os tremores de terra relatados pelos moradores de União da Vitória e das cidades vizinhas.

Apesar de também não ter visto, o astrônomo aposentado da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Germano Bruno Afonso também acredita na possibilidade de ter realmente ocorrido o fenômeno.

Ele explica que todos os anos, entre os dias 21 de abril e 12 de maio, a Terra passa pela trilha do Halley e, por isso, é até comum se ver meteoritos no céu. Segundo Germano, este ano, as datas mais propícias para que isso aconteça são as madrugadas dos dias 5 e 6 de maio.

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