Os alagamentos ocorridos no início deste mês na invasão Jardim Arvoredo, em Araucária, Região Metropolitana de Curitiba, estão deixando os moradores preocupados. Além do lamaçal e do esgoto que atingiram as casas, eles temem pelo apodrecimento das madeiras que compõem as residências da região. Se isso se confirmar, podem ocorrer acidentes, como o desabamento das casas.
A invasão, onde moram 600 famílias, está em área de proteção ambiental permanente, entre o Rio Passaúna e um afluente. As enchentes são constantes devido a proximidade com a água. No último alagamento, muitas pessoas foram retiradas do local e alojadas em casas de parentes. As residências já são construídas em cima de bases de tijolo ou estacas de madeira, justamente para evitar que a água cause muito estrago.
O padeiro Luiz Carlos dos Reis abandonou sua casa porque as madeiras apodreceram com a última cheia. Sua família está abrigada em um cômodo de uma igreja. Reis não volta para sua antiga casa, pois teme um acidente. "As madeiras estão comprometidas e há muito barro lá dentro", afirma Reis, que mora há quatro anos no Arvoredo.
A cozinheira Adélia Aparecida Rosa relata um caso em que uma criança se machucou ao cair em uma fenda aberta na madeira podre, que cedeu. Quando o tempo começa a virar, ela ergue os móveis para não perder tudo. "A geladeira já está sobre tijolos e guardo mais dentro de casa como precaução. A água chega na altura dos joelhos e vira um grande mar", conta Adélia, que mora no Arvoredo há três anos.
O alagamento também atingiu a residência da dona de casa Marisa Sampaio Souza. Ela está grávida de quatro meses e precisou andar no meio da água para fazer os exames do pré-natal em um posto de saúde próximo. Seu marido também enfrentou a água para ir ao trabalho. Para não perder tudo o que tem, preferiu ficar em casa. O saldo, porém, não foi tão compensador: ela e seus dois filhos ficaram doentes.
Posição
O diretor-presidente da Companhia Municipal de Habitação de Araucária (Cohabitar), Alan Henning, explica que a invasão está situada em uma área particular e de preservação permanente. Isso significa que não pode ser desapropriada. "Estamos tentando a desapropriação de uma área vizinha para remover essas pessoas", esclarece. Uma parte do Jardim Arvoredo, onde a invasão começou há cinco anos, foi desapropriada e a regularização está em andamento. Até o final do ano, 30 famílias serão relocadas em caráter emergencial para a construção da rede de água e energia elétrica. Mas aquelas pessoas que moram perto do Rio Passaúna, local invadido recentemente, terão que esperar mais. Segundo Henning, o município está combatendo a formação de novas invasões, seguindo a legislação vigente.