A chuva fraca registrada na noite de terça-feira e madrugada de ontem não foi significativa para a reposição dos níveis das barragens que fornecem água para Curitiba e região. Mas para a agricultura, a garoa tem sido uma grande aliada. O aumento da umidade não se restringe ao ar, se estendendo ao solo. Mais do que dar ao solo melhores condições para o plantio, a umidade deixa o ambiente pouco propício para o desenvolvimento de geadas.
Para a madrugada de ontem, eram previstas geadas, dadas as baixas temperaturas. Porém a previsão não se confirmou. Para hoje, a previsão do Instituto Tecnológico Simepar é de poucas chances de gear. ?Se acontecer, será no centro-sul, na região de Guarapuava. Mas com essa nebulosidade, a chance é mínima?, diz o meteorologista Marcelo Braun.
Na capital paranaense e região, o clima até sábado deve permanecer com temperaturas baixas e nebulosidade. Só no final de semana os paranaenses da região leste devem ver novamente o sol, que vai ajudar a dissipar o efeito da massa de ar frio sobre todo o Paraná. Quanto a chuva significativa, não há previsão para os próximos dias, o que mantém comprometido o sistema de abastecimento de água na Grande Curitiba.
Motivos da seca
Desde que a estiagem começou a ganhar contornos graves, em maio, a Sanepar iniciou uma campanha para que a população passasse a economizar água. Por meio de estudos, a empresa constatou que seria necessário que a população poupasse 20% do valor utilizado em períodos de abundância. A economia registrada até o final da semana passada, porém, não chegou aos 10%, resultando no racionamento. Mesmo com a implantação do rodízio, a ordem é continuar economizando.
Para o engenheiro civil especializado em recursos hídricos, Nelson Dias, não se pode culpar exclusivamente parte da população que não contribuiu com a economia. A necessidade do racionamento engloba alguns fatores. ?O principal é relacionado ao clima. Há anos não se via uma estiagem nesse nível, de modo que o sistema de abastecimento natural ficou comprometido?, diz, referindo-se ao nível dos rios que abastecem as principais barragens de Curitiba e Região Metropolitana.
A isenção da população, no que se refere aos hábitos do dia a dia, no entanto, não livram a intervenção humana no comprometimento dos recursos hídricos disponíveis em Curitiba e região. Apesar do nível dos rios estar baixo, a poluição e necessidade de tratamento da água também contribuem na a escassez para o consumo. A questão, nesse caso, é muito mais complexa e está relacionada ao crescimento populacional acelerado nos últimos anos. ?Especialmente nas áreas de mananciais, como na região de Piraquara (onde está instalada a barragem Piraquara 1), o aumento populacional desorganizado comprometeu a qualidade da água?. O grande problema nessas regiões está relacionado à falta de saneamento básico, com esgotos que caem diretamente nos mananciais, necessitando de tratamento posteriormente. ?Diferente da água subterrânea, que pode levar décadas para ser limpa, a água de superfície, como as dos rios, pode recuperar-se em dois anos, desde que parem de ser lançados a ela poluentes?, diz Dias.
Por isso, o engenheiro defende a implantação de uma política de disciplina do uso da água, que passa por um planejamento urbano eficiente e pela captação de pessoal capacitado para atuar com os recursos hídricos.