O dia de ontem foi de muito trabalho e tristeza para famílias de Curitiba e Região Metropolitana que tiveram suas casas atingidas pela chuva forte que caiu na cidade na tarde da última quinta-feira. Muita gente passou manhã, tarde e noite limpando suas residências e tentando recuperar móveis, eletrodomésticos e roupas. A Defesa Civil de Curitiba confirmou 328 pessoas desabrigadas e cerca de 1.680 casas alagadas. Ainda não há confirmação sobre pessoas desaparecidas ou mortes.
A Vila 23 de Agosto, localizada dentro da Vila Osternack, foi uma das regiões mais atingidas na capital. No local, cerca de duzentas pessoas tiveram partes de suas casas levadas pela água, tendo que se abrigar em colégios, igrejas, casas de amigos e de familiares. O alagamento foi causado pelo aumento do volume de água do Ribeirão do Padilha, que corta a região.
O comerciante Cícero Diniz, que vive com a mulher e dois filhos, perdeu quase tudo o que tinha. Sua casa ficou completamente alagada. Foram destruídos jogos de quarto, sofás e equipamentos de cozinha. Um cachorro de estimação e algumas galinhas que a família criava no fundo do quintal morreram afogados. “Não sei quanto tempo vamos levar para conseguir recuperar tudo o que perdemos. Essa foi a terceira enchente que enfrentamos em nossas vidas, porém a que mais deu prejuízos”, diz Cícero. “Coisas conquistadas em 35 anos de trabalho foram destruídas de um dia para o outro”, completa.
O autônomo José Ananias, que mora sozinho na vila e trabalha com conserto de eletrodomésticos, lutava para recuperar geladeiras, fogões e televisores de seus clientes. Os aparelhos estavam dentro de sua casa no momento em que a chuva forte começou. “Os clientes deixam seus eletrodomésticos aqui em casa para que eu os conserte. Com a chuva, acho que quase tudo estragou de vez”, conta. “A responsabilidade sobre os equipamentos é minha e vou ter que arcar com o prejuízo, ressarcindo os proprietários. Não sei como vou fazer, pois também perdi muitas coisas de uso pessoal.”
Umbará
No bairro Umbará, a situação também era grave. Dezenas de casas foram invadidas pela água e cerca de 120 pessoas ficaram desabrigadas devido à cheia do Rio Ponta Grossa.
Além de perder móveis, o motorista Benedito Assis Rosa, que mora com a esposa e seis crianças, perdeu todos os seus documentos. “Acho que vou ter que gastar bastante para fazê-los de novo, pois não deu para salvar nada”, revela. “Também perdi muitas roupas e quero ver se, pelo menos, consigo salvar os colchões. Vou ter que deixá-los vários dias no sol para secar. Estou rezando para que não chova novamente.” Para resolver os problemas da casa, Benedito teve que faltar ao trabalho. Ele teme que o dia seja descontado de seu salário e diz que, se isso acontecer, o dinheiro vai fazer muita falta para a família. “Estou contando com a compreensão de meu patrão. Espero que ele entenda o que aconteceu e não me prejudique.”
O pedreiro José Lúcio foi outro que ficou em casa para ajudar a esposa a limpar a casa. Ele lamentava não ter conseguido salvar os alimentos que estavam guardados nas prateleiras e contava com a solidariedade de vizinhos para conseguir dar alguma coisa para os três filhos comer. “Moro há seis anos no Umbará e essa foi a pior das quatro enchentes que já enfrentei. Estou dependendo da ajuda e da bondade das pessoas até para comer”.