Parte de Matinhos amanheceu ontem embaixo d?água. Segundo o Corpo de Bombeiros, a chuva que caiu por mais de 12 horas sem parar deixou cerca de 150 pessoas desabrigadas e atingiu mais de três mil casas. A situação era mais grave nos balneários de Sertãozinho, Tabuleiro e Mangue Seco. Em Guaratuba também houve alagamentos e 50 pessoas ficaram desabrigadas. Houve muita confusão quando o dia amanheceu. Caiobá também foi atingida. Os veranistas queriam voltar para Curitiba, mas estavam encontrando grande dificuldade. Parte das ruas continuava alagada e houve congestionamentos.
A Defesa Civil pede para que os turistas não desçam para o litoral neste final de semana. Até a tarde de ontem praticamente todas as entradas de Matinhos continuavam alagadas, até o acesso ao ferry-boat, que faz a ligação com Guaratuba estava bloqueado. De manhã, a Polícia Rodoviária chegou a fechar por algumas horas a PR 508, rodovia que liga Alexandra a Matinhos, sentido litoral, para evitar mais congestionamentos na entrada da cidade. As duas vias de acesso ao centro estavam alagadas. A única alternativa para chegar ao local era pela Praia de Leste. Também a PR-412, que faz o acesso entre a BR-277 e Pontal do Paraná, estava interrompida.
Muitos motoristas que quiseram enfrentar a água acabaram ficando pelo caminho, precisando empurrar os veículos ou esperar a ajuda de guinchos. Várias pontes de uso exclusivo de pedestres também caíram, mas não houve vítimas.
Doenças
Durante toda a manhã foi grande a movimentação de carros do Corpo de Bombeiros, Polícia Militar, ambulâncias e até caminhões da Copel, para o socorro às vítimas ilhadas. Apesar do risco de contrair doenças, muita gente cruzava andando as ruas alagadas. Para a criançada, a situação era motivo para se divertir. No início da tarde uma menina estava com uma placa na mão onde colocava a venda um barquinho de brinquedo. Outros entraram num barril como se estivessem navegando em um rio. A mãe, Salete Pedroso Dalatela, 37 anos, só lembrou de chamar a atenção quando foi questionada se eles não poderiam ficar doentes. A maior preocupação dela no momento era com a casa, que também ficou alagada. Ela conta que a enchente começou por volta da uma hora da manhã, mas ela ainda teve tempo de erguer as coisas. Pela manhã, não quis ir para o abrigo e preferiu esperar em casa água baixar.
Desabrigados
Segundo o prefeito de Matinhos, Acindino Ricardo Duarte, às 2 horas da manhã a prefeitura, o Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil começaram o trabalho de ajuda às vítimas. Até o batalhão da Polícia Florestal colaborou. Os desabrigados foram encaminhados para a Escola Sertãozinho, onde receberam alimentação. Acindino conta que mora há 50 anos na cidade e nunca presenciou uma enchente dessas proporções. “Foram 13 horas seguidas de chuva”, disse. Comentando sobre a previsão do Simepar (Sistema Meteorológico do Paraná) de que a chuva iria continuar, ele adiantou que mais escolas estão prontas para receber desabrigados. Uma campanha para recolher doações para a população atingida já estava sendo realizada.
Guaratuba
Em Guaratuba houve duas quedas de barreira, uma no acesso de Caieiras e outra no acesso a Guaratuba que vai dar no Mercado Municipal. No entanto o tráfego não estava totalmente obstruído. Na cidade os maiores alagamentos ocorreram nos Balneários de Piçarras, Nereidas e Vila Esperança.
Segundo o tenente Renê Ferreira Muchelim do Corpo de Bombeiros, o Comandante da Operação Verão da Corporação, o major Jorge Luiz Thaís Martins, fez um sobrevôo em Matinhos e Guaratuba para avaliar os estragos. Foi constado que a situação estava começando a se normalizar. Mas o Corpo de Bombeiros continuava em alerta para o caso de voltar a chover. Renê disse ainda os desabrigados já haviam começado a retornar para as casas.
Hoje pela manhã houve dois deslizamentos de terra na região, um no Morro do Pinto, perto das balsas e outro na estrada da Praia de Caieiras. Nas duas vias o trânsito é feito em meia-pista.
Tempo bom só nesta segunda
Rosângela Oliveira
As chuvas que atingiram o litoral do Paraná na madrugada de ontem foram maiores que a média registrada, no mesmo período, nos meses anteriores. De acordo com o Simepar (Sistema Meteorológico do Paraná), em 12 horas choveu o equivalente a 300,4 milímetros. Para se ter uma idéia, o maior volume acumulado de chuvas nos últimos anos foi em janeiro de 1999, quando as precipitações alcançaram, durante todo o mês, 487 milímetros.
De acordo com o meteorologista Fernando Mendonça Mendes, do Simepar, as chuvas ocorrem devido a uma área de instabilidade muito forte que se concentrou no litoral. O desenvolvimento dessa área foi favorecido pela umidade, vinda do oceano, e o calor, que resultaram em forte pressão. Segundo Mendes, as chuvas ocorreram em quase todo o Estado, mas elas foram mais significativas no litoral.
A previsão do Simepar é que a partir de hoje as condições do tempo melhorem, e na segunda-feira o sol volte a brilhar. Porém, novas pancadas de chuvas voltarão a ocorrer, principalmente à tarde. As temperaturas continuarão elevadas. Neste domingo, com a máxima devendo chegar a 32 graus no litoral, e a 29 graus em Curitiba.
Com as casas alagadas, famílias ficam em abrigos
Elisangela Wroniski
Sandra Mara Cardoso, moradora de Matinhos, foi para o abrigo porque na casa dela a água já estava na altura do tornozelo e lá fora a situação era pior. “Os carros na garagem estavam boiando”, conta. Ela diz que só acordou porque o bebê chorou de madrugada. “A minha sensação foi de pânico, você não sabe o que está acontecendo. Foi a primeira vez que passei por uma situação destas”, diz. Ela ainda não calculou os prejuízos que vai ter quando retornar para casa.
Ivo Campos é veranista e estava com a família aproveitando o feriado. A água começou a entrar na casa por volta das 3h da manhã e quase chegou a atingir a altura da cama, mas ainda deu tempo de erguer alguns móveis e eletrodomésticos. A noite toda foi passada em claro pois temiam que o nível da água subisse ainda mais. De manhã, quando saíram para o abrigo, a água na rua estava pela cintura. A volta do feriado que estava programada para hoje, deveria ocorrer ontem mesmo. Mas para isso eles precisavam esperar a água baixar para tirar o carro da garagem. “Péssimo começo de ano”, define Campos.