Trocando a baioneta pela caneta. Assim o cartunista Tiago Recchia, do Jornal do Estado e da famosa coluna Los 3 Inimigos da Tribuna do Paraná, descreveu a participação dos chargistas no conflito entre os comandados de Bush e Blair e as tropas de Saddam. A reportagem do Paraná-Online conversou com alguns chargistas para revelar a visão desses profissionais, que precisam passar informação e divertir, mas ao mesmo tempo nunca podem se esquecer que numa guerra vidas estão em jogo.
Para Tiago, abordar a guerra não é tão problemático, principalmente devido ao fato de o Brasil não estar envolvido diretamente no conflito. “Para os chargistas americanos deve ser pior”, afirmou, contando que toma cuidado para não achincalhar nenhuma cultura e procura fazer uma pesquisa histórica sobre os fatos que levaram à guerra, para não cometer equívocos em suas charges. Tiago já fez charges nas guerras do Golfo, das Malvinas, Irã?Iraque e nos recentes conflitos no Afeganistão.
Ele lembrou de uma história curiosa envolvendo charges em período de guerra. Na 2.ª Guerra Mundial, um soldado americano fazia charges do conflito no próprio front e as usava para divertir seus colegas. “Bill Mauldin chegou a ser repreendido pelos superiores, mas depois da guerra ficou muito popular nos EUA, trabalhando em jornais como cartunista. Um de seus livros chegou a vender 3 milhões de exemplares”, contou Tiago.
Roque Sponholz, do Jornal da Manhã, de Ponta Grossa, acredita que a guerra é um tema triste mas fácil de ser tratado. Ele disse que o conflito serviu para mostrar que a ONU não serve para nada e que o brasileiro já está acostumado a fazer charge com desgraças. Sponholz destacou que a guerra no Iraque encobriu muitos problemas que acontecem no Brasil. “A guerra serviu para unir todos os chargistas do mundo. Todos são unânimes contra ela. É o lápis contra o fuzil”, afirmou.
Para Sponholz, entre Bush e Saddam, o morador da Casa Branca é melhor personagem de charges. “Ele é o vilão da história. Além de tudo, como sempre digo, ele é o presidente da prepotência, não da potência, norte-americana”, aplicou Sponholz, destacando que uma charge nunca é ofensiva, pois enxerga até a desgraça com humor. “Para se fazer charge tem que ter um veia crítica”.
Mortes
Evitar as mortes é a grande preocupação de Carlos Alberto Noviski. O cartunista, que hoje trabalha com jornais sindicais, contou que o ideal na cobertura de uma guerra é trabalhar em cima das bolas fora do exército anglo-americano e nas “palhaçadas do Saddam”. Também para Noviski o presidente americano tem mais “talento” para fazer besteiras. O chargista chegou a desenhar sobre a Guerra do Golfo em 91. “Guerra não é um tema legal, o grande filão para as charges continua sendo a política. Durante o pré-guerra, quando estava evidente a intenção dos americanos em dominar o petróleo do Iraque, era melhor para trabalhar”, disse Noviski.