Uma estrada de terra estreita (PR-092), com cerca de 56 quilômetros de extensão a partir do município de Rio Branco de Sul, é o principal acesso a Cerro Azul, para quem sai de Curitiba. Repleta de curvas e buracos, a estrada, construída em 1982, apresenta uma série de perigos aos motoristas, que muitas vezes se arriscam na contramão em busca do melhor caminho.
Sem outra alternativa, senão se aventurar pela estrada de chão, os 17 mil habitantes de Cerro Azul se sentem abandonados pelo governo do Estado, que por diversas vezes já prometeu que seriam executadas obras de asfaltamento. “O ex-governador Jaime Lerner chegou a vir a Cerro Azul e prometer em praça pública, na frente de cerca de 4 mil pessoas, que a estrada seria asfaltada. Porém, não cumpriu com a palavra dada e decepcionou todo mundo”, comenta o prefeito Adejair Bestel. “Agora, nossa esperança é de que o Requião se sensibilize com a situação. Aqui, devido às condições da estrada, a vida útil de um veículo costuma ser de apenas um ano.”
Em dias de sol, quem transita pela estrada também enfrenta muita poeira. Uma carreta carregada chega a levar quatro horas para finalizar o percurso. Já em dias de chuva, as pistas ficam intransitáveis. Quem é pego no meio do caminho geralmente atola na lama e tem que se preparar para dormir ou muitas vezes passar dias na estrada, pois o acesso de veículos de socorro também fica impedido.
Tragédias
E é justamente em períodos de chuva forte que as maiores tragédias costumam ocorrer na PR-092. Segundo o prefeito, há cerca de um ano, um morador de Cerro Azul foi vítima de um infarto e precisou ser levado para um hospital de Curitiba. No caminho, começou a chover e a ambulância em que ele estava ficou encalhada. O homem morreu na estrada e ninguém pôde fazer nada para tentar ajudá-lo. Há duas semanas, uma garota de quinze anos que estava grávida precisou ser levada para fazer uma cesariana em uma maternidade da capital. Devido às condições da estrada, ela não conseguiu chegar a tempo a seu destino final e seu bebê acabou nascendo morto no meio do caminho. “O pior é que esses não são os únicos casos trágicos ocorridos na estrada. Muitas pessoas já morreram e já nasceram no meio da rodovia”, diz.
O município vive quase que exclusivamente do plantio da laranja. Entretanto, pequenos e médios agricultores costumam perder grande parte de suas produções no transporte do produto até Curitiba. Os buracos fazem com que as caixas caiam de cima dos caminhões e com que as frutas se espalhem pela estrada. Quando os caminhões transportadores encalham devido à lama provocada pelas chuvas, as laranjas costumam apodrecer e precisam ser jogadas no lixo. “Em 1999, por exemplo, a produção de laranja do município foi de 14 milhões de caixas, das quais 8 milhões foram perdidas”, lembra o prefeito. “O prejuízo para os produtores foi de R$ 16 milhões -valor mais do que suficiente para asfaltar a estrada.” A Prefeitura calcula que o asfaltamento da estrada custe cerca de R$ 15 milhões.
Desenvolvimento
O secretário municipal de Desenvolvimento Econômico e Urbano, David da Silva Godoy, revela que o crescimento econômico de Cerro Azul vem sendo prejudicado devido ao não-asfaltamento. De acordo com ele, nenhuma fábrica ou indústria mostra interesse em se instalar na região. Alguns produtos que chegam para ser comercializados no município muitas vezes quebram no caminho ou chegam com um valor bastante superior ao adotado em outros municípios. “As empresas encontram muitas dificuldades para trazer os seus produtos para cá”, explica. O valor do frete para transporte das mercadorias acaba sendo muito alto e a população de Cerro Azul, que já não tem grande poder de compra, acaba sendo a maior prejudicada.
Educação
Freqüentar um curso superior é muito difícil para a maior parte da população. A maioria das pessoas não tem como se sustentar em Curitiba, acha inviável sair de Cerro Azul em direção à capital todos os dias e decide interromper os estudos quando conclui o ensino médio. “Nossos estudantes são muito talentosos, mas não podem sonhar em cursar uma universidade”, diz a secretária municipal de Educação, Cultura e Esportes, Nilza Maria de Lima. “A falta de asfalto na PR-092 está travando todo o desenvolvimento do município. A cidade está parada por causa disso.”