Apesar de ter seus casarões coloniais abandonados e sem restauração, a cidade de Paranaguá, no litoral do Paraná, deu mais um grande passo na busca da revitalização do seu centro histórico.
Na última semana, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) apresentou às lideranças da cidade um Plano de Mobilidade e Acessibilidade. A ideia é que várias mudanças sejam feitas no centro histórico para facilitar o deslocamento dos turistas, incluindo os portadores de deficiência física.
Este plano é consequência do tombamento nacional do centro histórico de Paranaguá, feito recentemente, já que até então o local era tombado apenas em nível municipal e estadual.
Acesso aos cadeirantes, construção de ciclovias, alargamento de calçadas e mudanças na pavimentação são alguns dos pontos incluídos no Plano de Mobilidade e Acessibilidade.
Colocação e renovação de mobiliário urbano – que incluem bancos, por exemplo -, o enterro da fiação – que hoje prejudica a estética da região – e a capacitação de guias turísticos também serão providenciados. “Hoje não há acessibilidade no centro histórico”, reclama a arquiteta da prefeitura de Paranaguá, Rita Abe.
Deterioração
E não é só a mobilidade que falta. Basta andar pelas ruas do Centro de Paranaguá – cidade que tem um grande valor para o Estado, já que o povoamento do litoral começou ali perto, na Ilha da Cotinga – para perceber que pouca coisa foi feita até hoje para a preservação dos casarões coloniais, igrejas, museus e outros bens tombados.
Em alguns pontos, inclusive, o clima é desolador, pois há lixo nas ruas e até esculturas deterioradas, quebradas ou furtadas. Situação lamentável para uma cidade que tem grande valor histórico e que foi tombada pelo Patrimônio Histórico Municipal há anos.
Palacete
Somente em 2009 é que alguns prédios começaram a ser restaurados, como o Palacete Mathias Böhn, que pertence ao Estado e está sendo reformado com uma verba do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC).
O Palacete é do final do século XVIII, e Böhn foi um rico comerciante alemão que se estabeleceu em Paranaguá na época. O Mercado do Artesanato também já foi restaurado no ano passado.
Casa
A Casa Dacheux, do século XIX, localizada em frente à Catedral e que foi propriedade de uma família antiga da cidade, já foi restaurada pelo Iphan. No momento, atrás dela está sendo construído um restaurante-escola.
O projeto para restauração da Estação Ferroviária já está sendo finalizado. O Mercado do Café – antigo Mercado do Peixe onde funciona um espaço gastronômico – também será restaurado, mas ainda não se sabe com que verba.
Originais
“As casas coloniais mantém todas as características originais do século XIX, principalmente as da Rua da Praia”, diz a arquiteta, ao explicar o porquê da importância da revitalização e da valorização dos casarões.
Ela continua avaliando a relevância do local lembrando que até mesmo as ruas mantêm a largura original daquela época. “Temos todo o valor cultural do século XIX aqui. Sem falar que foi a primeira cidade do litoral a ser povoada”, comenta.
O fato do local estar tombado nacionalmente agrega ainda mais valor à cidade, segundo a arquiteta. Ela avalia que com certeza também haverá diferenças – positivas – nas verbas para restauração.
Estimativa é que sejam gastos R$ 5 milhões c,om revitalização
Os projetos para a restauração do restante dos casarões e imóveis que por enquanto não sofreram intervenções ainda não foram contratados, mas segundo a arquiteta da prefeitura de Paranaguá, Rita Abe, a intenção é que isso seja feito até setembro deste ano.
“Em outubro já queremos ter uma ideia de como será feita a revitalização de toda a área tombada”, comenta. A estimativa é que sejam gastos R$ 5 milhões com a revitalização, incluindo os projetos, as obras, atividades educacionais em escolas, a contratação de historiadores, a capacitação de agentes de turismo, entre outras atividades.
Mas como nem tudo são flores, alguns comerciantes não estão contentes com as mudanças que poderão ocorrer nas ruas, pois temem que algumas tenham restrição ao tráfego, o que pode prejudicar o movimento.
Durante a reunião para a apresentação do Projeto de Mobilidade e Acessibilidade, o presidente da Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Paranaguá (Aciap), Yahia Hamud, lembrou do aumento no número de veículos nos últimos anos, e se mostrou contrário ao fechamento de ruas.
A reportagem procurou a Aciap para conversar sobre o assunto, mas não conseguiu contato com o presidente. No comércio, proprietários se dividem nas opiniões, sendo que alguns sequer sabem das mudanças que vão ocorrer.
Segundo Rita, com o Projeto de Mobilidade não haverá fechamento de ruas, mas sim, alargamento de calçadas com a retirada de algumas vagas de acostamento. Ela explicou que isso deve ocorrer nas principais vias de comércio, que são a Marechal Deodoro, a XV de Novembro e a Faria Sobrinho. Representantes do Iphan no Paraná, por sua vez, disseram na reunião que tudo será discutido com a comunidade por meio de audiências públicas.