Inconformado com a degradação do lugar onde foi criado, principalmente com o aumento da violência, o produtor resolveu usar a arte como antídoto. “Desde que meu filho, ainda com sete anos, foi assaltado eu sentia que precisava fazer algo pelo lugar onde fui acolhido”, explica. Com apenas 10 dias de vida, Márcio foi entregue pela própria mãe a uma família humilde do bairro que cuidou dele. “Passei uma infância livre e segura e pude me desenvolver aqui, daí a minha gratidão e carinho por esse bairro”, destaca.
O terreno pertence à Igreja da Paz que, em comodato, permitiu o desenvolvimento do projeto. Quase 10 mil pessoas já passaram pelo Centro, nas oficinas teatrais, apresentações artísticas e montagens teatrais. Com um teatro com capacidade para 60 lugares (com poltronas) e até 200 pessoas (em apresentações infantis onde as crianças sentam em almofadas), já passaram pelo palco histórias dos grandes ícones da dramaturgia, como Bertold Brecht, Nelson Rodrigues e Plínio Marcos.
Espetáculos para as escolas, bingos e projetos beneficiados por leis de incentivo à cultura são as fontes de recursos do espaço. “As dificuldades são imensas para manter o lugar, mesmo com toda essa proposta de descentralização da cultura e resgate dessa região”, avalia. Mas desistir não faz parte do vocabulário do produtor. “Sigo atrás de editais e apoios para os nossos projetos. Para o ano que vem já fomos contemplados pelo edital federal do Ponto Cultural, que nos permitirá oferecer oficinas de teatro, dança, cinema e música para 200 pessoas do bairro. Além disso, o projeto coloca o Boqueirão como um dos 2,5 mil pontos de cultura do País”, celebra.
Solenemente ignorados
A ausência de incentivo por parte da prefeitura ganhou novas proporções com o fim do primeiro turno das eleições deste ano. Uma emenda parlamentar no valor de R$ 20 mil aprovada para o incentivo à difusão cultural no Boqueirão, por meio do Centro Cultural Boqueirão, foi “cancelada”. A equipe planejava usar parte da verba para realizar a montagem da peça infantil “Marcelo, Marmelo, Martelo”, que seria apresentada a duas mil crianças de escolas do bairro no mês de outubro, em função do Dia das Crianças. “Os oito profissionais envolvidos e as dez escolas que seriam beneficiadas foram solenemente ignorados”, define o produtor Márcio Roberto Gonçalves.
A outra parte da verba seria usada para a inclusão do Centro na programação da Virada Cultural, que será realizada nos dias 10 e 11 de novembro. “Ainda esperamos que o recurso seja liberado, pois vamos promover por 24 horas apresentações musicais de dez bandas do Boqueirão. É uma forma dos nossos artistas se sentirem valorizados, podendo mostrar seus trabalhos para os familiares e amigos dentro de um teatro”, aponta.
A assessoria de imprensa da prefeitura explicou que a emenda parlamentar tem até 31 de dezembro para ser executada e que depende da decisão da Fundação Cultural de Curitiba, bem como do fornecimento de toda a documentação exigida dos produtores. A FCC foi procurada, mas até o fechamento desta edição não tinha resposta sobre os recursos para o Centro Cultural Boqueirão.
Marco Andre Lima |
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Produtor corre atrás de editais e apoios para projetos. |
Veja na galeria de fotos o Centro Cultural. E no vídeo a reclamação.