Você acha que ir ao cemitério para passear, fazer um piquenique ou contemplar obras de arte parece algo estranho? Pois não é. Isso já ocorre em diversos países e começa a ganhar adeptos no Brasil também. Esses lugares estão perdendo a conotação de fúnebres e podem se tornar um grande filão de mercado. Prova disso é que cada vez mais pessoas estão voltando sua atenção para o tema.
O professor de Geografia da Universidade Bandeirante de São Paulo (Uniban), Eduardo Rezende, se tornou um especialista no assunto, depois que resolveu estudar a razão pela qual o espaço do cemitério é utilizado para outros fins, que não apenas de enterrar pessoas e visitar as lápides. Vizinho do cemitério paulista da Vila Pompéia – que é considerado um dos maiores da América do Sul e virou tema do seu segundo livro: Metrópole da Morte Necrópole da Vida: um estudo geográfico do Cemitério da Vila Formosa – , Rezende conta que viveu parte da infância e adolescência no local. "Eu passava meu tempo lá, empinando pipa, dirigindo e comendo frutas, já que no local tinha um grande pé de amora", lembra. Mais tarde, ele percebeu que a freqüência de pessoas que utilizam os cemitérios como espaços para a sociabilidade era grande, principalmente no exterior.
Em Boston, nos Estados Unidos, muitas pessoas vão até o local fazer piquenique. Já em Buenos Aires, na Argentina, o cemitério do bairro Recoleta virou ponto turístico com visitas guiadas. Rezende comenta que na Bahia um cemitério particular construiu uma pista de cooper e incentiva as pessoas à prática de esportes em horários determinados. O especialista afirma que isso demonstra que os cemitérios viraram áreas de respiro das cidades.
A relações-públicas e fotógrafa de Curitiba, Clarissa Grassi, defende que os cemitérios são "museus a céu aberto". Clarissa – que está com a exposição de fotos, no Solar do Barão, sobre esculturas do Cemitério Municipal São Francisco de Paula – acredita que esses locais são um filão de mercado, já que arte cemiterial vem crescendo. Ela cita como exemplo o cemitério do Père Lachaise, em Paris, que é o terceiro ponto turístico mais visitado da cidade. "No Brasil isso está começando. O cemitério da Consolação, em São Paulo, já realiza visitas monitoradas às obras", falou. Ela adiantou que pretende desenvolver um projeto para que isso também aconteça em Curitiba.