Uma pesquisa feita pelo professor Samuel Lago, do grupo Positivo, revelou que pais e alunos de escolas particulares são favoráveis ao uso de células-tronco embrionárias para tratamento de saúde. O estudo foi apresentado ontem durante a palestra ?A bioética na educação básica: escola e professores estão preparados??, durante o XVII Congresso Brasileiro de Genética Clínica, em Curitiba.
A pesquisa feita pelo professor foi realizada em maio deste ano e ouviu 86 pessoas com idade entre 16 e 56 anos, incluindo pais e alunos. Todos disseram ser a favor do uso de células-tronco embrionárias nas pesquisas, indo contra o pensamento de muitos religiosos, que acreditam que a vida existe desde os primeiros dias de vida do embrião e por isto não pode ser usado. Este grupo concorda apenas com as pesquisas feitas com células-tronco adultas retiradas do cordão umbilical e de outras partes do corpo.
Para o professor, o pensamento de pais e alunos reflete a preocupação com a cura de doenças como Alzheimer, Parkinson, entre outras, que acometem pessoas próximas e ou da própria família. Ele considera que a amostra pode representar a posição desta parcela da sociedade perante o assunto. ?Mostra que estão abertos ao diálogo reflexivo para posterior tomada de decisões?, diz.
Outro fato interessante é que pais e alunos acham que a escola é um espaço muito importante para a discussão e aprofundamento do assunto. Para eles, as escolas deveriam elaborar projetos pedagógicos de longo prazo envolvendo pais, professores e especialistas de diversas áreas para debater a questão. ?Querem em um mesmo encontro conversar com pessoas que defendem e que são contra para tirar uma conclusão?, diz.
Hoje, no Brasil, a Lei de Biossegurança, sancionada em março deste ano, regulamenta as pesquisas. As células-tronco embrionárias só podem ser usadas para fins terapêuticos e retiradas de embriões fertilizados in vitro e congelados há mais de três anos. Mas o procurador-geral da República, Cláudio Fonteles, entrou com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) para que a lei seja considerada inconstitucional. O governo também não tem apoiado pesquisas deste tipo. Recentemente, o Ministério da Ciência e Tecnologia aprovou orçamento de R$ 11 milhões só para estudos com células-tronco adultas retiradas da medula e cordão umbilical.
O congresso termina amanhã. Hoje, dois dos maiores geneticistas do mundo, os sul-coreanos Hwang Woo Suk e Seung Keun Kang, estarão na cidade para falar sobre suas pesquisas. Há cerca de 20 dias eles realizaram a primeira clonagem terapêutica. Criaram células-tronco embrionárias em laboratório, capazes de produzir qualquer tecido humano. O trabalho pode possibilitar no futuro o transplante de células saudáveis para substituir outras destruídas por doenças, sem o inconveniente da rejeição dos pacientes.