Muitos dos problemas do meio ambiente estão relacionados ao impacto que obras, produtos e processos de transformação causam na natureza. Para atenuar esse impacto e ajudar a recuperar o ecossistema, algumas instituições realizam pesquisas e projetos que também propõem benefícios à comunidade. Um exemplo é o Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná (Cefet-PR), que em 2002 criou o Programa de Pesquisa em Tecnologias Sustentáveis (Tecsus). Professores e alunos estão desenvolvendo projetos que utilizam como matérias-primas vários tipos de resíduos.
Um dos estudos em andamento é um bloco de concreto criado com a tecnologia isopet. O produto, que pode ser 50% mais leve se comparado com blocos estruturais, é feito de concreto, areia, isopor e garrafas pet (embalagens plásticas para refrigerantes). A primeira experiência surgiu com o professor Eli Aguiar, coordenador do projeto, mas com uma diferença. No lugar das garrafas, ele utilizava latas de azeite. “Depois da criação do nosso grupo, foi sugerido o pet”, conta Aguiar.
Foram desenvolvidos dois tipos de blocos, um com encaixes (as próprias garrafas) e outro em que o pet fica escondido pelo concreto. “Não é preciso utilizar argamassa, mas neste, só para garantir, utlizamos um pouco”, explica o professor.
Atualmente, o grupo está estudando o processo de construção em mutirão do bloco, que é feito artesanalmente na cidade de Pindamonhangaba, interior de São Paulo, em parceria com a Prefeitura local. O Cefet-PR deu o treinamento e a população local está produzindo os blocos. A iniciativa tem caráter experimental, mas se for aprovada poderá ser empregada na construção de 1.200 casas populares na cidade. Em Curitiba existem dois protótipos de casas já montados.
“Nós acreditamos que o preço final vai ser baixo porque o bloco agiliza a obra por apresentar um tamanho grande (40x40x15,6 cm), utiliza pouca argamassa, acarreta menos peso nas fundações, garante um melhor isolamento térmico e acústico, e requer a aplicação de uma pequena camada de revestimento. Esses materiais não se decompõem com facilidade. A durabilidade pode ser maior do que uma casa de madeira”, afirma Aguiar.
Bambu
Outro projeto está relacionado com o bambu. Em uma tese de mestrado desenvolvida na instituição, foi mostrada a potencialidade do material na fabricação de vários produtos. “O bambu é considerado a matéria-prima do século XXI”, classifica o professor Eloy Fasse Casagrande Júnior. “Ele pode ser usado na alimentação, substituir a madeira, aço, carvão, entre outros.” O professor conta que a intenção é tornar o bambu um produto de mercado e recuperar o valor deste material, principalmente porque o Brasil tem a maior reserva de bambu na América Latina.
Mais do que projetos, na opinião de Casagrande, é necessário deixar a visão de que tudo que é descartado precisa ir para o lixo. “De vários resíduos podem surgir matérias-primas para outros produtos”, afirma. O professor também acredita que as empresas deveriam rever todo o processo de fabricação de seus produtos, a fim de evitar o desperdício e descobrir novas maneiras de diminuir o custo.
Segundo o professor, o Cefet-PR futuramente poderá criar uma certificação para produtos ecologicamente corretos. “O consumidor verá o selo e vai reconhecer o produto porque está amparado pela credibilidade de uma instituição como o Cefet”, afirma.
Cursos
Além do programa incentivando a pesquisa, o Cefet-PR também implantou o Programa de Gestão da Qualidade, Segurança e Meio Ambiente (Proge), que coordena atividades resultantes de projetos em convênio com organizações nacionais e internacionais. O Proge conta com profissionais especializados para o treinamento e consultoria na área ambiental e está autorizado a ofertar cursos de formação de auditores de qualidade ambiental com certificação européia. O programa também oferece cursos abertos à comunidade, como Gerenciamento Ambiental para Pequenas e Médias Empresas, e Auditor Interno para Sistemas de Gestão Ambiental.