Falta de emprego motiva pessoas a trabalharem nas ruas. |
A fonte de renda da ex-empregada doméstica Jorgina Barbosa, há 24 anos, vem do lixo e papel descartado na cidade de Curitiba. Ganhando cerca de R$ 300,00 por semana, ela deixou o barraco de madeira onde vivia para morar em uma casa de alvenaria que construiu com a venda do material que recolhe nas ruas. A história de Jorgina é parecida com a de muitas pessoas que moram na capital ? conhecidos como carrinheiros ?, e têm o lixo como principal fonte de renda.
Os motivos que levaram essas pessoas a trabalharem nas ruas são sempre semelhantes, e a falta de oportunidade de emprego é apontada como o principal fator. O casal Anderson Souza e Marina de Abrão está há três anos na atividade de carrinheiro. Eles passam uma média de 12 horas por dia na rua para ganhar cerca de R$ 250,00 por mês, e contam que nos dias de chuva é que o trabalho fica mais difícil. “Quando chove a gente quase não consegue trabalhar”, comenta. Ele também reclama que a concorrência está grande, e a disputa por material é acirrada. “Quem chega primeiro é que leva”, diz.
Brandina de Jesus Rutz diz que muitas pessoas facilitam o trabalho dos carrinheiros, e guardam o material para eles. “Assim a gente vai rapidinho e recolhe tudo”, comenta. Jorgina Barbosa diz que recolhe o material duas vezes ao dia, sempre nos mesmos locais. “Saio de casa às 6h e até às 9h já peguei tudo. Depois volto às 16h30 e antes das 20h já estou em casa”, conta, acrescentando que chega a andar perto de três horas por dia para ir e voltar da Vila Capanema, onde mora. Os netos, que não estão nas escola, ajudam Jorgina nas ruas, e em casa, são os filhos que separam o material para a venda.
A presença dos carrinheiros nas ruas da cidade, para alguns motoristas, acaba atrapalhando o tráfego de veículos. Mas a maioria entende que eles estão tentando ganhar a vida. “Algumas vezes eles atrapalham, mas é preferível eles estarem nas ruas que praticando assaltos ou roubos”, disse o taxista Abílio Vaz. O corretor de imóveis Sídnei Mamede diz que alguns carrinherios têm consciência que atrapalham o trânsito, mas outros não se importam e acabam deixando os carrinhos no meio da rua. Para ele, seria necessário desenvolver um trabalho de educação junto à categoria. “Eles muitas vezes atrapalham, mas têm sua função social, pois ajudam a manter a cidade limpa”, comenta.
Números
Não existe um levantamento preciso sobre o número de carrinheiros que trabalham em Curitiba. Dados da Prefeitura de 2000, feitos pelo Departamento de Limpeza Pública, indicam que cerca de 2.800 coletores estão nas ruas. A maioria veio do interior, e juntos coletam cerca de 450 toneladas de lixo por dia, o que representa 80% do material reciclável da capital.
Já o Fórum Estadual do Lixo e Cidadania acredita que esse número possa chegar a 5 mil. A procuradora do Trabalho e uma das integrantes do fórum, Margaret Matos de Carvalho, afirma que existem vários locais de concentração de carrinheiros na cidade, mas os principais são Vila Leão, Barigüi, Capanema, Parolin, Tarumã e Jardim Savana. Ela acrescenta que os principais focos de atividades do fórum estão na erradicação do trabalho de crianças e adolescentes na coleta do lixo, e dar apoio às famílias oferecendo condições de uma vida mais digna.
Segundo Margaret, está sendo criado um fundo estadual para a arrecadação de verbas que serão aplicadas em atividades sociais junto aos carrinheiros. Ela disse ainda que já existem universidades que estão iniciando atividades nos locais de concentração dos coletores, e que isso deverá ser ampliado com a criação do fundo. A procuradora falou que quem quiser saber mais sobre o Fórum do Lixo ou sobre o fundo pode ligar para o 322-6313, ou comparecer na Avenida Jaime Reis, 331.