Os trabalhos das escolas continuam, mesmo com a redução da verba. |
Decepção para pierrôs, colombinas, arlequins e todos os que irão brincar o Carnaval em Curitiba. A Liga das Escolas de Samba informa que as escolas da cidade têm um orçamento 20% menor que o do ano passado, devido à redução de recursos destinados à cultura, no orçamento aprovado pela Câmara Municipal. Em 2004, os recursos liberados para as escolas foram de aproximadamente R$ 140 mil.
Há anos o Carnaval da capital sofre com a falta de verbas e planejamento. Mas mesmo assim, segundo o presidente da Liga, Saul D’Ávila, tem sobrevivido como a maior festa popular da cidade, contando com a participação, no ano passado, de cerca de 15 mil pessoas por dia na Cândido de Abreu e de outras trinta mil nas Ruas da Cidadania do Carmo e do Fazendinha. Aos que dizem que a festa em Curitiba não existe, Saul lembra que é a única cidade em que, desde o século XIX, houve festa de Carnaval em todos os anos.
Ele diz também que está sendo organizado um grupo, juntamente com a Fundação Cultural de Curitiba, para discutir e redesenhar os rumos para a festa em 2006. Segundo ele, a manifestação existe e é forte, mas precisa de apoio do poder público para melhorar.
Além dos recursos reduzidos, as escolas terão de enfrentar o problema da liberação de verba, que deverá acontecer somente no dia 20 de janeiro, a 16 dias de colocar escolas de samba, estruturas e componentes na Avenida Cândido de Abreu. Saul diz que as indefinições do Carnaval, tanto em relação à verba como à organização, acontecem todo ano e tem prejudicado bastante a busca por patrocinadores.
Época da Marechal
Desde que o Carnaval de Curitiba saiu da Avenida Marechal Deodoro, de acordo com Saul, houve uma queda substancial de público. "A mudança foi violenta." Ele acredita que a mudança para outros locais dificultou o acesso.
No último ano em que o Carnaval ocorreu na Marechal Deodoro, em 1996, a festa chegou a reunir 50 mil pessoas. "É um lugar central, em que os ônibus convergem e o acesso se torna mais fácil", diz Saul. Além disso, ele afirma que as lanchonetes da Marechal ficavam abertas e davam mais opções gastronômicas às pessoas. "Sem contar que o espaço para desfile era bem maior."
Participação
Para Saul, a essência do Carnaval está na mistura de pessoas e de classes sociais. "Na avenida, nos blocos, as diferenças se dissipam e não importam em nada, todos são iguais."
As opiniões do compositor e professor aposentado de Política Social da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Carlos Eduardo Mattar, são de quem viveu a festa em sua essência. "Carnaval tem de ser vivido e não assistido, e mais, tem de ser onde a gente mora." Ele explica: "você não vai brincar no meio de quem não conhece". Para ele, a festa está deixando de ser relacionada à alegria de participação e está cada vez mais sendo assistida.
Essa talvez fosse realmente a essência da festa, em outras épocas, como lembra o compositor de sambas, José Arnaldo, também conhecido como Divino. "Antigamente os carnavais eram mais soltos, tanto os brincantes quanto os sambistas tinham mais liberdade." Ele se refere às festas anteriores a 1960, em que a festa era praticamente um passeio pelas ruas da cidade, saindo da Osório e indo até a rodoviária velha.
Antonina quer festa familiar
A idéia da comissão de organização do Carnaval de Antonina, dirigida pela Secretaria Municipal de Cultura, é recriar um ambiente de participação carnavalesca, como o que existia nas décadas de 1920 e 1930, em que as pessoas passavam o dia festejando. Segundo o secretário de Comunicação do município, Heráclito Túlio Silva, nessa época as comemorações, que ocorriam no marco zero da cidade, só eram interrompidas para o almoço. "As pessoas iam para suas casas, comiam barreado e voltavam para a festa."
Neste ano, o município espera receber até 40 mil pessoas. O principal objetivo está no resgate do Carnaval familiar. Para isso, na sexta-feira de folia (4 de fevereiro), uma banda composta por alunos e integrantes da filarmônica da cidade tocará na Avenida do Samba das 20h até a meia-noite. A intenção é que a festa não pare em todo o Carnaval. (RD)
"Bola" é uma das marcas em Curitiba e no Rio de Janeiro
Do pai, Reynaldo de Carvalho, herdou a malandragem e o carisma do carioca do morro, enquanto que, da mãe, a delicadeza e a sutileza musical. Assim Júlio César Amaral de Souza, profundo conhecedor do Carnaval, resume os talentos familiares adquiridos por Bola, o maior rei momo que o Brasil já teve. Ele foi mais de dez vezes rei em Curitiba e nove no Rio de Janeiro. Mas teve a carreira interrompida em 1995, quando morreu aos 35 anos.
Reynaldo de Carvalho veio do Rio de Janeiro para Curitiba muito jovem com os pais e, desde cedo, começou a participar de bandas de fanfarras. Chegou mesmo a ser instrutor de banda num colégio da cidade. Teve um problema glandular e que o tornou obeso, mas, mesmo com todo o peso que tinha, jogava capoeira. Glauco Souza Lobo, assessor da Secretaria de Cultura, lembra dele como um rapaz de um caráter e uma simpatia ímpar, culto e integrado no samba. "O Bola era compositor de sambas. Compreendia o que era o Carnaval", afirma ele.
Quando o concurso em Curitiba já não tinha mais graça, Bola foi incentivado a ir para concorrer no Rio de Janeiro. Júlio César conta que foi praticamente feita uma "campanha política" para eleger o Bola no Rio. No primeiro ano, porém, ele não ganhou. Concorrendo no ano seguinte, em 1987, veio a coroa que perdurou com ele até 1995.
A morte interrompeu o seu reinado no mesmo ano. Havia sido hospitalizado para fazer um tratamento de pele e diminuir uns 30 quilos de peso. Na noite anterior a sua morte, ficou jogando cartas com o médico de plantão, pois havia recebido alta e deveria sair pela manhã. Júlio diz que a morte de Bola não teve causa diagnosticada. Ele diz que como o Carnaval carioca é a maior festa do planeta, naquele ano o mundo perdeu o seu rei maior. (RD)
Guaratuba reduz para um dia a folia e gera revolta
A decisão tomada pela Prefeitura de Guaratuba de que haja Carnaval apenas na terça-feira está gerando grande insatisfação dos ambulantes da cidade. Eles alegam que o dinheiro ganho no Carnaval é imprescindível para a sobrevivência e, se não houver dois dias de festa, serão bastante prejudicados. A decisão foi tomada após reuniões com entidades representativas do comércio e tem o apoio da associação comercial local.
Nesse embate, a Associação dos Vendedores Ambulantes de Caixa de Guaratuba (Avacg) está sendo apoiada pelo Sindicato de Empregados no Comércio Hoteleiro em Guaratuba (Sindimares) e, juntos, estão contestando a medida da Prefeitura. Segundo o presidente da Avacg, Jair Mendes de Souza, são cerca de 280 pais de família que terão suas atividades muito prejudicadas. "Querem tirar o nosso trabalho. A gente vive dos ganhos da temporada."
O advogado da associação, Casimiro Laporte, disse que os vendedores vão tentar conversar com as secretarias de Cultura e de Turismo nesta semana e se não houver resultados, a Avacg vai tomar medidas judiciais. "Estamos estudando a possibilidade de entrar com um mandado de segurança com medida cautelar para que possamos ter dois dias de Guaratubanda."
O secretário de Turismo de Guaratuba, Celso Cordeiro, afirma que a medida é necessária para tornar o turismo na cidade mais constante, além de garantir a segurança de toda a população. Segundo ele, a Prefeitura, Guaratuba está iniciando um trabalho de resgate do turismo família e busca atrair turistas que venham passar bastante tempo no município.
Pesquisa
O Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares, Casas Noturnas e Similares do Litoral do Paraná (Sindilitoral) preferiu não se pronunciar a respeito da decisão. O presidente José Carlos Chiarelli divulgou uma pesquisa feita pela entidade em março do ano passado que traz a opinião a respeito do Carnaval de 57 comerciantes em Guaratuba. Cerca de 90% dos pesquisados deseja a continuidade do Carnaval de rua e mais da metade deles gostaria que fossem quatro os dias de festa. (RD)