Caramujos africanos invadem o Paraná

O Estado de São Paulo aprovou no início do mês uma lei que atribui ao Estado a obrigatoriedade de combater a proliferação dos caramujos africanos. Eles trazem prejuízos econômicos, degradam o meio ambiente e ainda podem transmitir doenças. No Paraná, a Secretaria Estadual de Saúde fez um levantamento e constatou a presença deles em pelo menos 40 cidades. De acordo com um estudo coordenado pela professora do curso de Biologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Marta Luciane Fischer, estima-se que 466 mil caramujos vivem em Pontal do Paraná e Guaraqueçaba, no litoral.

O caramujo africano (Achatina fulica) chegou ao Brasil em 1988 e foi comercializado em uma feira agropecuária em Curitiba. Era promessa de lucro fácil, já que a espécie substituiria o escargot francês. No entanto, com o tempo, verificou-se que o mercado não se interessou pelo produto e os criadores soltaram os moluscos na natureza. Ele se adaptou bem ao clima brasileiro e, por não ter nenhum predador, vem se reproduzindo sem problemas. Hoje está presente em vários estados.

Há dois anos, a professora e alunos do Núcleo de Estudos do Comportamento Animal começaram a desenvolver pesquisas sobre a espécie. Ela considera a situação preocupante, já que o molusco virou um problema mundial e está entre as 100 piores espécies invasoras. Até hoje, apenas dois lugares conseguiram acabar com o problema: Austrália e Miami, onde, em três anos, um animal conseguiu povoar quarentas e duas quadras. Foram gastos cerca de US$ 1 milhão para eliminar o problema. Depois de sete anos, foram coletados 18 mil bichos. “Número bem inferior ao de Pontal, que é 403 mil”, compara a professora.

Em Pontal do Paraná, os caramujos vivem principalmente nos terreno baldios. O mato é um ambiente adequado para a sua proteção e alimentação. Em Guaraqueçaba e na Ilha Rasa, onde está sendo terminado outro estudo, a espécie também vive próxima às pessoas. “Eles ainda não invadiram as matas. Se isso ocorrer, o controle pode ser inviável”, alerta Marta.

Prejuízos

O caramujo traz uma série de problemas. Eles se alimentam de uma variedade de plantas, muitas cultiváveis, como a banana, árvores frutíferas, café, feijão, chá e grãos armazenados. A Achatina também é uma ameaça ao caramujo brasileiro gigante, que é mais sensível e corre o risco de ficar sem alimento.

Também representa uma ameaça à saúde. Segundo a técnica em enfermagem da divisão de zoonoses e intoxicação da Secretaria Estadual de Saúde, Edla Rigoni, o animal é hospedeiro de um verme que causa graves infecções, podendo resultar em morte por perfuração intestinal. Até hoje, não foi registrado nenhum caso no Brasil.

Mas sabe-se que o verme existe em nosso meio ambiente e é possível que algum dia ele entre em contato com o molusco. Se isso ocorrer, uma epidemia não está descartada, já que a transmissão do verme de um caramujo para outro não seria problema. Os ratos comem o caramujo e transmitem o vetor da doença através de suas fezes. Por sua vez, os caramujos se alimentam das fezes do rato. Se estiver infectado, o Achatina transmite o verme quando é ingerido ou a pessoa entra em contato com a secreção que ele solta.

Segundo Edla, quarenta cidades no Paraná já confirmaram a presença do caramujo. Só não foi encontrado no Centro e Sul do Estado. O analista ambiental do Ibama que atua na área de preservação de Guaraqueçaba, Cecil Maya, informa que o órgão e a PUC começaram a desenvolver um trabalho de coleta de informação e de conscientização da população local. Os caramujos precisam ser coletados um a um com a proteção de luvas e depois exterminados. A professora espera apoio governamental para mapear o problema no resto do Estado.

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