Caramujo africano deixa Maringá alerta

O Centro de Controle de Zoonoses e Pragas Urbanas de Maringá registrou este ano 50 reclamações de moradores a respeito do caramujo africano. Com isso, aumentou para 150 o total de queixas no município desde 2001. O molusco, desde que foi introduzido no Brasil, na década de 1980, vem causando desequilíbrio ao meio ambiente, prejudicando a agricultura e transmitindo doenças. Em todo o Estado, 63 municípios enfrentam o problema.

A coordenadora do setor de zoonoses de Maringá, Marilda Fonseca, diz que a quantidade de reclamações da população vem aumentando. O órgão recebe pelo menos uma por dia. Antes de atender a reportagem, estava falando com uma moradora sobre o assunto. "Nos fundos da casa dela tem um terreno baldio e ela acha que os caramujos vêm de lá", relata.

São justamente os terrenos vagos – existentes em grande número na cidade – que favorecem a proliferação do molusco. O controle da praga precisa ser feito manualmente e como nestes locais não mora ninguém, o bichinho acaba encontrando um ambiente ideal para se alimentar e se reproduzir. Um animal desse pode botar até 300 ovos, três vezes ao ano. A expectativa de vida é de 9 anos.

A coordenadora informa que vem notificando os proprietários, mas a medida não está surtindo o efeito esperado. O caramujo só fica visível em períodos de chuva. Em tempos de seca, ele costuma se enterrar na terra. "Às vezes, o dono do lote vai até o local e não encontra nada. Outras vezes, em tempo de chuva, ele não pode fazer a limpeza", exemplifica.

Segundo Marilda, a Prefeitura vai estudar outras medidas para diminuir a quantidade de caramujos encontrados na cidade. Está sendo analisada a possibilidade de montar uma equipe para fazer a coleta nos períodos de chuva e cobrar o serviço nos carnês do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) dos proprietários de terrenos baldios. Marilda alerta que o caramujo é perigoso porque transmite doenças, entre elas a angiostrongilíase abdominal, que pode causar perfuração intestinal e hemorragia abdominal. Os principais sintomas são: dor abdominal, febre prolongada, anorexia e vômitos.

A doença pode ser causada pela ingestão ou pelo contato com o molusco. Os vermes que causam a patologia são encontrados no muco dos caramujos. Ao se instalar em hortas e pomares, o molusco pode contaminar frutas e verduras. Para se prevenir, é preciso lavar bem esses alimentos antes de consumi-los e, na hora de fazer a coleta dos bichos, usar luvas. Os animais devem ser mortos usando sal, cal ou queimados.

Sem transmissão

A coordenadora da Divisão de Zoonoses e Intoxicações da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), Gisélia Rubio, diz que nenhuma doença transmitida pelo caramujo foi registrada no Brasil. Ano passado, foram enviados para o laboratório da Fiocruz várias amostras do caramujo, mas nenhum tinha o verme. "Mas o verme existe no meio ambiente e o caramujo também. Uma hora eles vão se encontrar e aí começam a transmitir ao ser humano", cita Gisélia, destacando a importância de acabar com a praga.

Segundo ela, a responsabilidade de controlar a disseminação do molusco é dos municípios. Cabe à Sesa repassar as informações e monitorar as ações. Mas nem todos os municípios dão o retorno sobre o trabalho que desenvolvem. Além de oferecer riscos à saúde, o caramujo também come de tudo, acabando com plantações. Outros bichos também ficam ameaçados de extinção, como o caramujo nativo.

O caramujo africano veio do leste e nordeste da África e chegou ao Brasil como uma alternativa econômica para a comercialização de escargot. Mas o mercado não se mostrou favorável e os produtores soltaram os moluscos no meio ambiente. Hoje eles estão presentes em várias cidades paranaenses. Não possuem nenhum predador natural.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo