Foto: Átila Alberti/O Estado |
No Parque Tingüi pode-se encontrar grandes grupos de capivaras próximas aos lagos. continua após a publicidade |
O número de capivaras que habitam os parques de Curitiba teve um aumento significativo nos últimos anos. Por não existir, por parte da Prefeitura, nenhum trabalho de monitoramento da fauna urbana, o número de animais não pode ser quantificado. Porém, é visível que a população cresceu e quem mora próximo a esses locais confirma a informação. É bastante comum as capivaras entrarem nas casas à procura de comida, ou serem vistas, a qualquer hora do dia, andando em bandos pelas ruas dos bairros.
O comerciante Nelson Marconsim, que mora há 17 anos próximo ao Parque Tingüi, comentou que muitas vezes é acordado pelo latido dos cachorros que avançam nas capivaras que entram no terreno. A mesma informação confirma a dona-de-casa Darci Orácio, relatando que os animais devoraram a horta que ela tinha no quintal. ?Além das verduras, as capivaras comeram dois pés de bananeiras que estavam carregadas?, disse, complementando que isso ?já virou um problema no bairro?.
O zootecnista e professor da área de Produção de Animais Alternativos e Silvestres da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Edson Gonçalves de Oliveira, comentou que é possível que o número de capivaras nos parques tenha crescido, pois nesses locais elas encontram um ambiente propício para se reproduzir. ?Elas precisam de água e qualquer tipo de pasto?, explicou. E como não existe qualquer predador natural – como onça ou jacaré -, vão aumentando a população. Com um ano de idade, a fêmea já entra em gestação e coloca de três a cinco filhotes. Oliveira comentou ainda que, como nos parques pode estar havendo escassez de alimento, é natural que elas procurem comida nas redondezas.
Por falta de um programa de monitoramento dessa população, o município não pode confirmar se ela está ou não acima do normal. O zootecnista e diretor do Departamento de Zoológico, da Secretaria de Meio Ambiente de Curitiba, Marcos Traad, falou que são poucas as reclamações de moradores sobre a presença das capivaras. No entanto, ele admite que pode estar havendo um crescimento no número de animais por encontrarem nos parques ambientes favoráveis para a reprodução. ?Ainda não temos condições de dizer que existe uma superpopulação de capivaras nos parques?, falou, garantindo que o município está criando uma divisão específica que irá trabalhar com a fauna urbana.
Doença deixa Sesa em alerta
A suspeita de que o número de capivaras tenha aumentado na cidade está deixando a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) em alerta. É que o animal é um dos hospedeiros do carrapato que transmite a febre maculosa. A doença é caracterizada por uma infecção aguda causada por uma bactéria, a Rickettsia rickettsii. O homem é infectado através da picada do carrapato que eventualmente carrega essa bactéria nas suas glândulas salivares.
O período de incubação da doença é de dois a quatorze dias. Entre os sintomas estão febre alta, dor de cabeça e dor muscular intensa, além do aparecimento de manchas na pele. Se não tratada no início, a febre maculosa pode evoluir levando o paciente ao óbito.
Só neste ano a Sesa confirmou dois casos de febre maculosa no Estado: em Quedas do Iguaçu e Umuarama, e existem ainda outros quatro casos suspeitos. A médica e assessora da Divisão de Vigilância em Saúde e Pesquisa, Lilimar Naldolny Mori, afirmou que nos dois casos confirmados as pessoas estiveram em contato com animais em fazendas. Em uma delas foram encontrados 16 carrapatos espalhados pelo corpo. Ela adiantou que a Sesa já está trabalhando para monitorar e classificar esses carrapatos através de sete núcleos de entomologia instalados no Estado. Segundo a médica, as capivaras não podem ser caracterizadas como vilãs da febre maculosa, pois o carrapato também é encontrado em outras espécies de animais silvestres, além de bois, cavalos e cachorros. ?No entanto é preciso ficar alerta?, disse.
Proteção
A capivara, também conhecida como porco d?água, é um animal silvestre e, por isso, protegido por leis ambientais. No passado, o grande volume de abate desse animal fez reduzir a sua população, e hoje ele só é permitido com autorização e controle do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Quem não respeitar a legislação paga multa e responde a processo por crime ambiental.
De acordo com o zootecnista da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Edson Gonçalves de Oliveira, existem casos onde o órgão federal permite o abate devido à superpopulação. Mas isso só acontece depois que for comprovado que o animal se tornou um problema.