Cerca de seiscentos catadores do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul estão reunidos desde ontem em Curitiba para discutir o papel social e ambiental do lixo. O evento, que termina hoje, faz parte do Encontro Regional dos Fóruns Estaduais do Lixo e Cidadania da região Sul, pretende fortalecer as iniciativas que existem no setor e ampliar as ações para atingir um maior número de pessoas.
Criado há quatro anos, o Fórum Nacional do Lixo e Cidadania hoje conta com entidades estaduais e municipais em vários estados. Entre os seus objetivos estão a erradicação do trabalho infantil e a organização das famílias que vivem da coleta de material reciclável, para obterem melhores condições de trabalho e vida. A assistente de coordenação da Secretaria Executiva do Fórum Nacional do Lixo e Cidadania, Lívia Rachel Lie, diz que como resultado desse trabalho estão a retirada de cerca 47 mil crianças dos lixões, que passaram a receber bolsas de estudos oferecidas pelo Programa de Erradicação do Trabalho Infantil do governo federal.
Outras vitórias do Fórum foram as linhas de financiamento específicas para associações e cooperativas de catadores e o reconhecimento da atividade como profissão pelo Ministério do Trabalho e Emprego. Outro avanço conquistado, destaca Livia, é que o repasse de recursos para municípios que querem investir na área de resíduos sólidos só acontece com a participação dos catadores.
Segundo Lívia, a criação do Fórum também colocou em discussão a questão social ligada ao lixo. “Hoje é preciso ponderar o fechamento de lixões e construção de aterros, já que há um envolvimento de pessoas que vivem de materiais recicláveis e reaproveitáveis”, disse. Algumas iniciativas desenvolvidas para incentivar o setor precisam ser repensadas, acrescenta Lívia.
Uma delas são as campanhas desenvolvidas em escolas que incentivam os alunos a arrecadar latas de alumínio. “Tem pais que compram as latas direto de distribuidoras para ajudar o filho a competir, mas esse não pode ser o objetivo, pois é preciso conscientizar as pessoas sobre o reaproveitamento dos materiais descartáveis”, afirma Lívia.
Curitiba
O Fórum do Lixo e Cidadania foi fundado no Paraná em 2001, e hoje, só em Curitiba apóia quinze associações de catadores. A procuradora do Trabalho e coordenadora do executiva do Fórum Estadual, Margaret Matos de Carvalho, disse que a entidade apóia iniciativas de erradicação do trabalho infantil, e organização das famílias que vivem do lixo. Segundo ela, na capital são 5 mil catadores e carrinheiros. “Acreditamos que isso pode chegar a 20 mil, já que os catadores envolvem a família na atividade.”
Itaipu dá apoio à reciclagem
A Usina Hidrelétrica de Itaipu iniciou um projeto de apoio às famílias que vivem da coleta de lixo. Dentro do projeto Coleta Solidária, a empresa repassou carrinhos e uniformes para cinqüenta catadores de Foz do Iguaçu. Os carrinhos foram construídos com sucata, e irão ajudar na autonomia da atividades dos catadores.
O diretor de coordenação da Itaipu, Nelton Friedrich disse que a meta é atingir 1.200 catadores de dezesseis municípios lindeiros, e em uma segunda etapa, atender outros 28 que formam a bacia hidrográfica Paraná III, que desaguam na usina. “Além de questão ambiental, prevenindo que os material reaproveitável vá para os rios, estamos ajudando a diminuir a exclusão social a que esses catadores são vítimas”, disse.
Para o diretor-presidente de Itaipu, Jorge Samek, esse projeto está ajudando a dar um destino adequado para o lixo, “já que 60% de tudo que é descartado pode ser reaproveitado”. Samek também destacou a importância social da iniciativa. “É uma força coletiva para a organização e reconhecimento do trabalho dessas pessoas”, disse.