Pesquisadores do Brasil e do exterior estão reunidos em Curitiba para discutir diversos temas relacionados à água. O IV Seminário Internacional ?Águas – Cidadania no Uso e Conservação dos Recursos Hídricos? é uma promoção do Ministério Público do Paraná, em parceria com outros órgãos, e pretende abordar uma série de questões envolvendo legislação, gestão de recursos e consumo consciente.
O tema é bastante oportuno, destaca o procurador de Justiça coordenador da área do meio ambiente no Ministério Público, Saint-Clair Honorato Santos, pois está em discussão no País uma nova legislação que organiza a gestão dos recursos hídricos. Através dela, deverão ser criados comitês estaduais de recursos hídricos, que terão o papel de planejar o setor, bem como gerir a cobrança de taxas dos grandes usuários.
Paralelo às questões organizacionais, o presidente do Instituto Internacional de Ecologia (IIE), José Galizia Tundisi, ressalta que é preciso educar a população, de uma maneira geral, sobre o uso consciente da água. Ele destacou que apesar do Brasil concentrar 16% da água potável do planeta, ela não está distribuída de forma igual. Para se ter idéia, a distribuição per capita na região da Amazônia é de 700 mil metros cúbicos de água por ano por pessoa, enquanto na região Sudeste é de 2 mil metros cúbicos por pessoa/ano.
?Isso mostra que nem sempre é vantagem ter uma concentração tão grande de água se sua distribuição é desigual?, comentou. Segundo Tundisi, essa distribuição desigual também traz desigualdades econômicas e sociais em diversos países, afetando inclusive a sua capacidade de desenvolvimento. ?Em países da África existem problemas de desabastecimento e uso inadequado. Situações semelhantes são registradas em algumas regiões da América Central e nos países industrializados, onde há um uso indiscriminado que gera problemas no abastecimento?, comentou.
Para o presidente do IIE, apesar de todas as dificuldades, o Brasil tem avançado bastante nas questões de conservação. Um dos exemplos é a criação das bacias hidrográficas e da implementação de legislações específicas. Porém, ele ressalta que muitos municípios ainda precisam aprimorar sua capacidade e suporte técnico para atuar na área.
Serviço: O IV Seminário Internacional ?Águas – Cidadania no Uso e Conservação dos Recursos Hídricos? segue até amanhã no Canal da Música (Rua Júlio Perneta, 695, Mercês, Curitiba).
Seminário discute reserva hídrica estratégica
Hoje um dos temas que entrarão em discussão no seminário é a exploração das águas subterrâneas (aqüíferos) como uma reserva estratégica. Elas somam cerca de 100 vezes (10.360.230 km cúbicos) mais abundantes do que as águas superficiais dos rios e lagos (92.168 km cúbicos) e sua utilização tem sido apontada como uma alternativa viável, sobretudo quando as águas de superfície se tornam cada vez mais poluídas.
Grande parte da água subterrânea também tem a vantagem de ser naturalmente pura, de excelente qualidade, dispensando tratamentos prévios. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Brasil as reservas de água subterrânea são estimadas em 112 mil km cúbicos e abastecem cerca de 61% da população para fins domésticos (6% se auto-abastece das águas de poços rasos, 12% de nascentes ou fontes e 43% de poços profundos).
O geólogo e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Ernani Francisco da Rosa Filho, ressalta que nos últimos dois anos é que as discussões sobre o aproveitamento das águas subterrâneas passaram a ganhar ênfase. Segundo ele, no Paraná a utilização era uma solução paliativa para cidades de pequeno porte, ?mas hoje se sabe que temos reservas para atender cidades de grande porte?, disse o geólogo, acrescentando que para isso é preciso ter investimentos em pesquisa e vontade para colocar os projetos em prática.
Um dos grandes exemplos desse potencial é o Aqüífero Guarani, um dos maiores do mundo, que cobre uma superfície de quase 1,2 milhão de km quadrados, com aproximadamente 46 mil km cúbicos de água. Ele abrange quatro países: Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina – 70,2% de sua extensão está em solo brasileiro, estando presente em oito estados, inclusive o Paraná. (RO)