Cássio critica governo.

O projeto para a construção do metrô em Curitiba foi abortado por falta de recursos. Os US$ 343 milhões que seriam investidos na obra ? 80% assegurados pelo Japan Bank for International Cooperation (JBIC), contratado pelo governo federal ?, não serão mais liberados. Segundo o prefeito Cássio Taniguchi, a culpa é do governo federal, que demorou para firmar um acordo com o governo japonês.

A Prefeitura pretendia implantar trens elétricos que correriam em trilhos elevados sobre colunas de concreto. O metrô elevado ligaria Curitiba a outros municípios Região Metropolitana, criando um novo eixo na cidade ao longo BR-116. O argumento principal da Prefeitura para o projeto era desafogar o atual transporte, que chega a 1,1 milhão de passageiros por dia.

Em abril, a Prefeitura divulgou que o consórcio formado pelas empresas TCBR, Dalcon e Vega venceram a licitação para executar o projeto do metrô de Curitiba. O consórcio receberia R$ 5,821 milhões pela obra, tendo um prazo de 45 dias, a partir da assinatura do contrato, para entregar o projeto básico, sessenta dias para concluir o estudo e relatório de impacto ambiental) e 210 dias para terminar o projeto executivo. A previsão era iniciar a construção do metrô em 2003.

Projeto polêmico

A implantação do metrô em Curitiba gerou polêmica desde o início da sua divulgação. Alguns vereadores questionaram a validade da obra, e a falta de uma discussão ampla com a sociedade sobre o assunto. Os valores que seriam empregados também foram considerados elevados por técnicos e especialistas.

O diretor da Logitrans ? Logística e Transporte ?, engenheiro civil Garrone Reck voltou a afirmar ontem que o projeto estava fora da realidade de Curitiba, pois com muito menos recursos era possível aproveitar o sistema já existente. Ele disse que já tinha informações que o projeto não seria mais executado pela Prefeitura, e não sabe porquê a consultoria foi levada adiante até agora. “Não me surpreendo com a notícia, pois a Prefeitura sempre se omitiu em debater tecnologia e plano de transporte desse projeto”, disse o engenheiro. Ele defende que soluções mais simples como mesclar o transporte dos biarculados com o ligeirinho em vias exclusivas seria uma alternativa. “Seria um serviço expresso com parador, que além de dar mais agilidade ao transporte, também descongestionaria o tráfego nas vias rápidas”, disse Reck.

Soluções como essa foram implantadas em Bogotá. Lá existem corredores com duas faixas de circulação de ônibus, onde só um corredor chega a transportar 700 mil passageiros por dia. A implantação desse sistema custou R$ 5 milhões o quilômetro. Esse valor, comenta Garrone Reck, está muito abaixo dos R$ 25 milhões por quilômetro que a Prefeitura pretendia gastar com o metrô para transportar 12 mil passageiros/hora. “Com 10% desse valor, seria possível implementar um sistema eficiente com a mesma capacidade de passageiros”, finalizou.

Contrato era vantajoso, diz prefeito

Elizângela Wroniski

Em entrevista coletiva concedida ontem, o prefeito Cássio Taniguchi revelou que representantes do Japan Bank for International Cooperation estiveram em Curitiba na última sexta-feira e comunicaram que a esta altura o financiamento era inviável. De acordo com Cássio, o acordo comercial era vantajoso para o país, já que poderia ser pago em quarenta anos com juros de 1% por ano. Outras formas de financiamento foram sugeridas, mas nenhuma se comparava a primeira alternativa.

Cássio diz que o governo demorou três anos para dar uma resposta. Para ele o tempo de decisão poderia ser sido menor se todos os parlamentares tivessem colaborado. “Nos outros estados, todos vão pressionar o governo”, alfineta.

O prefeito afirma que a idéia do metrô não será esquecida e se estudará a possibilidade de financiar o projeto junto a outros investidores como o Banco Mundial e o Banco Interamericano. “Precisamos buscar alternativas mais baratas e a longo prazo para manter a tarifa”, explica.

O Ippuc vai apresentar em duas semanas algumas propostas para o transporte coletivo da cidade. No lugar do metrô, por enquanto, a BR-116 deve ganhar uma linha de ônibus articulado ou biarticulado, já que é um importante eixo de ligação entre os bairros das zonas norte e sul e ainda com outros municípios metropolitanos. Por ela circulam cerca de 180 mil passageiros diariamente.

Licitação

Em maio deste ano, a Prefeitura havia aberto o processo de licitação para contratar a elaboração do projeto executivo do metrô, que seria utilizado na negociação com o governo japonês. A empresa vencedora foi o consócio TCBR-DalconVega, mas o trabalho não chegou a ser executado, porque não houve a ordem de emissão do serviço. Deste modo os R$ 5,8 milhões originários do orçamento da União, já liberados, não foram usados.

De acordo com o presidente do Ippuc, Luiz Hayakawa, a emissão do serviço fica suspensa até que seja definido o projeto do metrô. “Se a alternativa encontrada pelo Ippuc mudar substancialmente o escopo da proposta original, a licitação poderá ser mantida e o contrato com o consorcio continua válido. Caso contrário será necessário anular a licitação e realizar nova concorrência”, afirma.

Vereadores pedem explicações

A bancada da oposição da Câmara Municipal encaminhou e protocolou, na sessão de ontem, requerimento ao prefeito Cássio Taniguchi, pedindo para que ele compareça à Casa e dê maiores explicações sobre a suspensão do projeto do metrô elevado em Curitiba. Para os vereadores, muitas questões relacionadas à suspensão estão obscuras, principalmente aquelas relacionadas ao valor já aplicado pela Prefeitura na elaboração do projeto.

“Queremos saber o que já foi feito até agora, qual o valor gasto, quem pagou ? a União ou o município ? e quais as conseqüências”, comentou o vereador André Passos (PT). Segundo ele, é preciso também estudar alternativas, já que o projeto inicial não deve mais sair do papel. “No primeiro semestre, a bancada da oposição promoveu um seminário com vários consultores internacionais”, lembrou. “Na ocasião, foram discutidas as melhores alternativas de transporte que poderiam ser aplicadas em Curitiba, mas o prefeito sequer compareceu.” O vereador disse que a oposição está assustada com a suspensão do projeto, e não é só a bancada da oposição. “Parece que a prefeitura está um pouco perdida”, comentou.

O líder da oposição na Casa, vereador Marcelo Almeida (PMDB), lembrou que desde o início foi contra o projeto. Segundo ele, a iniciativa não iria retirar o excesso de veículos do trânsito, nem beneficiar quantidade significativa da população. “Não seria a melhor solução para 2002, 2003 nem 2004”, comentou. Para o vereador, agora é o momento de discutir outras alternativas para o transporte da capital. “Nosso segundo passo é promover o Seminário Curitiba 2010, para discutir como deve ficar com o aumento de veículos, as estruturas, o problema das ciclovias, dos pedestres”, afirmou.

Desnecessário

Para o líder do prefeito na Câmara, vereador Mário Celso Cunha (PSB), a iniciativa da bancada da oposição em pedir a presença de Cassio para prestar esclarecimentos sobre a suspensão do projeto tem caráter político e não visa ao esclarecimento. “Repetir o que ele já falou à imprensa, o que eu já falei na Câmara, é desnecessário”, afirmou o líder do prefeito. Segundo ele, a prefeitura vai buscar novas alternativas, e em dez dias deve ser elaborado um novo projeto, “dentro da viabilidade técnica e financeira”.

A Câmara Municipal já havia aprovado a transferência de R$ 17 milhões para poder a elaboração do estudo de planejamento técnico do metrô. Desse montante, estima-se que R$ 5,8 milhões tenham sido gastos. (LS)

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