A sempre movimentada Marechal Deodoro ficou num marasmo quase nunca visto. |
Quem andou pelo centro de Curitiba, ontem pela manhã, percebeu uma sensível redução no número de veículos circulando. Foi a primeira vez que a capital participou da campanha Dia sem Carro, uma iniciativa que começou há seis anos na França e hoje tem a adesão de duas mil cidades no mundo ? cerca de cinqüenta no Brasil.
A adesão dos motoristas ao Dia sem carro superou a expectativa inicial da Prefeitura. Medição feita em oito pontos da área central de Curitiba indicou que a jornada retirou 42% dos 227 mil veículos de passeio que normalmente circulam na região às segundas-feiras. Segundo a Diretran, órgão responsável pela orientação e fiscalização do trânsito na cidade, cerca de 95 mil veículos de passeio deixaram de circular pelas ruas. “Nossa expectativa era de retirar 30% da frota de automóveis do centro”, afirmou o prefeito Cássio Taniguchi.
A Secretaria Municipal da Comunicação Social informou que a média diária de queixas sobre problemas no trânsito ao telefone 156, da Prefeitura, é de cinqüenta. Ontem, foram registradas apenas sete reclamações.
Uma medição do nível de ruído feita por equipe da Secretaria Municipal do Meio Ambiente na esquina das avenidas Marechal Floriano e Marechal Deodoro mostrou que, às 10h40, foram registrados 70 decibéis. No último dia 17, em horário idêntico, foram medidos 75 decibéis. A redução foi considerada significativa. Em alguns momentos da manhã, o nível chegou a 60 decibéis.
Perto dali, na esquina da Marechal Floriano com a Quinze de Novembro, funcionários do instituto de pesquisa Lactec estão trabalhando em uma estação de monitoramento da qualidade do ar. O trabalho começou às 19h do dia 18 e termina às 19h de hoje. Com isso, eles terão dados de dias normais, do “Dia sem Carro” e de um dia depois dele.
Exemplo
Para dar o exemplo, o prefeito Cássio Taniguichi seguiu de ônibus até a Prefeitura. Ele pegou a linha Interbairros I, na Avenida Manoel Ribas, nas Mercês, e ? como não poderia deixar de ser ? disse ter achado a experiência “muito válida”. “De carro faço esse trajeto em 8 minutos”, conta. “De ônibus levei 15 minutos. É uma diferença que valeu a pena pois é bem mais tranqüilo. Sempre que puder vou repetir.” Cássio disse que a iniciativa de deixar o carro em casa deve servir como uma reflexão para as pessoas se conscientizarem que é necessário andar em ruas mais tranqüilas e menos poluídas.
Sete quilômetros quadrados de área no centro da cidade foram fechados durante todo o dia. As 72 quadras do anel central se somaram a outras catorze bloqueadas em quatro bairros. O trânsito no anel central estava liberado apenas para ônibus e taxis, e quem precisou passar pelos pontos de bloqueio, teve que dar explicações para os agentes da Diretran (Diretoria de Trânsito). Apesar do inconveniente, não foram registrados tumultos. Com isso, algumas entregas que precisavam ser feitas no comércio central foram atrasadas.
Adesão
Para atender a demanda de passageiros esperada nesta segunda-feira, a Urbs colocou em circulação 135 ônibus extras, que se somaram a frota de 2.200 coletivos que rodam por Curitiba. Em algumas linhas houve registro de até 40% a mais no movimento, porém em outras, não foi tão expressivo. “Se chegar a 20% será muito. Talvez no fim da tarde o movimento possa crescer”, disse o motorista César Daguetti, que faz a linha Água Verde?Juvevê.
Os motoristas de taxi também não registraram um crescimento significativo no número de corridas. De acordo com o taxista Alex Santos a previsão era passar de dezesseis para no máximo vinte corridas no dia.
Quem sentiu a diferença do Dia sem Carro foram os estacionamentos particulares. Nos localizados fora da área de bloqueio o movimento caiu 50%, mas nas áreas onde o trânsito estava fechado a queda foi de 100%. É o caso do estacionamento Tacla, que fica na Rua Marechal Deodoro. Os funcionários informaram que o local recebe em média trezentos veículos por dia, mas nesta segunda-feira o movimento foi nulo.
Apenas dois vereadores aderiram
Apenas dois vereadores de Curitiba decidiram aderir ao dia sem carro. Mário Celso Cunha (PSB) deixou o carro em casa e foi para a Câmara Municipal de bicicleta. “Mais do que um resultado prático, a campanha serviu como reflexão para a necessidade de nos preocuparmos cada vez mais com a poluição do ar, onde a concentração de monóxido de carbono e fumaça representa, a cada dia que passa, maior ameaça à nossa saúde”, opinou.
O vereador André Passos (PT) também usou a bicicleta como veículo e cumpriu toda sua agenda com ela. Seu primeiro compromisso foi uma reunião no Museu Oscar Niemeyer, e de lá ele seguiu para a Câmara. “Essa é uma campanha que incentiva a população viver a cidade através de outras alternativas, contribuindo assim para a melhoria das condições ambientais”, comentou.
Cerca de 250 servidores e juízes da Justiça Federal de Curitiba aderiram à campanha. Os juízes Nicolau Konkel Júnior (diretor da Justiça Federal do Paraná), João Pedro Gebran Neto (vice-diretor) e Fernando Quadros da Silva (ex-diretor) chegaram ao local de trabalho de bicicleta. (Fabiane Prohmann)
População participou da iniciativa
Se por uma lado o movimento de carros diminui no centro da cidade, a circulação de pessoas aumentou, principalmente na Rua Quinze de Novembro e Praça Santos Andrade, onde havia atividades desenvolvidas pela Prefeitura e universidades. Em algumas barracas havia filas de pessoas para verificar a pressão arterial ou nível de colesterol.
As pessoas também aproveitaram para levar para casa mudas de flores e árvores frutíferas. O aposentado Edson Furtado foi um deles. Ele garantiu que aderiu o Dia sem Carro, e veio da Boa Vista até o centro de ônibus. “Eu geralmente faço isso, porque é mais barato e mais tranqüilo”, disse.
O gerente de informática Fernando Rossi também deixou o carro em casa e foi trabalhar de ônibus. Como é de São Paulo, disse que já conhecia essa iniciativa e resolveu apoiar o movimento no Paraná.
A dona-de-casa Marilei Barreto, que não tem carro, apoiou a idéia e disse ter achado que o ar estava mais leve. “A gente se sente até melhor”, opinou. A vendedora Neiva Carneiro também elogiou a iniciativa e disse que isso poderia acontecer uma vez por semana.
(Politicagem)
Já o inspetor de ensino José Francisco de Lima disse que a iniciativa não passava de uma promoção dos políticos. Ele, que há mais de 20 anos adotou a bicicleta como meio de transporte, disse que prefere pedalar a pagar pelo transporte coletivo e não ter o retorno do benefício de volta. “A gente paga imposto, passagem de ônibus, e tantas outras coisas e não vê esses políticos fazerem nada pela gente”, reclamou. (RO)