Os transplantes de ossos ainda são muito pouco divulgados no Brasil. Em função disso, o número de doadores no País é considerado pequeno. Enquanto nos Estados Unidos são realizadas cerca de 12 mil doações de ossos de cadáveres anualmente, por aqui são feitas, em média, cinqüenta a cada ano.
Para mudar essa realidade, o Ministério da Saúde está realizando uma campanha com o objetivo de alertar as pessoas sobre a importância de serem doadoras. No Paraná, a iniciativa é encabeçada pelo Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba, que possui um dos seis bancos de tecidos músculo-esqueléticos (ossos, cartilagens, peles e ligamentos) brasileiros autorizados pelo Sistema Nacional de Transplantes (SNT) a captar, transportar, preservar, esticar, fazer controle de qualidade e fornecer tecidos para transplante.
"O banco do HC, dos seis existentes, é o que realiza o maior número de procedimentos. Em 2004, foram 537 pessoas operadas em diversas regiões do País a partir de tecidos processados no Paraná. Em 2005, esse número aumentou para 926", comenta o diretor médico do Banco de Tecidos Músculo-esqueléticos do hospital, Paulo Alencar. "O número de doações vem crescendo ao longo dos últimos anos, mas ainda é considerado pequeno. Em 2004, foram dezesseis. No ano passado, 38."
Ontem, o banco realizou a quarta captação de 2006. O recolhimento de material é realizado em todo o Estado. Quando surge um doador cadáver, a Secretaria de Estado da Saúde é comunicada e, por sua vez, entra em contato com o HC. Integrantes do banco ligam para a instituição onde houve o falecimento e analisam se a doação é possível. Caso seja, uma equipe especializada, composta por quatro pessoas, é enviada ao local para fazer a captação.
Após passar por triagem e tratamento, que entre outras coisas elimina riscos de rejeição ao receptor – neste tipo de transplante não é necessário que seja analisada compatibilidade sangüínea -, os ossos doados são armazenados em freezer com temperatura de -85ºC. Eles podem ser utilizados na forma original ou em pequenos fragmentos, nas áreas de ortopedia, odontologia, neurocirurgia, cirurgia crânio-facial e oncologia. Os ossos de um único doador podem beneficiar entre trinta e 35 pacientes, geralmente vítimas de perdas ósseas provocadas por tumores, trocas de próteses articulares, problemas odontológicos, entre outros problemas.
Para que a doação seja realizada, precisa haver autorização da família do doador. Além do desconhecimento sobre a possibilidade de doação, muita gente deixa de realizá-la por acreditar que o procedimento irá fazer com que o doador não tenha sua aparência preservada para o velório. Segundo Paulo, a idéia é falsa. Geralmente são retirados ossos apenas de braços e pernas. Para que não haja deformações, tudo é recomposto com próteses sintéticas. Mais informações sobre doações de órgãos e tecidos podem ser obtidas através do disque-saúde (0800-61-1997) ou do portal www.saude.gov.br/transplantes.