A condição insegura da ponte sobre a represa do Rio Verde, que faz ligação entre Araucária e Campo Largo, parece um problema sem solução. Apesar do alerta, feito pelos Caçadores de Notícias da Tribuna, no fim de julho, sobre o risco evidente de queda, o esperado se confirmou por volta das 10h30 desta quinta-feira (18), quando um caminhão betoneira despencou no meio da ponte e ficou quase submerso na represa. O motorista recebeu ajuda de populares para sair da cabine. Ele foi levado de ambulância para um posto de saúde em Araucária, fora de risco.
Estrutura de madeira construída nos anos 70, com apoio da Petrobras e entregue ao poder público, a manutenção virou empurra-empurra entre as prefeituras dos dois municípios, que dividem a responsabilidade e não conseguem encontrar uma saída definitiva. Desde 2005, a Tribuna denuncia o estado precário da ponte e registra acidentes que lá ocorreram.
Proibido
Com relação ao acidente de ontem, as prefeituras ressaltaram que a ponte não poderia ter sido usada por caminhões. A passagem é reservada apenas para moradores da região e não deve ser usava como principal ligação entre os municípios, muito menos para transporte de carga. O caminhão que caiu pertence à empresa Engemix, e vai precisar ser puxado com guindaste até a borda da represa, para então ser retirado da água, porque a estrutura da ponte não suporta o equipamento. A retirada ainda não tem previsão para acontecer.
Por causa do longo tempo de uso, a construção, que tem 218 metros de extensão, requer reparos frequentes, mas que têm efeito temporário. Fendas de quase cinco metros voltam a aparecer, aumentando o perigo na travessia. Foi uma destas aberturas que atrapalhou o caminhoneiro, que ao tentar desviar do buraco, puxou demais para direita, as tábuas quebraram e o veículo caiu.
Mesmo com grandes placas amarelas informando sobre o perigo da travessia de veículos longos e pesados, fixado em casa extremidade da ponte, o motorista tinha atravessado, minutos antes, carregado de concreto. Entregou a carga na obra da estação de captação de água da Sanepar, na margem de Araucária, e quando retornava para Campo Largo, sofreu a queda. O aviso alerta que a ponte tem avarias e recomenda que apenas veículos leves passem pela estrutura, um de cada vez.
Depois do acidente, funcionários das duas prefeituras interditaram a ponte dos dois lados. Ela ficará fechada até que sejam feitos reparos. Para que isso aconteça, é necessária uma reunião entre os secretários de obras dos municípios.
Falta grana pra arrumar travessia
As duas administrações alegam não ter dinheiro para construir uma ponte nova, de concreto. Até mesmo para fazer o conserto existe dificuldade financeira, informaram por meio de suas assessorias de imprensa. Como Araucária tem maior arrecadação, a prefeitura de Campo Largo estuda propor que o vizinho pague os reparos, em contrapartida, ofereceria a
manutenção.
A assessoria de Araucária informou que a prefeitura já está com a verba do ano comprometida, principalmente com a folha de pagamento dos servidores, e não poderá arcar com os gastos sozinha. Para uma solução definitiva, as prefeituras alegaram que será necessário captar dinheiro de esferas superiores. Mas as soluções serão discutidas em reunião, que deverá ter a data adiada por causa da troca do secretário de obras de Araucária, na semana passada.
Pescadores
Enquanto a passagem de veículos fica impedida, quem vai usar a ponte nos próximos meses são somente os pescadores. Os aposentados Gilberto Thomaz, 69 anos, e Mário Novicki, 65, costumam pescar todos os dias no local. Eles saem de Santa Felicidade e armam cadeiras de praia na beira da ponte para jogar a linha e desenrolar longa conversa enquanto aguardam a chumbada baixar co,m peixe fisgado.
“Eu já vi carro, trator e caminhão cair dessa ponte. A madeira não aguenta e os buracos vão abrindo. Ultimamente, tem sido segura apenas para pescar. Uma pena esse caminhão ter caído, espantou todos os peixes”, brincou Mário. “Uma vez, a gente viu o carro cair e o motorista morreu afogado”, lembrou Gilberto. Se por um lado vai ficar ruim para os moradores, que precisarão fazer desvio de vários quilômetros, para os aposentados a pescaria vai ser mais tranquila. Confira a reportagem publicada na época.