Elas são conhecidas Brasil afora, já viraram temas de crônica, possuem uma reputação nada boa e são constantemente criticadas pela população. São as calçadas de Curitiba, um dos poucos destaques negativos da capital paranaense.
Entretanto, essa má fama aos poucos vai sendo superada. A Prefeitura de Curitiba está adequando, recuperando e implantando calçadas na cidade por meio do projeto Caminhos da Cidade. Essa idéia tem como objetivo melhorar as calçadas conforme o bairro e o tipo de uso, além de garantir acesso adequado aos portadores de necessidades especiais.
Segundo o secretário municipal de urbanismo, Luiz Fernando Jamur, a Prefeitura decidiu enfrentar a questão das calçadas por acreditar que se trata de uma questão de interesse público e com medidas a curto, médio e longo prazo, Curitiba terá calçadas que garantam conforto e segurança.
Em alguns pontos no Centro, como na Rua Marechal Deodoro, o antigo piso de petit pavê foi substituído pelo calçamento em paver, considerado mais seguro e mais durável.
“O Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) realizou um levantamento no centro da capital e constatou que metade das calçadas era em petit pavê e a outra metade em lousa (pedra em tamanho 20×20). Como esses materiais são, de uma certa forma, polêmicos, resolvemos trocar esse piso por paver e vibro prensado, que são muito mais seguros. O resultado tem sido positivo”, revela Ariel Stelle, arquiteto do Ippuc.
Stelle comenta que a má execução de uma obra é o que mais influencia na construção de uma calçada. “Engana-se quem pensa que é apenas o material utilizado o responsável pela falta de qualidade em uma calçada. O maior problema verificado é quando a sub-base não foi bem compactada. Quando isso ocorre, essa sub-base se movimenta e, conseqüentemente, o material utilizado acaba se mexendo e se soltando. Esse contratempo incide principalmente quando há obras públicas.”
Apesar da readequação do calçamento, alguns pontos da cidade não poderão sofrer mudanças. Stelle explica que em algumas áreas, como as Praças Santos Andrade, Ozório, Eufrásio Correia, João Cândido e na Rua XV, o piso não poderá ser alterado por se tratar de patrimônio histórico da cidade.
“Para se mexer nesses lugares, teria que haver primeiro uma conversa com a Secretaria de Estado da Cultura, Fundação Cultural de Curitiba, entre outros órgãos ligados à preservação da cultura. A Prefeitura não pode simplesmente ir trocando as calçadas nesses lugares.”
De acordo com dados do Ippuc, Curitiba tem 4.500 quilômetros de rua, dos quais 3 mil são pavimentados e 1.500 não são pavimentados. Há aproximadamente 6 mil quilômetros de calçadas. Piso em petit pavê representa menos de 1% dos calçamentos e é também o mais caro, segundo o Ippuc, custando R$ 40 por metro quadrado.
O paver custa R$ 36 por metro quadrado (seis centímetros de espessura) e R$ 40 (oito centímetros de espessura). As lajotas (mais comuns nos bairros) de cinco centímetros de espessura saem a R$ 30 por metro quadrado. O mais barato é o Concreto Betuminoso Usinado a Quente (CBUQ), mais conhecido como asfalto, que sai a R$ 16 por metro quadrado, com quatro centímetros de espessura.
A Prefeitura informa que o responsável pela construção e manutenção das calçadas, quando a rua for pavimentada, é de responsabilidade do proprietário do terreno.
Deficientes comemoram
“A situação tem melhorado bastante com essas obras de troca de calçadas, mas ainda precisa melhorar mais”. Quem atesta isso é o presidente da Associação dos Deficientes Físicos do Paraná (ADFP), Mauro Nardini.
Segundo Nardini, os pavimentos em paver e vibro prensado respeitam as normas de acessibilidade aos deficientes. “Fica muito mais ,fácil para a gente se locomover nesse tipo de calçada. Acredito que em alguns anos, Curitiba estará adequada em garantir acesso total aos deficientes físicos”, afirma.
Ele também diz que é comum acontecerem acidentes com essas pessoas em pisos de petit pavê e de lousa. Nardini comenta que em dias de chuvas, fica praticamente impossível de se andar nessas calçadas. “Eu mesmo já tive problemas por causa desse chão. A gente percebe que isso atrapalha nossa gente e costuma ter pequenos acidentes.”
A opinião de Nardini também é compartilhada pelos idosos de Curitiba. Para o médico Evaldo Macedo, os novos pisos facilitam e impedem incidentes com pessoas de mais idade.
A aposentada Maria do Carmo também enaltece as novas calçadas e critica os pisos de petit pavê porque já sofreu acidentes devido aos buracos nas calçadas. Além de deficientes físicos e idosos, as mulheres têm um histórico de problemas com as calçadas curitibanas. De acordo com a estudante Aline Paulo, andar de salto é uma tarefa impossível, pois é comum de quebrar o salto.