O estado das calçadas por onde circulam os pedestres foi o tema principal do 8.º Encontro Municipal de Segurança no Trânsito, realizado ontem, na Câmara Municipal de Curitiba. A inexistência ou a má conservação delas vem sendo apontada como uma das principais causas tanto de incidentes corriqueiros, como tropeços, até os graves atropelamentos. Segundo o consultor do BID em planejamento e engenharia de tráfego e transporte, Phillip Gold, uma pesquisa do Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas e Aplicadas), feita no ano passado, com 2 mil pessoas de São Paulo, apontou que 6% da população já havia caído ou sofrido algum tipo de acidente nas calçadas.
Embora 6% possa parecer pouco, em Nova Iorque este índice é de 0,1%. Phillip, especialista em segurança viária, defende que a Prefeitura assuma a responsabilidade sobre as calçadas. Dessa forma, ele acredita que é mais fácil padronizar o espaço, evitando trechos irregulares e com níveis. ?A calçada é o espaço onde toda a população caminha a pé ? e onde a cidadania começa a ser respeitada?, define.
Phillip Gold sugere que o custo das calçadas, assim como acontece com antipó e asfalto, seja rateado com os moradores, a exemplo do que acontece na Inglaterra. Como é a comunidade responsável pela calçada em frente à sua casa, é comum em uma mesma quadra encontrar diferentes tipos de calçamento. Esta ?salada mista?, como define o vereador Marcelo Almeida, contribui para aumentar os desníveis e degraus, pondo o pedestre em situações de risco.
O pior é que não há fiscalização. Por isso uma das propostas apresentadas no evento foi a criação de um departamento de gestão de calçadas ? um local onde as pessoas pudessem denunciar buracos abertos por empresas e que não são fechados pelas empresas, colocação irregular de caçambas e avanços de construções levam o pedestre a andar na pista de rolamento. Em Curitiba, há seis pisos de calçadas: concreto pré-moldado; dois tipos de concreto betuminoso usinado a quente (ciclovias e pistas de caminhadas); placas de concreto; lousa de basalto e granito; e o petit pavê. Segundo Phillip, os piores tipos são os dois últimos, que mesmo bem feitos, causam ondulação e perdem linearidade. A melhor calçada, diz ele, é aquela feita com concreto pré-moldado e emendada com rejunte. Muitas pessoas usam grama, que não é segura. Segundo ele, a calçada que oferece segurança e conforto tem que ser horizontal, não derrapante e sem buracos e declínios.
Ciclovia para deficiente
Representantes da Associação dos Deficientes Físicos do Paraná (Adfp) também estiveram presentes no 8º Encontro Municipal de Segurança no Trânsito. O presidente da Associação, Nivaldo Menin, concorda com a padronização das calçadas, mas diz que para os deficientes físicos o ideal seria fazer paralelo uma espécie de ciclovia para facilitar a circulação de pessoas que usam cadeiras de rodas e muletas. ?Basta a Prefeitura seguir a norma da ABNT NBR90/80, que é a legislação para os portadores de deficiência?, afirma.
Para Menin, é preciso maior participação das entidades na elaboração de projetos relacionados ao trânsito. A falta de troca de experiências reflete na realização de obras que não são funcionais.Um exemplo é a entrada dos deficientes nos Ligeirinhos ocorre no fundos do ônibus, onde o motorista tem menos visibilidade. (JM)