Animais maltratados em Curitiba vão continuar a sofrer nas mãos de criadores despreparados. Apesar de a fiscalização existir e multas e autuações serem feitas, a falta de um espaço para estes animais, impulsionada pela morosidade da Justiça, faz com que eles permaneçam no mesmo local por mais dias. A alta procura por este mercado alimenta o bolso de criadores ilegais, que criaram uma rede articulada para reproduzir e vender filhotes de várias raças. Em muitos casos, cadelas usadas como matrizes são exploradas até a exaustão, enquanto o número de cães na capital é o dobro do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

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Um exemplo é o caso dos 119 cães, de 11 raças diferentes, encontrados em situação inadequada em um pet shop do Boa Vista, anteontem, e que não têm prazo para ser removidos. Instalações precárias, falta de acompanhamento profissional e a reprodução de animais para comercialização, que é proibida em Curitiba pela Lei Municipal 13914/11, fizeram com que os donos do canil clandestino fossem multados em R$ 200 mil pela Prefeitura, além de ser autuados por maus-tratos pela Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA).

Depositários

Não há expectativa de quando os animais, entre eles 58 filhotes, serão transferidos, nem para onde. Os donos apenas assinaram termo circunstanciado e vão responder em liberdade. No máximo, serão submetidos a medidas socioeducativas, porque este tipo de crime é tratado como de “menor potencial ofensivo” e existe a possibilidade de ficarem com a guarda dos cães, já que entraram com processo na Justiça para serem considerados “fiéis depositários” dos animais.

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Representantes da Sociedade Protetora dos Animais de Curitiba (SPAC), temem que o caso tenha o mesmo fim do canil clandestino encontrado pela polícia em Campo Largo, no dia 13. Dias depois, os 60 animais sumiram do local, parte foi levada para o pet shop do Boa Vista.

“Ontem fizemos um novo pedido ao Ministério Público para auxiliar na liberação da remoção dos cães, mas estamos aguardando resposta. Os animais foram contados e catalogados. Se algum deles sumir, os donos do pet shop serão responsabilizados”, declarou Soraya Simon, da SPAC. O uso de animais para venda deixou Soraya preocupada. “Ficou claro que não adotavam os animais para cuidar como deve ser. Eram apenas mercadoria”, disse.

Burocracia

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O diretor do Departamento de Pesquisa e Conservação da Fauna da Secretaria de Meio Ambiente, Alexander Biondo, explicou que os donos tinham apenas alvará de pet shop. “A criação comercial de animais em Curitiba é proibida. Ainda foram encontrados animais com tumor nos olhos, desnutridos, em local sem condições de higiene e sem acompanhamento de veterinário”, declarou Biondo.

Michele Basso, a proprietária do pet shop, disse saber que estava trabalhando de maneira ilegal e alegou ter que passar por muita burocracia para regularizar o negócio. “Faz anos que estamos no ramo e desde que a lei que proíbe a comercialização entrou em vigor, em 2011, estou tentando regularizar tudo, mas precisa de muito investimento”, afirmou em entrevista à Tribuna. Ela contou que está construindo novas instalações em uma chácara na região metropolitana e que, se conseguir ficar com os cães, irá levá-los para este endereço.

Matrizes desgastadas

Os dois principais problemas identificados pela SPAC neste tipo de caso foram a procriação desenfreada para comércio e a ligação entre donos de canis clandestinos, configurando uma rede de exploração ilegal de animais. “A polícia corre e fecha um canil e os animais são levados para outro, antes mesmo de serem resgatados para serem colocados para adoção”, apontou Soraya.

Segundo ela, nesse tipo de canil é comum encontrar vários filhotes em boas c,ondições, mas cães adultos em péssimo estado de saúde. “Eles são tratados como matrizes e forçados a se reproduzirem até a exaustão. Houve casos de encontrarmos cadelas com tumores nas mamas e altamente desnutridas de tanto amamentar”, descreveu a ativista.

Mundial

Esta prática, além de ilegal, vai contra a orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS), que, preocupada com a grande população de cães, estimula programas de castração. Segundo dados da SPCA, em Curitiba, existe um cão para cada quatro habitantes, enquanto a recomendação da OMS é de um cão para cada dez pessoas, para que haja controle de zoonoses (doenças transmitidas por animais) mais eficaz.

A SPCA conta com 900 animais para adoção, entre cães, gatos, pássaros e cavalos. Curitiba tem cerca de 450 mil cães, destes 49% têm donos responsáveis.